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Sinopse

Tati é apaixonada pelo namorado, Marcelo, e fazia tudo para mantê-lo sob controle, mas o cara era um mulherengo e por isso acabaram dando um tempo. Disposta a reconquistá-lo, ela acaba se oferecendo como "cobaia" para Conrado, um professor de Biologia que defende uma tese polêmica sobre a harmonia entre as conquistas amorosas dos humanos e as atitudes dos animais.

Crítica

Desde o impressionante sucesso de bilheteria de Se Eu Fosse Você (2006) - e, principalmente, de Se Eu Fosse Você 2 (2009) - todo produtor interessado em fazer dinheiro com o cinema brasileiro quer descobrir a fórmula da comédia perfeita. Mas para cada De Pernas pro Ar (2010) surgem vários Qualquer Gato Vira-Lata, que nada mais é do que uma desculpa para um desfile quase infindável de caras e bocas que mais provoca tédio do que diversão. A impressão que se tem ao assisti-lo é que nem mesmo o realizador sabia o que queria, deixando elenco e equipe técnica tão à vontade que cada um parece estar num filme diferente. Não há coesão, conjunto ou entrosamento entre as partes desse todo. E sem se interessar pelo que se desenrola na tela, restam apenas bocejos na plateia.

Segunda peça de Juca de Oliveira a ser adaptada ao cinema, Qualquer Gato Vira-Lata comprova o que já havia ficado evidente em Caixa Dois (2007): os textos do veterano comediante funcionam muito melhores no palco do que na sala escura. A ironia, a crítica de costumes e o deboche nacionalista se perdem irremediavelmente, resultando em algo tão bobo quanto ingênuo. Lembra também outro sucesso teatral que naufragou na película: Trair e Coçar é só Começar (2006), baseado num texto de Marcos Caruso e Jandira Martini. Esse é um tipo de comédia parte de um tipo de humor tão específico e nacional que qualquer tentativa de universalizá-lo através de um espectro maior, como o cinema, termina por descaracterizá-lo.

A começar pela própria matriz do argumento, mundialmente reconhecida. Afinal, de onde vem a ideia de “mulher é ajudada por homem a conquistar outro homem, só para que lá pelas tantas o primeiro perceba que é ele que está, de fato, apaixonado por ela”? Isso nada mais é do que “Cyrano de Bergerac”, clássico da literatura francesa. Adaptado para a realidade carioca, temos no centro da ação a intempestiva Tati (Cléo Pires), que é desprezada pelo namorado (Dudu Azevedo) e passa a ser orientada pelo professor Conrado (Malvino Salvador), um pesquisador que acredita na teoria evolucionista de Charles Darwin de que as mulheres devem deixar de ser caçadoras para assumirem de vez seu papel como caça no jogo da conquista. Machista é o mínimo, não?

Pires até pode render quando em mãos seguras, como já visto em Benjamim (2003), mas aqui o estrago é tão feio que até esquecemos sua constrangedora participação em Lula, O Filho do Brasil (2009). Já Malvino é um ator limitado, e se em O Signo da Cidade (2007) ele não chega a comprometer, é por estar adequado a um papel que não lhe exige além do que pode entregar aliado ao fato de estar sob o comando de um diretor ciente das capacidades do seu elenco – dois fatos inexistentes dessa vez. Azevedo, por outro lado, só deve ter sido escalado pelo físico ou por todos os demais garotões da sua faixa etária estarem ocupados em produções melhores – ele é tão careteiro e inconsciente das exigências de seu personagem que chega a ser irritante.

Qualquer Gato Vira-Lata não é um filme autoral, obra dos anseios ou expressões cinematográficas, com domínio da linguagem e experiência no riscado. Muito pelo contrário, é um mero produto comercial, feito de forma rápida para ser consumido de modo ainda mais frívolo, sem reflexões ou análises. O diretor Tomás Portella (que participou da produção de longas como O Incrível Hulk, 2008) estreia como realizador com um trabalho que nada mais é do que uma nota de rodapé na carreira de qualquer cineasta que se preze. Feito a toque de caixa apenas para preencher espaço e gerar um lucro fugaz, talvez se salve apenas diante a função de levantar uma audiência apta a degustar o nosso cinema. Nos cabe agora torcer que, ao invés de assustá-lo com tamanha ruindade, sirva como aperitivo e conduza esse espectador a exemplos mais relevantes.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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