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Sinopse

Dodge foi abandonado pela esposa após descobrir que um meteoro se chocará com a Terra em um curto espaço de tempo. Decidido a recuperar o tempo perdido, ele sai numa viagem para encontrar uma namorada dos tempos de escola e acaba conhecendo Penny no meio dessa confusa história.

Crítica

Isto não é a Arca de Noé, é o Titanic, porém sem os salva-vidas!”, afirma um dos personagens de Procura-se um amigo para o fim do mundo a certo momento do filme. Ou seja, não se trata de buscar uma solução de última hora ou uma saída inesperada. Não há mais esperanças. Todos irão morrer. E quando essa verdade se torna absoluta – pois, apesar dela ser um fato para qualquer ser humano a partir do momento em que nascemos, passamos o resto dos nossos dias em negação – o que devemos fazer? Buscar ajuda? Paz de espírito? Ficar com nossos familiares? Acertar as contas com o passado? Ou encontrar algum significado para tudo isso? É mais ou menos isso que os protagonistas dessa história tentam, mesmo que sem muita sorte. Assim como nós, espectadores, que tentamos entender durante toda a projeção o que levou os distribuidores brasileiros a lançarem esse filme nos cinemas, ainda mais após o imenso fracasso verificado nas bilheterias americanas.

Imagine se Lars von Trier tivesse dirigido Melancolia (2011) num tom de comédia romântica. Conseguiu visualizar? Pois o resultado seria esse Procura-se um amigo para o fim do mundo. Logo na primeira cena recebemos a notícia de que os últimos esforços da humanidade em impedir que um asteroide colida com o nosso planeta não deram resultado, e que num prazo de três semanas o apocalipse chegará. O mundo irá acabar, e não há mais nada a ser feito. Dodge (Steve Carell) tenta seguir a vida, acordando todos os dias no mesmo horário e indo trabalhar na mesma rotina. Como se alguém se importasse com isso. A esposa o abandonou, porque não queria passar seus últimos dias infeliz. Os colegas da empresa ou foram embora – qual o sentido de perder seus últimos minutos numa companhia de seguros? – ou se jogaram pela janela mais alta. Os amigos estão experimentando todas as drogas possíveis, as cidades estão sendo saqueadas, o caos total se aproxima. O que resta a ser feito? Talvez se aproximar da vizinha bonitinha e maluquinha (Keira Knightley). O encontro dos dois, mais forçado impossível, acaba de vez com todas as boas intenções do roteiro.

Esse é justamente o maior problema do trabalho que marca a estreia na direção de Lorene Scafaria. Também roteirista, é responsável pela comédia adolescente Uma Noite de Amor e Música (2008), um filme que conquistava pela falta de pretensão. Tudo, aliás, que esse novo projeto tem de sobra. Há um esforço tão grande na busca por uma profundidade nunca alcançada que só resta ao espectador bocejo atrás de bocejo. Estamos, é claro, e isso nunca é deixado de lado, diante de uma situação extraordinária. Mas isso por si só acaba servindo de desculpa para o desfile de tipos exóticos e bizarros que a diretora enfileira um atrás do outro durante o desenrolar da trama. É como se todas as figuras mais estranhas do cinema independente americano tivessem sido reunidas numa só história. E como explicar a paixão avassaladora que surge entre os protagonistas – sendo que os dois se conhecem há menos de uma semana? O relacionamento de um com o pai ou com a namorada de infância, o ex-namorado dela ou a família que é deixada de lado, nada disso parece importar muito. Cada um deste eventos tem mais função no sentido de alongar o enredo do que em conferir algum propósito às atitudes tomadas. E não há como aguentar tamanha incoerência.

Mas o pior mesmo de Procura-se um amigo para o fim do mundo é a dupla principal, Carell e Knightley. Ele parece fazer sempre o mesmo personagem, e ela faz sempre o mesmo personagem. Já sabemos que o ótimo ator do seriado The Office pode ousar mais, mas o estilo de interpretação introspectiva que tão bem defendeu em Pequena Miss Sunshine (2006) tem sido repetida por ele em tantos outros papéis recentes (Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, 2007, Amor a Toda Prova, 2011), que é impossível não se cansar. E a menina que virou estrela com a série Piratas do Caribe possui tantos vícios e trejeitos que não há como abstraí-la para encontrar aquela pessoa que deveria ter sido criada. Por fim, não há nenhuma química entre o casal. Assim, quem irá torcer por eles quando tudo chegar ao fim? Somente nós, espectadores, pois assim estaremos livres para irmos para casa e esquecer o mais depressa possível dessa grande perda de tempo.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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