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Sinopse

Eric Usher, o velho morador de um casarão, pode ou não estar sendo assombrado pelos fantasmas de suas supostas vítimas. Há eventos estranhos, suspeitas e muita culpa nesse lugar que ele habita sozinho, ou deveria.

Crítica

A Queda da Casa de Usher é um filme espanhol assinado por Jess Franco em 1983 e resgatado pelos organizadores do Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa. Assim como Revenge of the Alligator Ladies (2013), também exibido durante a mostra de 2016, o longa-metragem oitentista tem uma história de bastidores muito mais interessante do que o produto final em si.

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Jesus Franco era um cineasta conhecido por suas fitas cheias de erotismo e, em 1983, ao lado de seu amigo e ator de confiança Antonio Mayans e do suíço Howard Vernon, filmou sua versão do clássico conto de Edgar Allan Poe, A Queda da Casa de Usher. Desta vez, as cenas de nudez e a sexualidade à flor da pele ficaram de lado, com o cineasta retornando ao terror clássico do início de sua carreira. Exibido em um festival em Madrid naquele ano, o longa-metragem foi detestado pela plateia, que além de vaiar o trabalho de Franco, ria copiosamente durante a sessão. Depois dessa recepção terrível, as distribuidoras espanholas se afastaram de Franco, não querendo lançar o filme. Com isso, aquela versão original acabou sendo perdida. Anos depois, o próprio Franco gravou mais algumas cenas (desta vez trazendo de volta o erotismo) e as enxertou no filme, montando outra versão da obra – que também não chegou a ter uma grande distribuição (se é que teve). Em 1987, um grupo francês encomendou mais cenas extras, misturou com trechos de um filme antigo de Franco, e foi lançada como Revenge in the House of Usher. Esse corte, o terceiro, é o mais famoso e foi até lançado em DVD.

Mais de trinta anos depois da malfadada première do filme em Madrid, o cineasta e pesquisador gaúcho Felipe M. Guerra tomou para si o desafio de reeditar o longa-metragem original, aquele que foi perdido após apenas uma sessão. Para tanto, fez uma montagem bastante artesanal, misturando as cenas do DVD (de melhor qualidade) com o áudio e algumas cenas de uma fita VHS com o segundo corte do longa. Como apenas poucos haviam visto a versão do diretor – e Jess Franco faleceu em 2013 – Guerra precisou entrar em contato com pessoas que estiveram naquela sessão e, a partir disso, montar algo próximo ao pensado originalmente. O resultado final é um Frankenstein de 67 minutos de duração que dá uma boa ideia do que A Queda da Casa de Usher era em sua concepção inicial, com suas óbvias limitações. Exibido em 2015 no Fantaspoa, a ideia era que o filme tivesse – assim como em 1983 – apenas uma sessão. Mas como Antonio Mayans foi o homenageado em 2016 (e nunca tinha visto o primeiro corte), a presença do ator espanhol no festival motivou mais uma exibição.

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O que se vê em tela é uma adaptação livre do conto de Poe. Na trama, o personagem do título, interpretado por Howard Vernon, está sendo assombrado por suas vítimas do passado. Neste cenário, Usher convida para seu castelo o jovem Alan Harker (Mayans) através de uma carta não muito clara, lhe pedindo ajuda. O anfitrião parece pensar que uma confissão possa o livrar daquele pesadelo. Ao chegar no local, Harker passa também a presenciar situações estranhas, inexplicáveis. Neste clima onírico, o espectador vê no personagem de Antonio Mayans sua representação na tela, tentando encontrar, junto a ele, algum sentido naquelas aparições surreais.

Existem claras referências ao Expressionismo Alemão em A Queda da Casa de Usher, com o castelo em que a história se passa representando totalmente o espírito perdido do protagonista. Franco caprichou na escolha do cenário e na fotografia, construindo um lúgubre sonho cinematográfico. Embora essa qualidade não seja tão perceptível na cópia em VHS, o DVD apresenta uma imagem mais clara e nos proporciona um vislumbre maior do jogo de claro e escuro que o cineasta propõe em seu filme. Uma pena que ao privilegiar o visual, Franco parece ter esquecido de desenvolver seus personagens. Usher é atormentado, mas não se sabe muito a respeito dele fora isso. Mesmo com uma performance hipnotizante de Howard Vernon, a trama não o ajuda. Mayans, por sua vez, não faz outra coisa senão observar os acontecimentos. O fato da narrativa ser bastante lenta também não ajuda.

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Assistir ao filme de Jess Franco A Queda da Casa de Usher acaba sendo uma curiosidade interessante, uma oportunidade única dado o seu histórico, mesmo que o resultado final esteja aquém das expectativas. Importante ressaltar o trabalho de resgate do Fantaspoa, que se mostra um festival não só preocupado em trazer o novo, mas em valorizar o que veio antes. Por esta razão, nada mais justo do que sala cheia para a última sessão deste corte, algo que aconteceu na edição de 2016 do evento fantástico de Porto Alegre.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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