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Sinopse

Seis meses depois da busca de Marlin por seu filho Nemo, a esquecida peixinha Dory de repente recorda das suas memórias de infância. Com a lembrança do nome "Jóia de Monterey", na Califórnia, ela parte em busca de sua família.

Crítica

As continuações no universo Pixar sempre geraram reflexões e debates sobre o poder criativo do estúdio. Se por um lado sequências como Toy Story 2 (1999) e Toy Story 3 (2010) são elogiadas de forma quase unânime por manterem a excelência do original, do outro, Universidade Monstros (2013) e, principalmente, Carros 2 (2011) são vistos por muitos como pontos oscilantes na aclamada filmografia da produtora. Por estes motivos, e também pelo longo intervalo de treze anos entre as produções, Procurando Dory, continuação do sucesso absoluto Procurando Nemo (2003), chega envolto em uma expectativa colossal. E pode se dizer que o resultado desta espera se localiza em um ponto intermediário entre os exemplos citados acima.

O diretor Andrew Stanton retorna, desta vez ao lado de Angus MacLane, para comandar a trama que se passa um ano após os eventos do primeiro filme. Aqui a peixinha azul Dory, que sofre de um problema de perda de memória recente, começa a ter insights com fragmentos de lembranças de seu passado ao lado dos pais. Com algumas pistas e muita disposição, ela parte em uma jornada para reencontrar sua família, tendo o peixe-palhaço Marlin e seu filho Nemo como companhia. Durante o trajeto, Dory se perde dos amigos, indo parar no Instituto de Vida Marinha da Califórnia. A situação do filme anterior se inverte, e agora a dupla Nemo e Marlin é que parte à procura de sua desmemoriada companheira.

Logo na cena inicial, o longa escancara seu viés emocional, apresentando o primeiro flashback de Dory. O design da versão jovem da personagem – com seus olhos amáveis e gigantescos – recebendo o carinho dos pais é a primeira carta apresentada por Stanton e MacLane para conquistar o público e se torna o coringa dos cineastas, pois é repetida diversas vezes ao longo da narrativa. A repetição, aliás, é uma das palavras-chave de Procurando Dory. Algo que faz sentido devido à condição da protagonista em relação a sua memória, mas que também acaba servindo como um pretexto aceitável para que o roteiro revisite boa parte dos elementos que contribuíram para o êxito de Procurando Nemo.

O novo longa aposta muito na memória afetiva do público e em seu prazer por reconhecer aquilo que lhe é familiar, como o enigma da localização/endereço que serve de guia para as buscas nos filmes (antes “P. Sherman 42, Wallaby Way, Sydney”, agora “A joia de Monterey, Califórnia”). A continuação também se esforça para realizar conexões engenhosas com o passado de Dory e revelar a origem de algumas de suas marcas registradas: o conhecimento em “baleiês” e o lema “Continue a nadar, continue a nadar”, por exemplo. Alguns personagens coadjuvantes também retornam em pequenas participações, como o Tio Arraia e Crush, a tartaruga de trejeitos surfistas. Ao lado destas figuras conhecidas temos uma série de novos personagens, muitos servindo como alívios cômicos, caso do trio de leões-marinhos e da ave tresloucada Becky.

Outros possuem maior importância, como o polvo de personalidade dúbia Hank, a tubarão-baleia com problemas de visão Destiny e a baleia beluga Bailey. Ainda que todos tenham suas funções dramáticas na história, especialmente Hank, estes personagens servem muito mais como ferramentas para facilitar o desenrolar das ações dos protagonistas. Os cineastas buscam explorar as particularidades biológicas reais dos animais – a mobilidade e a capacidade de camuflagem dos polvos, a ecolocalização do “sonar” das belugas – transformando-as quase em superpoderes, que funcionam bem nas cenas mais movimentadas, incluindo uma grandiosa perseguição rodoviária. Mas, mesmo sendo uma ideia interessante e inserida em um contexto fantasioso, seu exagero acaba soando muitas vezes como uma simples muleta para sustentar as fragilidades do roteiro.

A essência da fórmula da Pixar está no equilíbrio entre o humor e a emoção, e o filme consegue atingi-lo satisfatoriamente. Existem algumas piadas e trocadilhos inspirados, a qualidade gráfica da animação enche os olhos e o drama da perda e da importância da família tem um apelo inegável. O que falta a Procurando Dory é a centelha de genialidade que faz com que as obras-primas do estúdio consigam fugir justamente das facilidades expostas anteriormente. Alguns momentos da animação se aproximam desse patamar, como o clímax emotivo de Dory ou a ótima sequência no aquário da ala infantil do parque marinho. Mas mesmo estas cenas não causam o deslumbramento dos minutos iniciais de Up: Altas Aventuras (2009) ou da cena do crítico culinário em Ratatouille (2007), apenas para citar dois exemplos. De qualquer forma, isto provavelmente não irá atrapalhar o sucesso de Procurando Dory, pois o carinho do público pelo universo de Nemo, Marlin e Dory faz com estes já entrem em campo com o jogo ganho. E mesmo sem aplicar uma goleada memorável, ainda são capazes de proporcionar um espetáculo de qualidade para seus fãs.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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