Crítica
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Sinopse
Num 01 de janeiro de algum ano, vários personagens se encontram numa mansão de campo nos arredores do Rio de Janeiro. Todos acabam se deparando com alguma coisa que os faz refletir sobre a vida.
Crítica
Apontado por muitos como o Woody Allen brasileiro, Domingos de Oliveira divide pelo menos duas características com o cineasta nova-iorquino: filma com uma frequência impressionante e nem sempre apresenta obras de muita relevância. Em O Primeiro Dia de um Ano Qualquer, mais uma vez, Domingos se cerca de amigos para contar tramas e traumas contemporâneos com o a comicidade e sarcasmo que lhe são característicos. Desenvolvido ao longo de um único dia, o primeiro do ano mencionado no título, o filme se debruça sobre uma série de personagens caricatos indignados com questões supostamente existencialistas e de origem romântica. Numa casa de campo nos arredores do Rio de Janeiro, tipos distintos dividem suas crises enquanto celebram o feriado. Ligados por problemas em comum, como suas próprias limitações, expectativas frustradas e a dificuldade em manter seus relacionamentos equilibrados, dividem suas frustrações enquanto discorrem sobre tudo e o nada.
Protagonizado por Maitê Proença, que emprestou sua charmosa casa campestre para servir de locação ao filme, O Primeiro Dia de um Ano Qualquer apresenta um discurso machista e burguês como há muito não se via fora do circuito comercial brasileiro. Ainda que busque uma crítica aos mesmos temas, Domingos de Oliveira não se mostra muito preocupado em desenvolver as questões que levanta e as entrega em pequenos núcleos que beiram a banalidade. Com uma fotografia errática, o filme não se posiciona muito bem entre o muitas vezes brilhante texto do cineasta e aquele apresentado numa novela das sete da Rede Globo. Como bom personagem de suas próprias histórias, Domingos protagoniza algumas sequências interessantes com aqueles diálogos afiados que tão bem escreve, porém não atinge a profundidade de um de seus melhores filmes recentes, Juventude (2008). Cercado por um elenco formado majoritariamente por mulheres, por vezes o cineasta deixa de lado suas indagações masculinas de espectador e pensador, algo que fez tão bem em Todas as Mulheres do Mundo (1966), e entrega a narrativa para a ótica de suas personagens – que não conseguem sair de uma caracterização lugar-comum pautada na vulnerabilidade e instabilidade femininas.
Maitê Proença, que assina preguiçosamente a direção de arte do filme, parece interpretar uma versão de si própria enquanto pratica sua onipresença na produção – mesmo quando sua participação é desnecessária. Priscila Rozenbaum, Clarice Falcão, Alexandre Nero, Guilherme Fiúza e outros fazem o que podem, mas não conseguem esconder precisamente o desconforto em seus papeis – talvez apenas Ney Matogrosso o faça numa simpática participação especial. A naturalidade que deveria transparecer com o evidente improviso de algumas cenas apenas evidencia a inexistência de uma direção de elenco – algo imperdoável para um diretor reconhecido por sua sólida carreira no teatro.
Eleito para a mostra competitiva Première Brasil no Festival do Rio de 2012, O Primeiro Dia de um Ano Qualquer curiosamente apareceu na seleção oficial do Festival de Gramado um ano depois. A força da indicação a dois importantes prêmios do nosso cinema parece mais revelar uma tendência ao prestígio de um grande autor da cinematografia brasileira – em evidente mau momento – do que a glorificação de seu mais novo trabalho, especificamente. Sensação que Woody Allen deve reconhecer ocasionalmente.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Conrado Heoli | 4 |
Edu Fernandes | 4 |
MÉDIA | 4 |
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