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Crítica


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Sinopse

Dois policiais, Marc Borgmann e Kay Engel, com a convivência, acabam se envolvendo. Marc se vê dividido entre viver o desejo de uma nova experiência e o amor pela sua namorada, que está grávida.

Crítica

Apontado como a versão alemã de O Segredo de Brokeback Mountain (2005), o drama Queda Livre compartilha com a oscarizada produção hollywoodiana a temática sobre a homossexualidade e a admiração que tem conquistado junto à crítica, já tendo sido premiado em festivais nos Estados Unidos e na Alemanha, além de ter participado do Festival de Berlim. Porém, enquanto que o longa dirigido por Ang Lee focava sua atenção na descoberta do amor gay entre dois cowboys e o impacto desse sentimento em suas vidas com o decorrer dos anos, o filme escrito e dirigido com bastante sensibilidade por Stephan Lacant elabora seu conflito partindo da questão da infidelidade. São duas visões muito densas, porém distintas em suas análises.

Marc (Hanno Koffler, de Se Não Nós, Quem?, 2011) é um policial em alta no seu trabalho. Apreciado pelos superiores, estimado pelos colegas, está no aguardo da promoção que lhe possibilitará uma vida melhor ao lado da esposa, grávida do primeiro filho do casal. Além de sua rotina diária, enfrenta também um turno extra na academia de oficiais, visando melhorar seu desempenho. Lá conhece Kay (Max Riemelt), um colega que logo se torna parceiro de corridas e outras atividades. A intimidade entre os dois vai aos poucos crescendo – um esperando pelo outro para iniciar o treino, dividindo escapadas para fumarem um baseado – até o ponto em que um beijo se faz presente. Mas não como um descuido, ou algo casual: trata-se de uma iniciativa. De uma vontade. Kay, deliberadamente, decide dar um beijo apaixonado em Marc, revelando abertamente o que sente pelo até então amigo.

A partir desse ponto a vida de Marc vira, literalmente, de cabeça para baixo. É quando começa a queda livre do título, cuja tradução nacional é literal. No início ele tenta ir contra a atração crescente – e a mudança de Kay para o seu distrito operacional, os dois se tornando não apenas companheiros de atividades físicas eventuais, mas também parceiros diários no ofício da profissão, certamente não colabora nessa vontade em abafar algo que não pode mais ser ignorado. Marc pode não se sentir gay, e talvez nunca tenha prestado atenção a esta orientação sexual, mas há algo que ele não pode negar: está, indiscutivelmente, apaixonado por Kay. E se esta é uma verdade contra a qual não pode ir contra, o que fazer com Bettina (Katharina Schüttler, de Oh Boy, 2012), sua esposa e mãe de seu filho? Pois o gostar de um não significa, necessariamente, o desgostar de outro. Ao menos não neste caso.

Lacant, neste que é seu segundo longa-metragem, não perde muito tempo ao apresentar o real tema de sua discussão em Queda Livre. No entanto, faz esse processo sem atropelar etapas e nem partindo de elementos simples. Da mesma forma, uma vez que o cenário está completo, a realidade se impõe com tamanha intensidade que cada solução proposta será construída a partir de uma posição madura e civilizada. Preconceitos, choques, e confrontos não são evitados, assim como não serão desprezados os desejos que irão unir – e talvez separar – estes dois homens. Assumir-se gay nunca é uma tarefa fácil, e este filme em nenhum momento esconde este fato. Mas muito mais difícil é ser honesto consigo próprio sem machucar, ou mesmo desrespeitar, aqueles que nos querem e estão ao nosso lado. Esta é a maior mensagem deste filme forte, porém nunca bruto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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