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Crítica


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Sinopse

Ao descobrir que suas informações pessoais foram hackeadas para criar perfis políticos e influenciar as eleições americanas de 2016, um professor embarca em uma jornada para levar o caso à corte, já que a lei norte-americana não protege suas informações digitais, mas a lei britânica sim. Paralelo a isso, uma ex-executiva e uma jornalista ampliam o caso.

Crítica

É assustador quando em Privacidade Hackeada uma especialista diz que o valor dos dados ultrapassou o do petróleo. Não menos alarmante, inclusive como desdobramento da constatação, é a observação da utilização imoral das informações que os usuários da internet deixam à disposição de vendedores e compradores dessa grande e escusa indústria. O foco principal do documentário dos cineastas Karim Amer e Jehane Noujaim é a controversa (criminosa?) atuação sintomática da Cambridge Analytica, empresa que combinava uma coleta de dados provavelmente nunca dantes vista com o desenvolvimento de estratégias (calhordas?) para influenciar grupos de interesse dos contratantes. É imputada à atividade dessa organização privada a ascensão de Donald Trump na campanha rumo à eleição como presidente dos Estados Unidos. E nessa investigação com um viés bastante jornalístico, três personagens sobressaem, dentro de uma estrutura que visa a amplitude.

David Carroll, professor universitário de mídias, ingressou na justiça pedindo a devolução de seus dados privados, pois os mesmos foram coletados sem permissão. Carole Cadwalladr, jornalista investigativa britânica, tratou de ligar os pontos e iluminar denúncias capitais. Já Brittany Kaiser, ex-funcionária da Cambridge Analytica, desempenha a função de testemunha privilegiada (arrependida?), aquela que recorrentemente expõe esquemas fraudulentos e apresenta uma posição ambígua em relação à própria conduta junto a figuras proeminentes da vida pública não apenas dos Estados Unidos. Os realizadores entrelaçam bem as experiências da trinca, eventualmente extraindo da combinação resultados aterradores, como quando sublinham a utilização das manobras massivas de divulgação de fake news e afins para influenciar o resultado de eleições. Há uma breve menção à vitória do ultradireitista Jair Bolsonaro por aqui.

Em alguns instantes, Privacidade Hackeada parece indeciso entre substanciar o painel ou observar de perto os personagens supracitados e outros que desempenham papeis similares. Por exemplo, Christopher Wylie, também ex-empregado da Cambridge Analytica, ocupa praticamente o mesmo espaço de Brittany Kaiser, inclusive porque o filme não se dispõe a mergulhar numa acusação de que ele agiria pura e simplesmente tomado por um sentimento de revanchismo destituído de nobreza. Todavia, ainda que oscile entre macro e micro com resultados variáveis, a produção é consistente no desenho desse retrato contemporâneo de forças trabalhando embrenhadas nos bancos digitais e sem a devida atenção das nações, inclusive e principalmente no que diz respeito à regulação de suas atividades. O Facebook, de determinado ponto em diante, se transforma num dos grandes vilões dessa visão ácida, apocalítica por natureza, porém não sensacionalista.

Privacidade Hackeada atinge seus ápices ao demonstrar a participação de empresas como a Cambridge Analytica e o Facebook em táticas que visam o controle do público suscetível. É esmiuçado o processo que vai da coleta de dados por meio de aplicativos maliciosos à criação de estratégias direcionadas para obter certos fins. Karim Amer e Jehane Noujaim constroem o ambiente para o entendimento dessas ferramentas, inicialmente de interação social, como engrenagens de divisão. Em meio às entrevistas e às interações com os personagens, os principais e os secundários, eles mostram que por trás de todo discurso de conectividade e de diminuição de fronteiras existe a velha política de fomento do medo e da agressividade como forma de criar exércitos de zumbis digitais, insuflados por estratagemas servidores de propósitos bastante definidos. Como documentário estritamente jornalístico é competente no intuito de deflagrar ardis de opressão e controle.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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