Qual Seu Número?

Crítica

Não há uma única razão para se assistir a Qual seu número? senão para conferir a excelente forma do ator Chris Evans, que aparece praticamente pelado o filme inteiro. E, sim, ele está ainda melhor do que em Capitão América: O Primeiro Vingador (2011), lançado antes mas produzido depois. Porque, vamos combinar, comédias românticas são todas praticamente iguais – o casal do cartaz se apaixona, fica junto, briga, se separa, e depois de um tempo fica de junto de novo e vivem felizes para sempre! O que muda de uma trama para outra são detalhes como esse. E se você é do time que não curte ver um cara musculoso desfilando nu em 80% de suas cenas, então fica aqui a dica: caia fora!

Até porque a escolhida como protagonista de Qual seu número? é Anna Faris, uma atriz excelente para comédias descerebradas – sua cara de idiota é perfeita para produções como a saga Todo Mundo em Pânico ou A Casa das Coelhinhas (2008) – mas qualquer papel que lhe exija maior seriedade pode soar um tanto equivocado. Só ver como ela se saiu em O Segredo de Brokeback Mountain (2005) ou em Encontros e Desencontros (2003). Lembrou? Pois então, nem eu. Ela é boa mesmo é no pastelão, e como aqui temos algo intermediário, o resultado vai pela mesma linha: é legal, mas poderia ser muito melhor. Como um passatempo inofensivo, que diverte e entretém enquanto dura, mas assim que acaba já esquecemos. Mais ou menos como os filmes que protagonizou ao lado de outro galã, Ryan Reynolds, em A Hora do Rango (2005) e Apenas Amigos (2005).

Qual seu número? parte da ideia de que toda mulher – principalmente as solteiras – são viciadas em matérias de revistas femininas que prometem soluções fantásticas sobre “como ter o corpo ideal”, “como ter um orgasmo inesquecível” e “como conquistar o homem dos seus sonhos”, entre outras do mesmo gênero. A origem está em um artigo que diz que o número média de namorados que uma garota pode ter é 10,5, e que uma quantidade acima de 20 a deixaria virtualmente impossibilitada de um casamento perfeito. Ally (Faris), pelas suas contas, está no candidato 19, e só tem mais uma chance de acertar. E ao invés de tentar encontrar O cara, decide ir atrás de todos os seus ex-namorados para dar-lhes uma nova chance. Nessa tarefa irá contar com a ajuda do vizinho garanhão (Evans), que é o estereótipo de tudo que ela quer agora evitar: irresponsável, inconsequente, irresistível. E por quanto tempo os dois conseguirão seguir nessa missão sem deixar que os próprios instintos que os aproximam falem mais alto?

Com boas participações coadjuvantes – como Blythe Danner, Ari Graynor (Sobre Meninos e Lobos, 2003) e Dave Annable (Brothers and Sisters, 2006) – Qual seu número? ainda se sobressai pela direção discreta de Mark Mylod, profissional que vem da televisão, de séries como United States of Tara (2009) e Entourage: Fama e Amizade (2004-2011). Ele simplesmente faz seu trabalho abrindo espaço para o que seus protagonistas tem de melhor: o ar aloprado de Faris e o charme conquistador de Evans. E se o enredo não ajuda mais, ao menos esses dois elementos fazem um trabalho competente, impedindo qualquer frustração maior. E já tá de bom tamanho!

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Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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