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Sinopse

Leah é uma menina adolescente cheia de problemas e constantemente frustrada. Quando decide performar um ritual oculto para invocar uma bruxa para matar sua mãe, acaba despertando um mal que jamais poderia imaginar.

Crítica

Realizando seu segundo longa-metragem, o canadense Adam MacDonald parte de uma premissa dramática, envolvendo conflitos maternos e a dor do luto, para continuar seguindo a trilha do cinema de gênero iniciada com Sobrevivente (2014). Em Pyewacket: Entidade Maligna, o cineasta apresenta a história de Leah Reyes (Nicole Muñoz), jovem que passa por um período conturbado após a morte do pai, fato causador de uma ruptura na relação com a mãe (Laurie Holden), levando ao distanciamento e a atritos constantes. Como parte do processo de enfrentamento da perda, Leah desenvolve um interesse particular, compartilhado com um grupo de amigos do colégio, pelo ocultismo e rituais de magia negra. Mesmo que, a princípio inocente e sem consequências, tal interesse só faz aumentar a tensão entre a garota e a mãe, algo que atinge seu ápice quando a última decide, abruptamente, se mudar para uma casa em meio à floresta, numa região isolada da cidade.

É após um confronto intenso, já no novo lar, que Leah, em um ato intempestivo, coloca em prática seu fascínio pelas artes ocultas, realizando um ritual para invocar o espírito ancestral de uma bruxa, conhecido como Pyewacket, com o intuito de matar a própria mãe. Durante todo o primeiro ato, MacDonald se propõe a um desenvolvimento gradual da dinâmica mãe/filha e dos demais dilemas tipicamente adolescentes da vida de Leah, como o sentimento recíproco, e velado, de atração que mantém por um colega, Aaron (Eric Osborne), e ao qual ambos não se mostram capazes de externar. Embora muitas vezes ancorado em diálogos por demais expositivos e triviais, o diretor conta com o visível empenho de Muñoz e Holden, que buscam superar eventuais limitações para transmitir a angústia de suas personagens e estabelecer esse relacionamento de variações emocionais extremas que moldam o ambiente: ora afetuoso, ora opressivo.

Toda essa construção dramática se estende ao menos até a metade da projeção quando, de fato, MacDonald envereda para o terreno do suspense/terror. A aura densa que pairava sobre a narrativa desde o princípio se materializa a partir do momento em que eventos insólitos começam a ocorrer no cotidiano das protagonistas, confirmando o sucesso da conjuração feita por Leah e dando início, assim, a uma corrida contra o tempo na tentativa de revertê-la. Trabalhando com o mínimo de recursos, MacDonald demonstra um bom domínio sobre as diretrizes do gênero para criar uma atmosfera de apreensão convincente, apostando mais no poder de sugestão e em momentos climáticos do que nos sustos gratuitos, banais – por mais que, vez ou outra, se renda a esse efeito direto através do design sonoro nas transições entre cenas.

Dentre as habilidades do cineasta está a ambientação, sabendo extrair o melhor da sombria paisagem da floresta, como na ótima sequência noturna – de execução simples, mas extremamente eficaz – em que Leah e a amiga Janice (Chloe Rose) visitam o local do ritual, ou ainda do cenário da casa (o sótão, o teto de vidro do quarto). MacDonald é feliz também na concepção da encarnação da entidade maligna do título, especialmente em sua primeira aparição – uma das passagens mais sinistras e inquietantes do longa – oferecendo apenas vislumbres, sem revelá-la por completo até a chegada do clímax. Contudo, essa parcela de terror propriamente dito da trama não apresenta a mesma construção paulatina do arco dramático, gerando a percepção de falta de estofo, de efemeridade nas situações, até mesmo nas resoluções pessoais que a acompanham, como a relação entre Leah e Aaron.

A sensação é a de que a expectativa e a tensão criadas por Pyewacket: Entidade Maligna poderiam ser acentuadas caso houvesse uma elaboração mais substanciosa da mitologia em torno da criatura central. Pois são mínimas as informações presentes nas páginas do livro folheado por Leah, e mesmo a figura do renomado autor especialista no tema (papel de James McGowan), que supostamente deveria exercer a função narrativa de guia, trazendo mais conteúdo, pouco acrescenta. Essa falta de aprofundamento talvez possa ser uma opção consciente de MacDonald, já que, tradicionalmente dentro do gênero, quanto mais regras são estabelecidas, maiores as chances de que essas tenham de ser quebradas em algum momento. Dessa forma, o diretor evita grandes discrepâncias na trama e ganha certa liberdade para carregar o ato derradeiro de situações e atitudes discutíveis, mas que, no fim, servem a entrega de um desfecho verdadeiramente instigante. Ainda que, no geral, a dedicação ao elemento sobrenatural não seja a mesma demonstrada para com o elemento humano, tal conclusão, que foge ao esperado, garante impacto à obra.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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