A Primavera de uma Solteirona
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Ronald Neame
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The Prime of Miss Jean Brodie
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1969
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Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
A Primavera de uma Solteirona se passa em Edinburgo, 1932. Jean Brodie é uma professora em uma escola para meninas que inspira suas estudantes com suas idéias sobre arte, música e política, sendo que a última é baseada em noções românticas, que a levam a expressar sua admiração pelo fascismo na Itália.
Crítica
No final dos anos 1960, a inglesa Maggie Smith foi convidada a estrelar A Primavera de uma Solteirona, título nacional um tanto descabido para The Prime of Miss Jean Brodie (ou O Auge da Senhorita Jean Brodie), romance de Muriel Spark que havia sido transposto com sucesso também para os palcos. Mesmo indicada ao Oscar quatro anos antes por sua atuação no shakespeariano Othello (1965), ao lado de Laurence Olivier – experiência que recorda com o misto de nostalgia e ressalvas no documentário Chá com as Damas (2018) – Smith era não mais do que uma novata. Porém, sua performance aqui, aliada a uma personagem não menos do que revolucionária, foi suficiente para marcar época, lhe garantindo o Bafta e o Oscar, além de ter consolidado uma imagem que até hoje perdura associada a si, de mulher de emoções contidas e falas rápidas, invariavelmente repletas de muita ironia e uma percepção bastante apurada da realidade.
A senhorita Brodie é uma jovem professora de uma escola apenas para meninas na Edimburgo, Escócia, na década de 1930. Solteira, sim, mas não por falta de opções: os homens fazem fila ao seu redor. Mas ela não parece disposta a ceder aos encantos de qualquer um – a não ser que sejam os do professor Teddy Lloyd (Robert Stephens, marido da atriz na época), a quem insiste em se desvencilhar a cada nova investida, muitas vezes sem ser feliz em suas intenções. No entanto, mesmo incorrendo vez que outra em pequenos pecados, sua atenção está mais voltada ao ensino das pupilas e, principalmente, em contribuir com a formação destas mulheres do amanhã, ao invés de seguir presa às práticas e diretrizes de ontem. Brodie é, essencialmente, uma progressista, alguém à frente do seu tempo. Ela sabe que há um preço a ser pago por esse tipo de comportamento. Mas não serão os outros que irão lhe impor o quanto, e muito menos quando, ela deverá ceder a essa verdade.
De todas aquelas sob suas asas, é provável que a mais atenta aos seus ensinamentos seja a jovem Sandy (Pamela Franklin, indicada ao Bafta e premiada no National Board of Review por esse trabalho). E isso se dá por um motivo simples: mais do que ouvir o que a professora tem a dizer, a ela não escapa como a mestra costuma agir. Ou seja, compreende que muito mais ensina o exemplo do que a simples teoria. E tanto na lida com os homens como na postura que assume diante dos eminentes conflitos mundiais, serão essas jovens em formação que irão moldar o mundo que está sendo construído agora, mais do que velhas lições ditadas em frente a um quadro negro. A velocidade dos fatos, como logo fica evidente, irá atropelar a todos, mesmo aqueles que se acreditam mais preparados, como a pobre senhorita Brodie.
Outra relação interessante no filme de Ronald Neame (indicado ao Oscar pelos roteiros de Desencanto, 1945, e Grandes Esperanças, 1946) é o da protagonista com a diretora da instituição onde trabalha, a senhorita Mackay (Celia Johnson, vencedora do Bafta por esta atuação). Enquanto que uma tenta, em sua altivez quase desesperada, estar à frente das situações, a outra opta por manter-se agarrada com todas as suas forças à segurança que lhe fora transmitida pelos que antes dela vieram. Ambas representam esse confronto entre o novo e o velho, o superado e o moderno, ainda que nem sempre estes papeis estejam bem definidos. Afinal, não são posições fixas, e poderão ser alteradas de acordo com os acontecimentos, com os sentimentos e com o avanço dos dias.
Ainda que filmado à moda antiga – há muitas cenas em estúdio, e as poucas externas exultam uma fotografia por demais convencional – A Primavera de uma Solteirona ganha pontos pelos diálogos afiados (cortesia de Jay Presson Allen, também responsável pela adaptação teatral) e pela performance maiúscula de Maggie Smith, aqui em plena forma. O olhar preciso, o humor mordaz e a dignidade rígida que tão bem explorou em trabalhos posteriores, como os consagrados Assassinato em Gosford Park (2001) e a série Downton Abbey (2010-2015), passando inclusive pela saga Harry Potter, nasceram justamente aqui, e apenas por isso, se não fosse todo o resto, o conjunto já se mostraria mais do que válido e necessário. Felizmente, ainda há mais a se descobrir. Um mergulho no tempo, que olha para o adiante, sem nunca esquecer de prestar tributo à estrada que conduz até o agora.
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