Crítica
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Sinopse
Depois de passarem anos acreditando que a mãe havia morrido, as irmãs Rachel e Jackie descobrem que ela não apenas está viva, mas que também é uma das principais estrelas de uma famosa novela.
Crítica
O cinema independente norte-americano sempre operou como se fosse sua responsabilidade oferecer uma resposta aos grandes espetáculos visuais de Hollywood. Ou seja, se as grandes produções se ocupavam de muitos tiros e explosões, além do uso máximo de efeitos especiais, os que se consideram “artistas” acima de qualquer outra coisa ficariam responsáveis pelos filmes mais autorais, que falariam de sentimentos e emoções da ‘vida real’. Dentro desse universo, um dos temas mais recorrentes é o que trata das relações familiares – obviamente, nem sempre muito fáceis de serem lidadas. Afinal, se na hora das fotos ou de se exibir para os vizinhos apenas sorrisos e acertos são colocados em evidência, por trás dessa aparência de fachada invariavelmente se escondem segredos, mentiras e decepções – ou, ao menos, é assim que muitos desses realizadores esperam que as coisas funcionem. Em Quando Você Menos Espera, a diretora, roteirista e protagonista Hannah Pearl Utt entrega, até em oposição ao seu título, exatamente aquilo que qualquer um já acostumado com esse tipo de drama poderia imaginar. É mais do mesmo, portanto, sem nada de novo a oferecer ao gênero.
Apesar dos nomes – e rostos – de Mandy Patinkin (Homeland, 2011-2020) e Alec Baldwin estamparem o cartaz do filme, é bom deixar claro que cada um deve ter, no máximo, uma ou duas cenas – se tanto. O primeiro, ao menos, é até um personagem importante: o pai que morre logo no começo da trama. Já o segundo tem participação descartável, sem relevância alguma dentro do enredo – ou seja, deve ser amigo da realizadora. Na história de Pearl Utt, ela é Rachel, uma diretora e roteirista (ou seja, uma versão pouco distinta de si mesma) que mora com o pai, a irmã e a sobrinha, no mesmo prédio onde funciona a companhia de teatro da família. O patriarca é um homem que dedicou sua vida à arte, mas nesse ponto de sua trajetória, está cansado de fazer concessões e nunca ter alcançado os louros que seu talento prometia. Após sua partida, caberá às filhas lidar com o último desejo dele: a montagem de uma peça que considerava o resumo de sua obra. No entanto, elas têm outro problema mais urgente.
É no momento da leitura do testamento que descobrem que a casa/teatro onde moram é propriedade conjunta do pai com uma mulher estranha a elas. O mais curioso: ao pesquisarem, se dão conta de que se trata de uma popular atriz de telenovelas. Não precisarão ser grandes investigadoras para perceberem que a desconhecida é, na verdade, a mãe que nunca conheceram, muito por terem sido ensinadas, desde pequenas, que ela havia morrido. Enquanto Rachel prefere manter distância, Jackie (Jen Tullock, de 6 Balões, 2018) opta por ir atrás da artista – afinal, também está acostumada com os palcos, e mais do que parentes, também são colegas! Se Pearl Utt é a centrada e responsável, a outra, apesar de mais velha, é tresloucada e inconstante, do tipo que não consegue colocar as contas em dia e nunca dá a devida atenção à própria filha. Além disso, quando coloca algo na cabeça, é difícil demovê-la da ideia.
Esse mote poderia abrir diversas possibilidades. O reencontro da mãe com as duas tem potencial para ser explorado sob diversas formas, das mais dramáticas ao pastelão rasgado. A cineasta, no entanto, acaba escolhendo trilhar um caminho do meio, sem elevar a temperatura. Os motivos do afastamento materno são revelados apenas depois de muita demora – e, mesmo assim, surgem abruptos, como uma desculpa não levada em consideração, independente do impacto que possa causar. As jovens não chegam a perguntar o que aconteceu entre os pais – o que, imagina-se, deveria ter sido a primeira coisa a ser feito – e, por outro lado, acabam seduzidas (cada uma à sua maneira) pelo estilo de vida mais glamouroso daquela que nunca se doou a elas. Poderia haver aqui espaço até mesmo para uma crítica entre os ‘trabalhadores da arte’ e os ‘hipnotizados pela fama’, mas nem isso chega a ser explorado com profundidade.
Se Pearl Utt é absolutamente apática enquanto atriz, Tullock rouba as atenções com facilidade, mesmo quando as condições lhe são adversas. Por outro lado, é com pesar que o espectador observa talentos como os de Patinkin e, principalmente, Judith Light (American Crime Story, 2016) – no papel da mãe – serem desperdiçados em estereótipos cansados. Mike Colter (Luke Cage, 2016-2018), como um contador e potencial interesse romântico, é outro que não encontra espaço para dizer a que veio. Assim, mesmo questões pertinentes, como a identidade homossexual da protagonista ou o amadurecimento sexual da mais nova da família, acabam sendo não mais do que citados, tratados como notas de rodapé, adereços de uma fantasia que não chega a revelar seu propósito. Quando Você Menos Espera é uma reunião de elementos curiosos, mas tão dispersos e mal aproveitados, que tudo o que consegue é enaltecer aquela por trás – e à frente – desse conjunto. Tanto pelo enredo que deveria desenvolver como nos esforços que, ao invés de somarem, perdem valia justamente pelo vazio no qual operam.
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