Crítica
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Sinopse
Depois de acordar numa sala completamente estranha, um sujeito descobre que é um prisioneiro enviado ao espaço a fim de ser uma das peças da primeira colônia da Terra. Mas, sua companheira de cela quer destruir tudo.
Crítica
A ideia não chega a ser particularmente inovadora, ainda que consiga conservar algumas das suas principais características e se mostrar, ao menos no começo, intrigante. Issac (Johnny Sachon) está fugindo de homens fortemente armados, mas não é ágil o suficiente para conseguir escapar. Assim que é pego, desmaia e acorda em uma situação completamente diversa: está em uma cápsula em pleno espaço, a milhares de quilômetros da Terra. O que fez, como foi parar nessa enrascada e, mais importante, quem é a garota ao seu lado, compartilhando da mesma situação? Seria alguém digno de confiança, ou mais uma ameaça em seu caminho? Como se pode ver, há muito a ser questionado logo nos primeiros minutos de Prisioneiro Espacial, longa de estreia (no formato, após mais de uma dezena de curtas) do diretor e roteirista Luke Armstrong. A se lamentar, no entanto, é que essa habilidade em levantar dúvidas não se sustente na hora de buscar soluções razoavelmente lógicas para as mesmas.
Armstrong esteve envolvido na equipe de efeitos especiais de mais de cinco dezenas de produções diferentes, entre elas títulos de destaque, como Guardiões da Galáxia (2014), O Destino de Júpiter (2015) e Vida (2017), por exemplo. Essas aqui citadas, ao lado da série Perdidos no Espaço (2019), chamam atenção pela ambientação que compartilham: são todas histórias que se passam bem distante do nosso planeta. Em Prisioneiro Espacial, como o título nacional já adianta, tal cenário se repete. As ambições, no entanto, são mais comedidas, e há praticamente um único cenário durante quase toda a trama: este quarto/prisão no qual Issac e Alana (Lottie Tolhurst) se encontram. Do lado de fora, apenas o breu total. Ao alcance de ambos, somente uma voz artificial, Eva (Kathryn Vinclaire), capaz de conectá-los com o mundo lá embaixo. E o que descobrem a partir dela não parece ser auspicioso.
Se no começo Armstrong dá a entender estar se esforçando na construção de uma obra mais autoral, talvez aos moldes do perturbador Lunar (2009) ou tenso como um genérico de Gravidade (2013), aos poucos os ganhos que num diálogo aqui, numa troca de percepções ali, ele consegue somar vão sendo desperdiçados através de situações expositivas e flashbacks desnecessários, cuja única função é eliminar qualquer dúvida a respeito da real natureza dos personagens. Com somente um homem e uma mulher em cena, não se exige muito para que um logo assuma a posição de vítima incompreendida, enquanto que a outra veste com impressionante rapidez – esqueça qualquer tipo de sutileza – o capuz da vilã de ocasião. Se houve aqueles que disseram que “no espaço ninguém ouve você gritar”, aqui há disposição em excesso para se perder o controle diante de qualquer estímulo, por mais gratuito que seja.
Também não seria problemático um cenário como o que aqui é proposto, caso essas supostas reviravoltas não se dessem de forma tão esquemática e previsível. Importante dizer que as culpas não recaem apenas no colo do realizador – bom, ele não só conduz a jornada, como também foi responsável por concebê-la enquanto texto – mas, se a maioria dessa falta de méritos está com ele, não se pode ignorar o desempenho caricatural de Tolhurst, que faz de Alana uma figura que parece existir apenas para servir de distúrbio na jornada do protagonista. Suas ações são tão gratuitas quanto absurdas, e se por um lado, quando convém, ele parece se livrar desse incômodo sem muito pensar, em outras, também de acordo com os acontecimentos previstos, até mesmo um torcer de dedos parece ser bastante para colocá-lo fora de combate.
Ao fazer da presença feminina uma criatura exagerada e desprovida de empatia, a misoginia do enredo deixa espaço livre para que a audiência se compadeça do herói injustiçado – e por mais que ele grite “não matei ninguém”, seu próprio relato inclui um disparo e uma consequente morte. Quando todos os tiros já foram dados, sem que nenhum tenha provocado o impacto esperado, resta apenas a sensação de abandono, ainda mais com a confirmação de que tudo o que Prisioneiro Espacial tem a entregar ao espectador é um “daqui pra frente é com você”, mas sem oferecer elementos suficientes para que ao menos uma contrapartida possa ser alcançada. Busca-se muito a partir do pouco reunido, e se tal missão, por si só, parece um tanto suicida, a carência de talentos reunidos torna o conjunto ainda mais tortuoso e desprovido de qualquer alento.
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