Crítica
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Sinopse
Desde sua infância na Polônia até a adolescência em Nice, para seus anos de estudante em Paris e seu treinamento como piloto durante a II Guerra Mundial, Romain Gary atribui a vontade de viver intensamente à sua mãe, Nina. É a força desse amor que o consagra como um dos mais famosos romancistas franceses e o único escritor a vencer o Prêmio Goncourt pela literatura francesa duas vezes, porém, essa devoção também se torna um fardo em sua vida.
Crítica
Você já ouviu falar de Romain Kacew? Talvez nem mesmo de Romain Gary, como ele se tornou mundialmente conhecido na primeira metade do século XX. Romancista, piloto de avião, soldado na Segunda Guerra Mundial, diretor de cinema e diplomata francês, foi casado com a escritora Lesley Blanch e com a atriz Jean Seberg. Em menos de setenta anos de vida, nasceu na Lituânia e morreu na França, morou na Inglaterra, México e na África. Mesmo assim, tendo levado uma vida repleta de aventuras e feito de tudo um pouco, ainda é relativamente desconhecido no Brasil, pois, apesar de ter escrito mais de trinta livros e roteiros, apenas uma dezena destes foram traduzidos para o português. E, deles, talvez o mais conhecido seja justamente Promessa ao Amanhecer, de 1960, e que agora dá título a esta cinebiografia carregada de tintas fortes, mais preocupada mais em reforçar a visão do homenageado sobre o que viveu do que em reproduzir fielmente suas experiências. Uma escolha ousada que, ainda que não desprovida de irregularidades, mais acerta do que erra.
A opção assumida pelo diretor e roteirista Eric Barbier (O Último Diamante, 2014) é reforçar a conexão do homem, desde a tenra idade, com a mãe, figura maior no imaginário judaico. Romain não conheceu o pai, e sempre teve nessa mulher seu único suporte. Ainda criança, pelas ruas da Polônia, os dois formavam um elo quase indissociável – ele descobrindo o mundo, ela apostando nele todas as suas fichas. A certeza que ela depositava no talento da criança e nas conquistas futuras dele era tamanha que servia como força-motriz para impulsioná-lo a nunca desistir, seguindo em frente mesmo diante das mais complicadas adversidades. O primeiro amor, a relação com os vizinhos, o preconceito, a pobreza, a ascensão financeira e o ocaso repentino: por tudo isso eles trilharam, juntos. Um fazendo crescer no outro a esperança de que dias melhores haveriam de surgir.
O ponto de vista assumido, no entanto, é o de Romain, vivido na infância por um expressivo Pawel Puchalski, na adolescência por Némo Schiffman (Ela Vai, 2013) e na idade adulta por Pierre Niney. Não que haja muita semelhança física entre os três, mas, surpreendentemente, acabam formando um conjunto apropriado, e a transição de um para o outro se dá sem tropeços, de forma subliminar e quase natural. O primeiro carrega nos olhos suas emoções e anseios, enquanto que o segundo é basicamente retorno, resposta e reações. Será o terceiro, no entanto, que ficará responsável pelos maiores desafios propostos pela narrativa, pois terá que viver tanto o jovem adulto, lutando para não permanecer eternamente à sombra materna, como o velho bêbado que precisa lidar com seus próprios fantasmas para seguir criando.
Nenhum deles, no entanto, consegue ir muito além da gigantesca presença de Charlotte Gainsbourg, que assume o papel dessa mulher determinada e de fortes convicções, que abdicou de si e do mundo para garantir ao filho um lugar de destaque no mundo. A narrativa é linear, e acompanha o andar dos dois de forma progressiva. No entanto, como vemos a partir do prisma dele, ela não precisa se preocupar com sutilezas ou discrições. Tudo nela é exagerado, exaltado, excessivo. Sua proteção, sua obstinação, seu empenho em fazer dele um homem melhor e mais assertivo em relação aos seus méritos, seja como músico, desenhista ou, finalmente, escritor. Nem ela, aliás, e nem cada uma das mulheres com as quais ele acaba cruzando. Ele até pode afirmar que na primeira viagem à Paris encontrou uma garota sueca disponível e por ela acabou se apaixonando, garantindo noites de sexo selvagem na cidade das luzes. Essa, afinal, é a sua lembrança. Obviamente, não foi assim que aconteceu. Mas o que importa é o relato, e não sua veracidade.
Indicado ao César 2018 – o Oscar do cinema francês – nas categorias de Melhor Atriz (Gainsbourg), Roteiro Adaptado, Figurino e Direção de Arte, Promessa ao Amanhecer tem, de fato, um visual primoroso, acrescido por atuações vibrantes e uma história um tanto rocambolesca, cheia de altos e baixos, mas que é eficiente em ressaltar o quão rica não apenas foi sua existência, mas também a influência que a mãe lhe deixou como herança maior. Um filme à moda antiga, que ao mesmo tempo em que cumpre sua missão de enaltecer um artista que merece ser (re)conhecido, também propõe esse jogo de olhares e encontros, oferecendo ao conjunto um encanto que vai além do mero desenrolar de acontecimentos. Afinal, mais do que ao lado um do outro, a ligação que permanece é aquela de espírito, que dura mesmo sem a proximidade física. Uma lição a ser levada por pais e filhos de qualquer idade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 5.5 |
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