float(2) float(1) float(2)

Crítica


4

Leitores


1 voto 4

Onde Assistir

Sinopse

Depois de roubar seu patrão, Marion para num motel remoto à beira da estrada. Lá ela é atendida por Norman Bates, um sujeito estranho, mas que aparentemente é dócil, que frequentemente discute com a mãe controladora.

Crítica

Brincar de refilmar o maior clássico de Alfred Hitchcock (e considerando sua filmografia, está longe de ser pouca coisa) foi considerado uma blasfêmia por muitos quando Psicose de Gus Van Sant foi lançado em 1998, refletindo na parca bilheteria e o prejuízo financeiro da Universal, estúdio que bancou o remake. Não é para tanto. Se esquecermos o material original (ok, quase impossível), podemos ver que há um suspense interessante e bem construído, ainda que recheado de falhas.

Van Sant transportou a atmosfera sessentista do filme original para os anos 1990, causando uma sensação de algo vintage. É claro que a fotografia de Christopher Doyle, que parece "ter pintado" um longa P&B com cores, reforça ainda mais esta sensação. A trama permanece a mesma: Marion Crane (Anne Heche) foge da sua cidade após furtar dinheiro de seu trabalho e vai parar em um motel de beira de estrada, onde conhece o estranho Norman Bates (Vince Vaughn). E aí acontece a fatídica cena do chuveiro que dá início à verdadeira trama que todos conhecemos. O cineasta refaz o clássico hitchockiano quadro a quadro, com pouquíssimas alterações além do uso de cores vivas. O plano inicial é uma das poucas mudanças, sendo aberto e indo em direção ao apartamento de Marion, algo que o próprio Hitchcock queria ter feito na época, mas tinha limitações de orçamento. Se este foi um acerto, por outro o final continua mantendo o único defeito do original: a explicação da loucura do protagonista através das palavras de um psicanalista. Sendo o cineasta fora do mainstream que Van Sant é, o mínimo que se esperaria dele é que houvesse diversas interpretações para aquilo que mexe com seus personagens. Uma grande falha, independentemente do diretor querer refazer tudo com respeito ao material original.

Na verdade, apesar do aspecto técnico e do roteiro de Joseph Stefano terem sido mantidos, algumas liberdades criativas no texto e na contextualização parecem ter ficado mais explícitas com alguns diálogos expositivos. Talvez para atender a demanda do público cínico da última década do século XXI, já que as falas dos anos 1960 poderiam soar datadas e "inocentes" demais. Assim, há espaço para uma maior "sexualização" de Bates, que na pele de Vaughn perde muito da profundidade original ao se transformar num simples rapaz afeminado que tem problemas com sua sexualidade pela castração realizada pela mãe. Ao mesmo tempo, ele se masturba (mais um aspecto fora do material original) quando vê Marion entrar no banho. Mas realmente precisava ser tão na cara assim? E a ideia de sugestão, onde fica? Apesar de Vaughn, o elenco não compromete. Anne Heche pode não ser uma Janet Leigh tanto em termos de beleza quanto de atuação, mas dá uma cara nova para a personagem. Julianne Moore, como sua irmã, acaba ganhando mais destaque ao imprimir uma mulher mais forte e menos histérica, onde ocorria o contrário com Vera Miles no filme de Hitchcock. Viggo Mortensen apenas repete o papel de "bonitão inútil" do material em que o filme foi baseado. Assim, quem chama mais a atenção é o simpático William H. Macy na pele do investigador, garantindo uma boa dose de suspense no seu arco da trama.

No fim das contas, levar este Psicose como puro entretenimento pode ser a melhor saída para apreciarmos a obra como tal. Porém, ainda que o fantasma do filme dos anos 1960 paire a cada segundo, a principal falha desta produção de Gus Van Sant é o seu nome envolvido. Ainda que o diretor seja um cineasta experimental, provar a si mesmo que poderia refilmar tudo exatamente como Hitchcock é uma tarefa ingrata, pois cada um tem seu público e seus métodos. E com o currículo que o cineasta já tinha na época, é mais estranho ainda pensar que muito poderia ter sido feito com um material tão interessante em mãos. No geral, fica como uma lacuna em sua filmografia, o que não é dos melhores elogios.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *