Crítica
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Sinopse
Num cenário pós-apocalíptico, monstros imperam na Terra, obrigando a humanidade a se refugiar em colônias subterrâneas. Um jovem decide arriscar tudo para mudar essa realidade aterradora.
Crítica
Há muitas figuras horrorosas em Amor e Monstros, o que é bom demais. E tem também conflitos amorosos, mas, felizmente, esses vão além da percepção mais óbvia da questão, a respeito de paixões e sexo. E isso é ainda melhor. O longa dirigido por Michael Matthews (que antes havia feito apenas o sul-africano Guerreiros de Marselha, 2017, aqui estreando em Hollywood), a partir do roteiro de Brian Duffield (Ameaça Profunda, 2020) e Matthew Robinson (Monster Trucks, 2016) não esconde suas reais intenções – entreter com eficiência e dinamismo – ao mesmo tempo em que apresenta algumas inesperadas adições no decorrer de sua história. Como se pode perceber pelos históricos dos roteiristas, o interesse por situações que causam maior impacto pelo visual do que pelo que de fato acabam fazendo aqui também se repete, num conjunto divertido e, ao mesmo tempo, tenso a ponto de elevar a adrenalina de sua audiência. Exatamente o que se poderia esperar de uma proposta como essa.
Em uma sequência animada logo no começo da trama, as explicações necessárias são dadas. O mundo tal qual todos os conhecem chegou ao fim, e o início de sua derrocada foi a descoberta de um asteroide em rota de colisão com o planeta. Foguetes foram lançados para impedir o choque, e alcançaram seu efeito. Porém, com a destruição, milhares de partículas e elementos químicos caíram justamente sobre a Terra, desencadeando milhares de mutações que atingiram basicamente insetos e anfíbios, seres minúsculos que sempre conviveram ao lado da humanidade, mas que agora adquiriram proporções gigantescas e se transformaram em perigos mortais – tanto que a população humana foi reduzida em 95% em poucos anos. É neste cenário que Joel (Dylan O’Brien, que segue se portando como um adolescente, mesmo já tendo quase 30) vive. Ele, assim como todos os sobreviventes, habita uma colônia subterrânea, já que o solo foi dominado por estes novos seres.
Pois bem, se Joel aparece fisicamente são e salvo, o mesmo não pode ser dito a respeito do seu coração. Afinal, durante o auge da crise, quando as famílias se uniram em busca de um refúgio, ele não só presenciou a morte dos pais, como também acabou separado da namorada, Aimee (Jessica Henwick, de On The Rocks, 2020). Ele foi parar um esconderijo, e ela noutro, muitos quilômetros distantes. Após sete anos sem notícias, os dois finalmente conseguem retomar contato pelo rádio. Isso é o bastante para motivá-lo a abandonar o abrigo, tendo consigo apenas a fé e a coragem, para ir ao encontro dela. Estima-se que sua caminhada levará em torno de uma semana, mas felizmente não permanecerá sozinho por muito tempo. Primeiro encontro Garoto, um cachorro pra lá de esperto que o salvará de algumas boas enrascadas. Depois, será a vez de conhecer Clyde (Michael Rooker, de Guardiões da Galáxia, 2014) e Minnow (Ariana Greenblatt, de O Grande Ivan, 2020), uma dupla formada quase que ao acaso que lhe será útil no aprendizado sobre como sobreviver em meio a tantos perigos inesperados.
É bom não revelar muito mais a respeito de Amor e Monstros, principalmente porque este é o típico filme no qual se aproveita mais o durante do que o depois. Não se trata, portanto, do que o protagonista quer fazer ou para onde se dirige, mas o que lhe acontece e o quanto se transforma durante esse processo. Basta dizer que entre imensos sapos de línguas ágeis, centopeias afoitas por cães medrosos e caracóis disfarçados de pedras, só voltará a se sentir seguro quando tranquilo consigo, e não com tudo o que pode lhe acontecer vindo do exterior. Esse caminho é envolvente a ponto de que até mesmo as eventuais despedidas são sentidas, pois é certo que cada decisão – esquerda ou direita? Montanhas ou praia? – irá levar a outras descobertas e surpresas. Tanto é que, quando os problemas param de vir da natureza e passam a se revelar a partir do contato humano, muito da graça percebida até então se esvai.
Este é o verdadeiro coração de Amor e Monstros: o sentimento que se estabelece – e aos poucos vai se consolidando – entre as novas formas de afeição e as famílias que consequentemente surgem a partir dessas relações. Não se trata tanto de um Romeu em busca de sua Julieta, mas dos laços vividos juntos, das emoções compartilhadas e como o apoio do próximo é a energia suficiente para seguir em frente. A despeito dos impressionantes efeitos visuais, capazes de criar criaturas realmente impressionantes – e assustadoras – esta é uma aventura de deixa gostinho de quero mais por mergulhar nos seus personagens, por mais esquemáticos que possam parecer num primeiro momento. A comunhão entre os que persistem, a desilusão que se mostra anunciada e as amizades surgidas de onde menos se espera servirão de alimento em um mundo onde as certezas há muito partiram. O que resta, agora, é lutar pelos seus – sejam quem forem, independente de como tais conexões se estabeleçam. Mais do que nunca, o hoje é agora. E não se contentar com pouco é, indiscutivelmente, o melhor a ser feito, seja na ficção como no proveito dessa pequena pérola.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Chico Fireman | 6 |
Lucas Salgado | 7 |
Daniel Oliveira | 6 |
MÉDIA | 7 |
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