Crítica
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Crítica
Que a Netflix tem investido cada vez mais em conteúdo original, isso já não é surpresa para ninguém. No entanto, ao contrário de outras plataformas streaming, como a HBO ou a Amazon, a grande diferença que percebemos em relação aos projetos desenvolvidos por esta gigante do entretenimento é sua pouca preocupação com a qualidade destes produtos, mais focada no carisma de seus astros, atraindo nomes como Brad Pitt (War Machine, 2017) e Will Smith (Bright, 2017), porém sem dar muita atenção ao resultado final que, enfim, é o que acaba chegando ao público. É por isso que volta e meia os assinantes do serviço acabam se deparando com longas genéricos como esse Quando Nos Conhecemos, título que obviamente existe mais para ocupar espaço na cartilha de opções do que para significar qualquer tipo de avanço dramatúrgico, uma vez que nem desenvolver a contento a sua premissa ele consegue, muito menos entreter com um mínimo de diversão.
E tudo só não fica pior pois temos à frente do elenco o simpático Adam DeVine, ator que já demonstrou em outras ocasiões (1) ter talento cômico de sobra, e (2) não ser bonito ou simpático suficiente para carregar sozinho um filme ou série de televisão. Ele pode roubar as atenções em bobagens como Os Caça-Noivas (2016) ou A Escolha Perfeita (2012), ou se encaixar sem grandes tropeços em elencos afinados como os de Modern Family (2013-2016), mas está longe de ter a desenvoltura suficiente para conduzir uma história por conta própria. Até porque suas tiradas são praticamente sempre as mesmas, a do malandro de bom coração que conquista a garota mais pelo charme do que pelo sex appeal, digamos.
Em Quando Nos Conhecemos, ele é Noah, rapaz apaixonado por Avery (Alexandra Daddario, que também tem na sua filmografia um passatempo descartável ao lado de Zac Efron, Baywatch, 2017) desde o momento em que a conheceu, em uma festa à fantasia há três anos. Porém, sem muito jeito com as mulheres, ele acaba caindo na ‘zona da amizade’, vendo-se sem jeito para se declarar a ela. Durante o noivado dela com o bonitão Ethan (Robbie Amell, de A Babá, 2017), Noah entra em pânico e recorre ao mesmo lugar onde passou a primeira noite ao lado da garota dos seus sonhos. E naquele bar, ele volta à cabine de fotos automáticas, com um único desejo: ter uma outra chance com ele. E como estamos diante de uma fantasia romântica, é exatamente isso que acontece: ele volta no tempo, para o mesmo dia em que irá conhecê-la. De Feitiço do Tempo (1993) até Antes que eu Vá (2017), quantas histórias similares a essas já vimos antes?
Uma vez que isso fica claro, o que o protagonista precisa fazer? Descobrir como agir diferente para, então, tomá-la em seus braços de forma apaixonada, e não como mais um amigo. Nestes múltiplos cenários que passam a se suceder – pois, obviamente, ele não irá acertar de primeira, ou segunda, nem mesmo terceira... – pouco importa o querer dela. Tudo acaba girando em torno do que ele faz ou deixa de fazer. Além do posicionamento machista do diretor Ari Sendel (vencedor do Oscar pelo curta West Bank Story, 2005), há inserções puramente artificiais, que servem mais a um propósito do realizador do que uma necessidade narrativa, como a presença da melhor amiga dela – Carrie (Shelley Hennig, de Ouija: O Jogo dos Espíritos, 2014) – cuja influência cada vez maior serve apenas para antecipar o desenlace final – ou o melhor amigo dele, Andrew Bachelor (Música, Amigos e Festa, 2015), que parece estar em cena apenas para preencher uma cota racial, pois não lhe é oferecido o menor desenvolvimento, servindo apenas como figura de apoio.
No final das contas, Quando Nos Conhecemos é não mais do que um passatempo descartável, tendo como função ocupar espaço nas agendas dos espectadores mais românticos – e menos críticos – entre uma maratona e outra de sua série favorita. Sem estrutura para sustentar uma exibição cinematográfica, é um produto ligeiro para ser consumido em tablets, computadores e até mesmo smartphones, sem preocupação estética ou menor tipo de ambição artística. E se a prova de fogo parecia mesmo estar sobre os ombros de Adam Devine, o melhor seria voltar à confortável posição de coadjuvante simpático. Ali, ao menos, as exigências eram menores, e suas chances de brilhar, ainda que limitadas, dependiam apenas dos seus esforços, e não de um conjunto muito maior que está, obviamente, além da sua capacidade.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Thomas Boeira | 4 |
MÉDIA | 3.5 |
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