Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Muito antes de Wes Anderson ser indicado ao Oscar por filmes como Os Excêntricos Tenenbaums (2011) e O Grande Hotel Budapeste (2014) – entre outros – o cineasta foi um jovem que já encantava colegas e frequentadores de festivais com sua ousadia narrativa e apuro estético. Tanto que não tardou a encontrar quem decidisse nele apostar para sua estreia como realizador de longas-metragens. E o resultado é esse Pura Adrenalina, adaptação do curta de mesmo nome (Bottle Rocket, 1993) realizado três anos antes. E a escolha de ‘padrinho artístico’ não foi menos audaciosa – ninguém menos do que James L. Brooks, vencedor de três Oscars pelo drama Laços de Ternura (1983) e que pouco antes havia investido na série de animação que viria a se tornar a de maior sucesso e longevidade de todos os tempos: Os Simpsons (1989-).
É curioso perceber, no entanto, como Anderson é fiel ao seu estilo autoral desde o princípio, deixando pouco espaço para a influência de Brooks, que tudo o que fez por aqui foi abrir espaço suficiente para o novato exercer sua veia criativa. Partindo de um roteiro escrito pelo próprio Anderson em parceria com o amigo e colega de faculdade Owen Wilson, se encarrega de contar a história de três amigos ocupados com o plano de um assalto que tem tudo para dar errado. No entanto, não é muito o que esses personagens pretendem fazer e nem a consequência dos seus atos que interessam. O cenário serve apenas para colocá-los em ação, pois são as relações entre eles o verdadeiro foco de atenção do diretor.
Como protagonista, temos Luke Wilson – irmão de Owen – em uma das suas raras aparições nessa posição. Se posteriormente acabou se resignando ao papel de interesse romântico, aqui ainda se esforça para construir um tipo mais complexo. Muito, no entanto, vem do texto: Anthony acabou de sair de um manicômio, e ao mesmo tempo em que percebe não mais se encaixar na dinâmica familiar que tanto prezava, reconhece que o amigo exaltado (Owen) e o outro já estabelecido (Robert Musgrave, de Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor, 2008) talvez sejam tudo o que lhe resta. Aceitar essa verdade pode não ser fácil, mas tem tudo para ser menos dolorosa do que aquilo que está deixando para trás.
Estruturado de forma episódica, Pura Adrenalina ganha uma lufada de ar fresco com a entrada em cena de Inez (Lumi Cavazos, de Como Água Para Chocolate, 1992), a camareira do hotel à beira de estrada onde se hospedam que acaba despertando uma paixão capaz de mudar o rumo de protagonista. Mesmo tímida e sem dominar o uso da língua do país que escolheu como seu, é fácil entender o motivo dela mexer tanto com ele. Há uma química inegável entre os dois, e o envolvimento que começa a se desenvolver, mesmo não seguindo as fórmulas mais corriqueiras, é funcional para oferecer novas camadas de entendimento à personalidade do herói em questão.
Pouco importa se Anthony, Bob e Dignan (Owen, em um papel que caiu no seu colo quase que por acaso, mas que acabou sendo definitivo para a criação da persona cinematográfica a qual se fixou no decorrer dos anos) serão bem-sucedidos em seus intentos. Da mesma forma, a presença do veterano James Cann como o mafioso Sr. Henry serve mais para comprovar como a estranheza do conjunto serviu para despertar a atenção em Hollywood, e menos para injetar suspense na trama. Afinal, Pura Adrenalina pode ser muitas coisas, menos o que o inacreditável título nacional promete: ao invés de um clímax, tem-se aqui apenas o começo de uma jornada que no futuro se posicionaria como uma das mais interessantes do cinema contemporâneo.
Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- A Herança - 16 de dezembro de 2024
- Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá - 16 de dezembro de 2024
- Dahomey - 13 de dezembro de 2024
Deixe um comentário