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Crítica


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Sinopse

Em Quando Eu me Encontrar, Dayane vai embora de repente, deixando para trás a mãe, a irmã e seu noivo. Todos tentam tocar a vida em frente, mesmo sentindo terrivelmente a falta de Dayane.

Crítica

Periodicamente, ondas tomam conta das tramas cinematográficas. Não coincidentemente conversam com transformações políticas e choque de gerações. No ambiente familiar, em recorte mais recente, a indústria hollywoodiana produziu bons debates acerca de distanciamento e independência através dos premiados A Filha Perdida (2021) e Os Banshees de Inisherin (2022). Apresentando uma tonalidade mais suave, Quando Eu Me Encontrar, concebido pelas cineastas Michelline Helena (Lana & Carol, 2019) e Amanda Pontes (A Filha do Palhaço, 2019), é um bom exemplar desse conjunto. 

A trama, situada em Fortaleza, no Ceará, é daquelas que conversa com qualquer canto do globo. Nela, a personagem Dayane, que nem chega a dar as caras em cena, deixa um bilhete de despedida e abandona abruptamente os entes mais próximos: a mãe Marluce (Luciana Souza), a irmã Mariana (Pipa) e o noivo Antônio (David Santos). A sequências seguintes tomarão a forma de esquetes, misturando habilmente comédia e drama para desvendar a forma como cada um lidará com o afastamento repentino da jovem. 

Nessa conjectura, três temas se destacam: maternidade solo, irmandade e sentimento de posse. O primeiro se concentra em Marluce, tradicional mãe que foi doutrinada para encarar sua condição como labuta divina e renúncia de prazeres, na esperança de deixar bons frutos para a sociedade e ver sua prole honrá-la. Em seguida, Mariana precisa lidar com o bullying de ser uma jovem negra e bolsista em um colégio de classe alta. Por fim, Antônio é o típico ex inconformado com a separação, educado para crer que o abandono de uma mulher  representa fraqueza masculina na condução de um relacionamento, visto que este, em seu entendimento, é uma espécie de contrato entre fornecedor e receptor. 

Ao longo dessa jornada, os obstáculos do cotidiano dos envolvidos se conectará, de alguma forma, com o ocorrido. A proposta das realizadoras possui simplicidade harmoniosa, com roteiro sensível e capaz de fazer o espectador perceber que o desmembramento nem sempre tem haver com infelicidades interpessoais, mas também com a busca de cada indivíduo em encontrar seu lugar. E não somente, pois após a partida de Dayane, os protagonistas se dão, enfim, a chance de descobrir a si mesmos e, paralelamente, nos permitem observar os planetas deixando de orbitar uma espécie de sol. Sem exageros dramáticos, captura o cotidiano nacional em situações empáticas, com ênfase para Cecília, amiga próxima de Dayane, que será advogada da liberdade individual em interpretação cativante de Di Ferreira. 

Não fosse a pressa - ou superficialidade - de alguns desenvolvimentos de subtramas, a obra garantiria ainda mais distinção. Entretanto, no frigir dos ovos, quando os contratos de relações humanas são quebrados, empreitadas como Quando Eu Me Encontrar plantam boas argumentações para matérias contemporâneas. Afinal, já é hora de aprendermos que, como diria o poeta, “ninguém é dono de ninguém”, e a existências são breves demais para que a dedicação ao outro seja maior do que a própria. 

Filme visto durante a 10ª Mostra de Cinema de Gostoso (2023).

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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