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Sinopse

O advogado Elliot Anderson acaba de perder sua esposa em um acidente de carro. Os dois criavam, juntos, a neta Eloise, já que a mãe da menina morreu no parto. Enquanto luta com sua dor, ele recebe a visita inesperada da avó paterna da garota, Rowena, que exige que a neta seja criada pelo pai, Reggie, um viciado em drogas, cuja negligência faz Elliot culpá-lo pela morte de sua filha. Agora, os avôs de Eloise vão entrar em uma luta pela guarda da criança.

Crítica

Se no original o título oferece duas opções – “black OR White” – em português a tradução foi mais conciliatória: Preto e Branco. Assim, um ao lado do outro, convivendo juntos. Este, afinal, é o desejo da pequena Eloise (Jillian Estell, de Um Presente Perfeito, 2013), garota negra que mora com o avô materno – e branco – Elliott (Kevin Costner), mas que tem sua guarda disputada pela avó paterna – e negra – Rowena (Octavia Spencer). Como se percebe, a questão racial está no cerne do argumento escrito e dirigido por Mike Bender, que afirma ter se inspirado em um caso real. E se estereótipos podem ser esperados – e, de fato, os encontramos – durante todo o desenrolar da história, ao menos eles são tratados sem exageros, evitando justamente o 8 ou o 80, ou seja, o preto ou o branco, e apostando em tons de cinza intermediários muito mais convidativos.

Antes de mais nada, é importante entender a logística por trás das ligações destes personagens. Elliott e Carol (Jennifer Ehle) são pais de uma jovem que acaba se apaixonando por um cara mais velho, Reggie (André Holland, de Moonlight, 2016). Para eles, o problema não é a filha ter se envolvido com um rapaz de outra raça ou a diferença de idade entre eles, mas, sim, o histórico dele, tendo se envolvido no passado com drogas e outras atividades condenáveis. Mesmo assim, os dois fogem assim que ela engravida. Porém, complicações na hora do parto acabam vitimando a mãe, e, sem saber o que fazer com a recém-nascida, o pai de primeira viagem decide fugir, não sem antes abandonar a filha com os avós maternos, que assumem sua criação. Uma década se passa sem notícias dele, até que um acidente de trânsito tira a vida da avó. Elliott está mais sozinho do que nunca, ou ao menos assim ele pensa. Pois agora, neste ponto em que passamos a acompanhá-los, Wee-wee (apelido de Rowena) entra em cena. Ela não só está certa de que o filho está recuperado, como também acredita que a neta estará melhor em uma casa cheia, ao lado de tios e primos, e, principalmente, negros como ela, do que sozinha com um avô que, supostamente, não entende sua condição racial.

Como se percebe, o tema não é simples. Afinal, qual dos dois lados é mais preconceituoso? Aquele que afirma que “brancos não podem criar negros”, ou o que parece dizer que “brancos podem oferecer uma melhor criação do que negros”? No entanto, com o desenrolar dos fatos, percebemos que nada é tão definitivo assim. E isso é o melhor do enredo de Binder. Tanto Elliott quanto Wee-wee querem, no fundo, o melhor para a menina – só precisam se entender a respeito. Há o problema dele beber – o que se agrava com a morte da esposa – mas, por outro lado, ele também dá a entender que esta determinado a se recuperar, procurando ajuda e mudando, lentamente, seus hábitos. Nenhum dos lados fecha a porta ao outro, e Eloise é tratada com imenso carinho por ambos. Com o avô, ela tem um quarto só seu, uma casa maior e as amigas de uma escola que já conhece e está habituada. Ela quer, claro, conviver com o pai, mas estaria, esse, de fato, pronto para assumir tal compromisso?

Costner e Spencer se encontraram novamente em Estrelas Além do Tempo (2016), um filme superior a esse, mas tão bem intencionado quanto. Porém, se neste drama que chegou a concorrer ao Oscar os dois não chegaram a se encontrar muitas vezes em cena, aqui a situação é diferente. Não que sejam melhores amigos, pelo contrário: com tantos desentendimentos, acabam em um tribunal. Deste momento em diante, se estabelece a velha dinâmica de filmes do gênero, com podres sendo revelados e mudanças de última hora estabelecendo o andar das coisas. Aqui o elenco ganha a presença de Anthony Mackie como o advogado de acusação, irmão de Wee-wee e tio de Reggie – ele é bruto, direto, nada condescendente, mas também tem seus pontos fracos. E no meio disso tudo está a juíza Cummins (Paula Newsome, de Pequena Miss Sunshine, 2006), que apesar da cor da pele não deixa transparecer em nenhum momento para qual lado está pendendo, mantendo uma postura sóbria e ajustada sobre o caso que tem em mãos.

Se Octavia é sempre uma presença forte, talvez a surpresa seja mesmo ver como Costner consegue construir um personagem altivo, mesmo passando por situação tão complicada. Ele, que já havia tido uma das suas melhores atuações no drama A Outra Face da Raiva (2005), também de Binder, aqui volta a oferecer tanto fragilidade quanto austeridade. E se tudo acabará no exato instante em que perceberem que estão todos lutando pelo mesmo objetivo, estão nas figuras envolvidas, pessoas que não negam suas falhas, mas que mesmo assim se esforçam para oferecerem o melhor de si, que teremos a certeza que, entre um e outro, o melhor mesmo é quando estamos todos juntos. Preto e Branco, sem o ou.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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