Crítica
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Crítica
Realizar filmes sobre grandes catástrofes é sempre um processo complicado, pois deve buscar um equilíbrio difícil de ser alcançado. Afinal, é preciso cobrir o aspecto macro da situação – ou seja, que ofereçam a real dimensão dos eventos narrados e que possibilitem uma interpretação à altura do perigo vivido em cena – e, ao mesmo tempo, apresentar personagens que convençam pelo aspecto humano, tornando-os próximos dos espectadores, pois serão através destes que a audiência poderá se conectar com a história a ser narrada. Dois âmbitos de leitura que, de um jeito ou de outro, Próxima Parada Apocalipse acaba falhando. Nem mesmo convence como a tragédia anunciada de proporções gigantescas, muito menos diante o drama pífio vivido pelos seus protagonistas.
Will Younger (Theo James) está prestes a se casar com sua namorada (Kat Graham, de 17 Outra Vez, 2009). Os dois recém descobriram que estão à espera do primeiro filho, e dividem planos quanto ao futuro. Só há um único empecilho: os pais dela. Um desafio que o rapaz deverá enfrentar em um jantar ao visitar Chicago – onde eles moram – a trabalho. O encontro acaba dando terrivelmente errado – basta dizer que termina sendo convidado a se retirar mais cedo – e aumenta sua frustração. Nada comparável, é claro, com o que está por vir. Ao ser acordado por Sam (Graham) no dia seguinte, tem a ligação interrompida por um estouro inexplicável – e não mais consegue se conectar com ela. Quando chega ao aeroporto, descobre que todos os voos foram cancelados. O que lhe resta? Buscar abrigo com as únicas pessoas que conhece por ali: os futuros sogros.
O plano de Tom (Forest Whitaker), que é quem tem mais resistência quanto ao novo genro, é simples: deixar a esposa em casa e partir em busca da filha, que está em Seattle – tendo que, para isso, atravessar o país de carro. Jornada que será empreendida por estes dois homens que, como já ficou claro, se odeiam – mas estarão unidos em nome de um amor em comum. O título original, How It Ends – ou “Como Tudo Termina”, em uma tradução literal – é mais apropriado do que o chamativo batismo recebido no Brasil. Ok, o uso da expressão “parada” passa a ideia de caminho, que é mais ou menos o que precisará ser percorrido – este é, essencialmente, um road movie. No entanto, há pouco sobre o apelativo ‘apocalipse’ – ao qual não é reservada nenhuma explicação, e passamos por toda a trama sem a menor compreensão do que está acontecendo – e perde-se um tempo valioso com o lado íntimo da situação: com Will e Tom discutindo a todo instante por bobagens que pouco contribuem com o avançar de seus objetivos, se conectando, por fim, de uma maneira simplória e bastante previsível.
Forest Whitaker é um ator competente, vencedor de um Oscar e premiado em festivais internacionais. Pelo que já fez, merecia um personagem melhor do que este. Tom é uma figura carrancuda, repleta de frases prontas – “tudo o que quero saber é uma coisa: você vai comigo?” – e desprovido de motivações consistentes para suas ações. É um cara que apenas reage, sem refletir. Por que não gosta do namorado da filha? Por que tomar a estrada sem nenhum tipo de segurança ou garantia antes? A única justificativa recai sobre o fato dele ter sido militar (o que deve explicar tudo, pelo jeito) e um “homem de família”, que está se esforçando para criar algo que nunca teve (“não sei se fui um bom pai, só sei que nunca tive um”). Will, por sua vez, é inexperiente desde a apresentação – seu nome pode ser traduzido como “serei o mais jovem” – e se no início não sabe nem disparar uma arma, no final está liderando tiroteios – sua transformação, ainda que em poucos dias, é tão impressionante quanto inverossímil. Theo James tem porte, ao menos, para um tipo como esse, e até se sai razoavelmente bem nas sequências de ação. Porém, quando tenta imprimir qualquer dramaticidade, suas fragilidades se tornam evidentes.
Com direção de David M. Rosenthal (O Cara Perfeito, 2015) e roteiro de Brooks McLaren (que já assinou para o próximo Rambo: New Blood), Próxima Parada Apocalipse é um filme que poderia ter aspirado audiências mais expressivas, mas que se revela de tamanho adequado às dimensões reduzidas das plataformas de streaming, responsáveis pela sua produção. Sem cenas impressionantes e com desfecho simplista – pra não dizer covarde, ou mesmo preguiçoso – é repleto de elementos que entram e saem da trama se muita explicação. Nada, enfim, parece ser, de fato, relevante – nem mesmo uma conclusão digna é oferecida. E quando você nem chega a se importar com o que se passa na tela, qual o real valor do que é visto? Descartável e genérico, pode entreter por uma ou outra passagem, mas nada que disfarce um conjunto desprovido de conteúdo ou mesmo valor.
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Aceitando a pouca estruturação da história, o filme pode ser visto como uma metáfora existencial, a vida de um homem que procura sua princesa e deve enfrentar vários dragões. Não é o que um americano gostaria de ver, mas é sintoma depressivo de uma época que não acredita mais nem no ser humano nem na realidade física, só pensa em medos paranoicos, matar para não morrer. O título original afirma: "como a coisa termina". A vida termina, diz o ateu, e não se sabe como nem quando. Como o diretor é judeu, também pode ser interpretado como uma mensagem pós bíblica ou mesmo vetero-testamentaria. Deus nos mete medo e não nos resgata. Angústia e ateísmo.