Crítica
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Sinopse
Todos têm um destino a ser cumprido. Depois de ganhar mais uma chance de viver, o cachorro Bailey tenta descobrir qual o seu. Após quatro vidas, ele continua sua busca pela razão de continuar voltando à Terra quando seu tempo nela parece acabar.
Crítica
Poucos cineastas em Hollywood são mais indicados para fazer um filme sobre o melhor amigo do homem do que o sueco Lasse Hallström. Isso em tese, é claro. Ele, que primeiro chamou atenção pelo drama Minha Vida de Cachorro (1985) – que lhe rendeu duas indicações ao Oscar, como diretor e roteirista – realizou anos depois o emocionante Sempre ao Seu Lado (2009), com Richard Gere em uma história baseada em fatos reais sobre o cão Hachiko, que mesmo após a morte do seu dono seguia aguardando pela sua volta diária do trabalho. No entanto, mesmo tendo em sua filmografia outros títulos badalados, como Regras da Vida (1999) e Chocolate (2000) – ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme – nos últimos tempos ele vinha se dedicando apenas à dramas românticos superficiais e descartáveis, como Querido John (2010) e Um Porto Seguro (2013). Pois este Quatro Vidas de um Cachorro, adaptação do romance de W. Bruce Cameron, nada mais é do que a junção do que de pior ele alcançou nestas duas correntes: animais sendo explorados de modo exageradamente sentimentalista em um enredo forçosamente melodramático e piegas.
Pois Quatro Vidas de um Cachorro é exatamente isto: um filme feito para chorar. Só que o primeiro a debulhar lágrimas, como ficamos sabendo pouco antes do seu lançamento nas telas, não foram os espectadores mais sensíveis e menos criteriosos, mas, sim, os próprios cães obrigados a trabalhar na produção. Em um vídeo divulgado secretamente sobre os bastidores das filmagens, um pastor alemão é jogado em uma piscina com água turbulenta, apesar do seu visível medo de enfrentar o desafio. Na ficção, o animal se atira em uma represa para salvar uma garota prestes a se afogar. Na vida real, no entanto, quem estava precisando de ajuda era o indefeso protagonista.
Se este não for motivo suficiente para desprezar esta obra – pois se o mau-trato se deu de forma evidente com um dos cachorros, quem garante que os demais não foram tratados da mesma forma? – basta enfrentar essa sessão de quase duas horas para se deparar com um roteiro maniqueísta, formulaico e baseado em uma série de ingenuidades e clichês. Como o equivocado título nacional já entrega, este é um longa espírita, pois parte do pressuposto de que a reencarnação não só é possível, como um fato concreto. E vai além, apostando que uma vida após a outra é não mais do que o resultado de um acúmulo de experiências, ao invés de cada vez ser uma jornada única e singular. Assim, o mesmo animal, que primeiro é batizado como Bailey, em seguida volta como Ellie (sim, inclusive trocando de sexo), mas com todas as memórias das vivências anteriores. E continua, passando a ser Tino e, por fim, Buddy.
Se o espectador não achar que isso é exigir demais de sua simpatia para com o projeto, outras consequências absurdas vão permeando a trama. Sua primeira vida é curta demais, pois nasce cego e logo é sacrificado. Na segunda – e de maior destaque – ele é o cão de estimação de Ethan, um menino cheio de vida, porém solitário. Filho único, percebe as mudanças no casamento dos pais e aposta em uma bolsa da faculdade para ampliar seus horizontes – isso até uma tragédia o obrigar a mudar seus planos e lhe roubar seu ânimo de viver. Esse desfecho acaba se refletindo no bicho, que após morrer volta como um cão policial de um oficial recluso. No meio de uma perseguição, o animal é abatido, e em seguida reaparece como o companheiro de uma estudante que, ao seu lado, irá formar uma grande e animada família. E quando parecia se direcionar ao seu destino final, retorna mais uma vez como um cão abandonado que só encontra paz ao se deparar com seu antigo dono, o próprio Ethan – agora já um homem velho e sem mais ilusões. Mas essa novidade na vida de ambos terá uma razão, que nada mais é do que o propósito do cachorro espelhado pelo título original.
Bom, se alguém for atento o suficiente diante dessa rápida sinopse, poderá perceber que durante o desenrolar destas histórias iremos presenciar quatro mortes e, portanto, cinco vidas. Como, então, explicar o batismo no Brasil? E se Quatro Vidas de um Cachorro já começa errado por aí – afinal, são cinco vidas em cena – muitos foram os problemas, tanto na realidade quanto na fantasia, que somente os mais masoquistas poderão aproveitar esse exercício de sadismo animal e emocional. Afinal, apreciar cachorros sendo mortos em sequência e pessoas sofrendo por isso, além de homens e mulheres passando por uma série de desilusões e desencontros não soa, de fato, como um programa dos mais estimulantes. E mesmo o encerramento, que tenta se anunciar como a bonança após uma tempestade que parece não ter fim, soa demasiadamente anticlimático e previsível, desprovido de qualquer tipo de emoção além da estafa provocada por essa maratona de desgraças.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
Victor Hugo Furtado | 4 |
MÉDIA | 4 |
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