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Sinopse

Produtor teatral que não vive lá uma maré de muita sorte, Max realmente acredita que descobriu uma grande jogada ao conhecer um contador que tem uma tese curiosa: o fracasso pode ser melhor (e mais lucrativo) do que o sucesso.

Crítica

A filmografia de Mel Brooks foi apresentada de forma inversa para mim e, acredito, para boa parte dos críticos da minha faixa etária. Afinal, nenhum de nós era nascido antes dos anos 80. Então, títulos como Drácula: Morto, mas Feliz (1995), A Louca! Louca História de Robin Hood (1993) e S.O.S.: Tem um Louco Solto no Espaço (1987) tomaram conta das sessões da tarde da infância e adolescência, sempre imperdíveis, não importava quantas vezes já tivessem sido vistos. Anos depois, com a curiosidade de saber mais sobre um dos diretores mais engraçados de todos os tempos, é que deu para conferir Primavera para Hitler (1967), seu primeiro trabalho na direção. A conclusão é que poucos cineastas conseguem o feito de ter seu melhor filme já na estreia por trás das câmeras, algo que Brooks conseguiu de forma hilária!

A própria sinopse já é um achado: Max Bialystock (Zero Mostel) é um produtor teatral em crise com vários fracassos e, para conseguir financiamento para suas novas peças, namora idosas ricaças. Graças à idéia do contador Leo Bloom (Gene Wilder), a dupla bola um plano: produzir uma peça teatral que seja um fracasso. Assim, todo o dinheiro investido vai apenas para os produtores e os gastos com a temporada não ultrapassam mais que a noite de estreia. A solução é trabalhar em cima de um roteiro escrito por um soldado nazista que ainda ama Hitler após anos. É claro que o tema espinhoso deveria gerar um espetáculo que afundasse, mas não é que ele se torna um sucesso?

A ironia das ideias inseridas nos diálogos expositivos e debochados do roteiro de Brooks se tornou marca para muito filme pastelão que é feito até hoje. Loucademia de Polícia (1984) e até os não tão memoráveis filmes da série iniciada por Todo Mundo em Pânico (2000), entre muitos outros,  não teriam o mesmo teor escrachado não fossem as comédias do cineasta. Aqui, o humor pode ser avançado, mas nem por isso deixa de cutucar na ferida do nazismo, debochando de seu líder a todo momento, também fazendo referência à própria ideia do totalitarismo com os personagens principais sendo judeus. Acidez de alto nível e, porque não dizer, didática. Sem falar que é um alento um ser tão preconceituoso e desprezível como Hitler desmunhecar no palco. Sarcasmo contra o preconceito, mais uma arma do diretor.

Com um elenco primoroso, Gene Wilder se destaca no papel do contador. Em seu terceiro filme, o intérprete arranca risos com sua nervosa atuação, visto que o tímido personagem sofre a maior transformação do longa de um rapaz sem grandes ambições que, levado pela máquina da Broadway, descobre outros caminhos. Sua performance hilária rendeu não apenas uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante como também consagrou o ator no gênero, marcando presença no imaginário do público em diversos papeis que viriam a seguir, especialmente como o Charlie de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971).

O longa ganhou um remake musical em 2005 com Nathan Lane, Matthew Broderick, Uma Thurman e Will Ferrell que, mesmo sendo divertidíssimo, não chega aos pés do original. Sinal do quanto esta obra-prima de Mel Brooks é um marco na história do cinema, ainda mais após ter sido eleito pelo American Film Institute como o décimo primeiro filme da lista das 100 melhores comédias de todos os tempos. Levou ainda o prêmio da Academia de Melhor Roteiro Original. Realmente, de originalidade Mel Brooks entende bem. Melhor ainda para o público.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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