Crítica
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Sinopse
Carlos se encontra em uma dobra do tempo, confrontando o seu eu mais jovem. Um se lembra, o outro esquece. Juntos, e ao lado de situações providas pelo pai de ambos, um homem inusitado, eles vão tentar encontrar um equilíbrio entre si.
Crítica
Lançado em 1995, o romance Quase Memória impulsionou um despertar na carreira do autor Carlos Heitor Cony. De forte teor biográfico, o livro foi um sucesso de vendas e estimulou a redescoberta de sua obra por toda uma nova geração de leitores. Exatamente 20 anos depois, o texto chega às telas sob a condução de Ruy Guerra com a missão de promover na carreira do cineasta o mesmo efeito provocado na do escritor. Há uma década sem filmar – seu último longa foi O Veneno da Madrugada (2005) – o diretor premiado nos festivais de Berlim, Gramado e Brasília (e com mais de uma passagem por Cannes) precisaria de um projeto de peso para resgatar o prestígio de outrora. Esse, no entanto, ainda que tenha sido auspicioso no papel, resultou em uma obra fraca e desencontrada na tela, esvaindo a relevância e o carisma da fonte original.
Talvez tenha chegado o momento do próprio Guerra, no alto dos seus 84 anos, produzir algo memorialista, que olhasse para trás com respeito e ternura. Assim fizeram vários realizadores em trabalhos que respondem por seus melhores momentos. Mas nem todo mundo pode ser Federico Fellini – o mestre italiano chega a ser citado literalmente em uma reprodução óbvia e desprovida de maiores significados de Amarcord (1973). Em uma estrutura assumidamente teatral, temos em cena dois homens – Charles Fricks e Tony Ramos – representando etapas diferentes de uma mesma história. Um é o maduro, aquele que acha que sabe tudo e que está pronto para conquistar o mundo. O outro é o velho, cansado de seguir em frente, pronto para descansar e reconhecer sua falta de valia. Quando se deparam, as lembranças de um se tornam vivas para o outro. Mas a diferença está em como cada um irá se posicionar diante destes fatos do tempo.
A interpretação destas memórias compõem o tecido do filme. Eles se lembram da infância difícil, do pai (João Miguel) cheio de histórias incríveis e absurdas, da mãe (Mariana Ximenes) que tentava colocar um pouco de ordem na casa ao mesmo tempo em que vivia à mercê das loucuras do marido, e daqueles que viviam ao redor deles, figuras folclóricas que ganham colorido à medida que o narrador se interessa – ou não – por eles. Mas o centro destas reminiscências está num pacote, amarrado e assinado pelo pai falecido há muitos anos. Como explicar a presença do objeto se torna uma questão menor diante do embate entre as duas versões do protagonista. Mas falta ao realizador habilidade em manejar estes dois mundos, pois um se posta duro, com indagações prementes e viscerais, ao mesmo tempo em que o outro parece somente uma alegoria, um pastiche despropositado que termina por não encontrar um espaço de respeito na narrativa.
O registro imposto por Tony Ramos – o maior ator brasileiro em atividade – chega a ser surreal, tamanha sua competência em fornecer vivacidade a este personagem em despedida. Sua força é tamanha que até o fraco desempenho de Fricks – seu parceiro de cena – não chega a comprometer. Miguel – beirando a caricatura – e Ximenes – apagada e sem muito o que fazer – respondem, por outro lado, por sequências tão aleatórias que mais parecem ser ordenadas em busca de um efeito pictórico no espectador, como se a imagem resultante de seus atos fosse mais importante do que o sentido destes encontros. Ruy Guerra já entregou grandes filmes no passado, mas enquanto Cony tentou – e conseguiu – criar um painel afetivo de sua própria história, o diretor se perde em caminhos sem saída e decisões ultrapassadas, como se Quase Memória fosse um fim, e não um processo. E é esse justamente seu maior equívoco.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Wallace Andrioli | 5 |
Filipe Pereira | 4 |
Leonardo Ribeiro | 7 |
Thomas Boeira | 8 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 5.3 |
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