Crítica
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Sinopse
Prisão nos Andes conta a história dos cinco torturadores mais cruéis da ditadura de Pinochet. Eles cumprem penas, que somam séculos, em uma luxuosa prisão aos pés da cordilheira dos Andes. O local possui piscina, jardins e aviários, e os presos são vigiados por guardas que mais parecem empregados. Quando uma equipe de televisão entrevista um dos internos, as declarações desse homem têm um impacto inesperado.
Crítica
Trata-se de uma verdade tão crucial, quanto assustadora. Alguns episódios, por mais inacreditáveis que se apresentem num primeiro momento, somente poderiam ocupar espaço na realidade, e nunca na fantasia. Isso porque a ficção exige lógica, entendimento e compreensão para se mostrar crível. Já a veracidade do cotidiano pode se mostrar a mais absurda possível, pois apenas a constatação de ter, enfim, ocorrido, já elimina qualquer suspeita a respeito das coincidências ou improbabilidades que lhe ocasionaram. Pois é este o sentimento que grande parte da audiência deverá sentir diante de um filme como Prisão nos Andes, que por mais que se comporte como uma narrativa ficcional, tem suas bases em um episódio verídico, e portanto, ligado ao cerne dos fatos. O trabalho, como se percebe, foi tornar o relato aceitável enquanto possível, e não apenas fruto de uma mente iludida ou imersa num pesadelo temporal. O impacto provocado pelo testemunho dos acontecimentos indica que o efeito dos seus intentos foi atingido.
Os atentos à política nacional e internacional já identificaram que um dos maiores problemas dos representantes da Esquerda, ao assumir o governo quando eleitos democraticamente, está em enquadrar com o devido rigor da lei as atrocidades e abusos cometidos por seus opositores. Veja o exemplo brasileiro: mesmo com mais de vinte anos de Ditadura Militar (1964-1985), poucos – ou quase nenhum, para sermos mais exatos – foram os representantes do povo eleitos posteriormente que enfrentaram com a devida seriedade essa herança maldita. Generais e demais militares que usaram (e abusaram) da confiança da população enquanto estiveram no poder seguiram, em sua imensa maioria, intocáveis, como se não fossem responsáveis pelo ocorrido. “Anistia geral e absoluta”, pregam. Como se a luta de uns por liberdade se equiparasse aos mandos e desmandos de outros tantos que resultaram em mortes e assassinatos violentos e indesculpáveis.
Pois bem, este ocaso jurídico e moral não é exclusividade do Brasil. Em muitos dos seus vizinhos latino-americanos o mesmo se sucedeu. E um dos exemplos é o Chile. Prisão nos Andes tem como protagonistas cinco dos mais cruéis e sanguinários representantes da ditadura de Augusto Pinochet (que durou de 1973 e 1990). O tempo passou, e a condição de privilégios e barbáries que por muito desfrutaram, agora não mais está ao alcance destes. Porém, a situação também não chega a lhes ser trágica. Estão presos, afastados da vida pública e do debate cotidiano. Mas continuam sendo figuras de autoridade. Nesse retiro localizado no alto da cordilheira, eles praticam caça, fazem exercícios, desfrutam de passeios e visitas familiares, realizam compras e descansam em quartos simples, se comparados com o luxo que por tantos anos tiveram acesso, mas ainda assim superiores ao da quase totalidade da população carcerária do país.
Mas os tempos estão mudando. E estes homens permanecem lá, distantes, mas não invisíveis. São como lembranças de um passado vergonhoso, que precisa não ser eliminado, mas tratado e superado. Enfrentado, portanto. Estas transformações chegam a eles aos poucos. Um privilégio que passa a ser negado. Uma regalia que não lhes será mais concedida. Um favor que se torna mais difícil. E a revolta começa a se instaurar. Aceitar o que não mais lhes compete é um exercício que exige tanto deles, que recusam em abandonar o ideal que construíram para si mesmos, como também para aqueles colocados ao redor, que deveriam impor ordem e respeito, e não meramente servi-los. O paradigma está invertido. Assim como num retrato da sociedade, que ainda não encontrou seu eixo e nem o caminho ao qual se dirigir uma vez que abandone essa bagagem tão vergonhosa quanto ultrapassada.
O diretor e roteirista Felipe Carmona vai tecendo as linhas imaginárias do retrato ao qual se ocupa em Prisão nos Andes de modo tão certeiro, que está na sua paciência com estes desdobramentos um dos maiores méritos da produção. Das tantas minorias que foram atacadas pela supressão dos direitos humanos quando o exército esteve no poder, são essas as vozes que agora aos poucos começam a se manifestar, a serem ouvidas, e se fazer válidas e recorrentes. Não há mais espaço para o retrocesso, e este recado, por mais óbvio que se confirme, é também necessário, pois com a mesma facilidade muitos dele se esquecem. E quando a única solução parece ser a saída de cena, total e definitiva, não causa espanto essa vir por meio de suas próprias mãos. Que alívio seria se muitos chegassem à mesma conclusão. Mas o recado está dado. E o exemplo que aqui se manifesta, mais vivo do que nunca.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Ticiano Osorio | 7 |
Ailton Monteiro | 8 |
MÉDIA | 7.8 |
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