Crítica
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Sinopse
Depois de se esbarrarem em uma festa, Margot, de 45 anos, e Margot, de 20 anos, percebem que são a mesma pessoa, com um quarto de século de diferença. A partir de então, desenvolvem uma estranha amizade, na qual uma delas passa por momentos da vida que a outra já conhece, e a outra tenta auxiliar a mais nova a não cometer os mesmos erros desnecessários.
Crítica
Margot quer colocar sua vida nos eixos. Mas será que, em algum momento passado, ela chegou a trilhar uma linha reta? Ou optou pelos caminhos tortuosos, pegando atalhos e se arriscando por trechos não desbravados toda vez que a oportunidade se apresentava? Essa menina, louca para descobrir o mundo, não está muito longe da mulher que hoje olha para trás com um misto de arrependimento e orgulho. E apesar de 25 anos separarem as duas protagonistas de Quando Margot Encontra Margot, ambas aparecem lado a lado na comédia dramática escrita e dirigida por Sophie Fillières, um filme que ganha mais pontos pelas sutilezas que contém, e menos pelas reviravoltas do enredo que tenta defender.
Margot (a sempre ótima Sandrine Kiberlain) está em uma festa em Paris, à procura da filha de uma amiga, quando se depara com Margot (a revelação Agathe Bonitzer), uma jovem que está passando por um período um tanto conturbado – o fim da escola, o adeus aos colegas, a busca por novos rumos. Um encontro rápido no banheiro e, enquanto arrumam suas maquiagens, percebem que compartilham mais do que o mesmo nome: sem grandes questionamentos, se dão conta de que são duas versões da mesma mulher, apenas em tempos distintos. Ou seja, a Margot de 20 anos irá se tornar a Margot de 45, pois essa, lá no passado, foi essa mesma garota. A mais madura, a despeito da experiência que o tempo deveria ter lhe oferecido, é quem ‘compra’ a ideia com mais facilidade, insistindo no convencimento por parte da outra. E por mais que a novata se revele incrédula num primeiro momento, será a partir da sintonia que irá se estabelecer entre as duas o segredo para o sucesso dessa empreitada em conjunto.
E, afinal, o que Quando Margot Encontra Margot se propõe a discutir? À princípio, talvez a resposta mais óbvia venha de uma constatação que pretende contradizer velhas diretrizes: é possível que o passar dos anos não tragam sabedoria, sendo que, muitas vezes, é o contrário que irá se confirmar. Quando jovens, o ímpeto pode até falar mais alto, mas muitas vezes seguirá acompanhado por uma vontade quase imperiosa de se avaliar bem cada passo a ser dado e quais as consequências que eles terão ao repercutir no futuro. A Margot de Sandrine Kiberlain é hesitante, parece identificar naquela que recém encontrou, mas que tão bem conhece, uma tão aguardada oportunidade de rever os erros de ontem e se preparar melhor para o amanhã. É sua chance de reparos, de ir atrás de um esperado acerto de contas.
Mas a Margot de Agathe Bonitzer não pensa assim. O que ela quer é liberdade, tanto para acertar, como, também, para poder errar. Afinal, já diz o ditado: “é errando que se aprende”. A desconhecida que se apresenta afirmando saber muito bem cada passo que ela está prestes a dar pela primeira vez sabe quais são os prós e os contras de cada movimento em falso. Porém, nem todo conselho vem no momento mais apropriado. E somente quem é livre pode se dar ao luxo de tropeçar, ainda mais com a certeza de que se ganham não apenas arranhões, mas também o aprendizado sobre como seguir adiante. A Margot de 45 já passou por tudo aquilo, e lhe falta paciência para admirar os acasos e coincidências. Para a Margot de 20, por outro lado, tudo lhe é novo, tanto o cair, quanto o se levantar.
Diretora e roteirista de longa trajetória no cinema francês – está na ativa há quase três décadas, desde o lançamento do curta Des filles et dês chiens (1991) – Sophie Fillières é mais conhecida no Brasil pelo roteiro de Um Fim de Semana na Normandia (2014), filme estrelado por Karin Viard e Noémie Lvovsky. A temática feminina se faz mais uma vez presente em Quando Margot Encontra Margot, porém, ao invés de uma procurar na outra os erros e acertos que tanto invejam e admiram, dessa vez Sandrine Kiberlain e Agathe Bonitzer revelam uma curiosa sintonia como os dois lados de uma única mulher, disposta tanto a corrigir deslizes como a abraçar novos acertos. A questão metafísica – as duas existem de fato? As conversas entre elas chegam a ocorrer? E, em caso positivo, como isso foi viável? – parece ser o menor dos interesses. São mulheres, enfim, múltiplas, por mais que sigam sendo irrevogavelmente singulares. E se não por todo o resto, apenas por lançar essa ideia, muito do que aqui se propõe se mostra válido.
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