Crítica
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Sinopse
Quatro cientistas ganham poderes especiais após serem teletransportados para um universo paralelo. Eles precisam utilizar essas mutações a favor da sobrevivência da Terra quando um antigo aliado vira um mortal inimigo.
Crítica
A maioria das transposições de personagens das histórias em quadrinhos para o cinema precisa lidar com um problema cada vez mais complicado – o filme de origem. É aquele primeiro longa que tem a função de, ao mesmo tempo, explicar como surgiram os poderes de determinado super-herói – se foi picado por uma aranha radioativa, se viu os pais serem assassinados em um beco escuro, se é um alienígena enviado de outro planeta ou se é um ladrão que ao vestir um uniforme especial consegue falar com insetos – e, ainda assim, apresentar um trama envolvente. Ou seja, necessita funcionar em dois níveis: sendo didático o suficiente para quem não o conhece e atraente o bastante para quem já é fã de carteirinha. O novo Quarteto Fantástico, reboot nas telas feito exatamente dez anos após o longa de Tim Story, peca justamente por ignorar esta segunda – e cada vez mais ampla – parcela de público. Enfim, preocupa-se apenas em apresentar o be-a-bá da formação do grupo e como adquiriram suas habilidades extraordinárias, eximindo-se de introduzir qualquer novidade digna de atenção.
Ninguém consideraria uma tarefa muito complicada fazer um filme melhor do que os constrangedores Quarteto Fantástico (2005) ou Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado (2007), pois ambos eram por demais infantilizados, e ainda que pudessem ser encarados como diversão passageira, geravam um contraste desconfortável em relação aos longas recentes do gênero, cada vez mais realistas e cientificamente justificáveis. Josh Trank, que estreou com uma curiosa e competente brincadeira sobre o gênero – Poder Sem Limites (2012) – parece confirmar os rumores de conflitos nos bastidores que acompanharam essa nova produção. Além de controvérsias vazias como a mudança da cor da pele de determinado personagem ou se o acidente que lhes transforma em pessoas especiais surge de uma experiência espacial ou bidimensional, este Quarteto Fantástico resvala ao se acomodar em entregar apenas o trivial, deixando de lado qualquer surpresa que porventura fosse esperada. E isso é o mais constrangedor.
Mais da metade do enredo se encarrega em apresentar os protagonistas e suas origens: Reed Richards (Miles Teller, o único com algo nas mãos para desenvolver) é um cientista genial desde criança, Ben Grimm (Jamie Bell, que mostra o rosto em duas cenas antes de desaparecer por trás de uma montanha de efeitos digitais) é seu melhor amigo e braço direito, Sue Storm (Kate Mara, com a mesma expressão constantemente preocupada que marcou sua passagem pela série House of Cards, 2013) é a especialista compenetrada e irmã adotiva do inconsequente Johnny Storm (Michael B. Jordan, que não consegue ir além do clichê, e não por sua culpa, e sim por falta de oportunidades), um legítimo rebelde sem causa convocado de última hora. Eles, ao lado do incompreendido Victor Von Doom (Toby Kebbell, ansioso por mais tempo em cena), criam um portal para uma outra dimensão, a qual batizam como Planeta Zero. Uma vez lá, sofrem um acidente inexplicável, e assim surgem o Homem Elástico, o Coisa, a Mulher Invisível, o Tocha Humana e o assustador Doutor Destino.
É curioso perceber o quanto de tempo este filme dispende no pré-evento e como acelera desajeitadamente as coisas durante o pós-cenário. Uma vez que os heróis se constituem, seus dramas se esvaziam – a culpa entre Reed e Ben, por exemplo, se resume a duas frases rápidas e a um soco em uma árvore – e situações injustificáveis se sucedem – qual a razão da fuga de Reed, se esta serve apenas para seu retorno logo em seguida? E quando Dr. Destino é reencontrado, sem mais nem menos ele expressa apenas um sentimento: destruir o mundo. Afinal, qual megavilão não deseja o mesmo? Tudo é muito rápido e atropelado, com motivações rasas e simplistas, tanto quanto os porquês dos poderes manifestados – a garota desaparece pois antes não se sentia parte da família, o líder se estica como consequência de sempre tentar atender a todos, o casca grossa vira pura pedra, enquanto que aquele de temperamento explosivo passa a entrar, literalmente, em chamas. Relações óbvias que esvaziam qualquer possibilidade de subtexto.
Qual a razão, portanto, deste novo Quarteto Fantástico? Meramente comercial, dirão os mais antenados. Ao contrário dos mais populares personagens do Universo Marvel, como Capitão América e Homem de Ferro, estes ainda pertencem a um estúdio cinematográfico rival – no caso, a Fox. Se não fossem mais aproveitados, seus direitos de uso seriam perdidos, e com isso retornariam aos donos originais – a Marvel, que os vendeu anos atrás numa época em que precisava fazer movimento de caixa para poder dar início aos seus próprios longas. Muito melhor seria, portanto, que estes heróis fossem simplesmente devolvidos a quem lhes compreende com efeito, pois assim se poderia esperar que fosse feito algo à altura da importância que desfrutam nos gibis. Por outro lado, se decidirem insistir nessa linha, que ao menos sigam as lições da saga X-Men (também da Fox) e façam de fato uma aventura sobre um grupo de super-heróis, e não um arremedo indeciso entre provocar bocejos ou embaraços como o que aqui presenciamos.
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