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Crítica


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5 votos 8.8

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Sinopse

Jamal K. Malik é um jovem que trabalha servindo chá em uma empresa de telemarketing. Sua infância foi difícil, tendo que fugir da miséria e violência para conseguir chegar ao emprego atual. Um dia ele se inscreve no popular programa de TV "Quem Quer Ser um Milionário?". Inicialmente desacreditado, ele encontra em fatos de sua vida as respostas das perguntas feitas.

Crítica

É difícil apontar um filme mais bem sucedido nesta temporada do que Quem quer ser um milionário?! Afinal, além de ser inegavelmente o longa mais premiado do ano, vencendo em oito das nove categorias a que foi indicado no Oscar 2009, é também arrebatador, com a capacidade de comover desde o mais cético até aquele espectador em busca de entretenimento rápido e eficiente. E talvez seja justamente esta aparente simplicidade seu maior mérito. Pois não é qualquer um que consegue encantar a tantos e de forma tão diversa de uma maneira tão satisfatória e direta.

Outra qualidade importante de Quem quer ser um milionário? é a imediata identificação que qualquer espectador estabelece assim que a trama começa. Senão, vejamos: quem nunca desejou ter um golpe de sorte? Quem nunca se sentiu injustiçado? Quem nunca desejou por uma segunda chance? Quem não viveu um grande amor? Quem, afinal, como o próprio título nacional questiona, não quer ser um milionário? Assim, o público é conquistado já na primeira cena, e dali em diante estaremos envoltos numa jornada de fantasias e esperanças, lutas e conquistas, batalhas e derrotas, vitórias e paixões. Cada pessoa do lado de cá da tela se verá no papel do protagonista, não importando ele ser um indiano órfão e favelado. O que queremos é vê-lo atingir seus desejos mais impossíveis, e assim acreditar que um mundo melhor, mais justo e, principalmente, mais feliz, está ao nosso alcance. Basta, para isso, sonhar e ir atrás.

Dirigido com muita competência pelo inglês Danny Boyle, Quem quer ser um milionário? pode parecer distante da cinematografia do realizador, mas tem sua marca inegável. Ela se vê desde a edição dinâmica até os diálogos ágeis de Simon Beaufoy (Ou Tudo Ou Nada, 1997), passando pela fotografia que explode em cores vivas e atraentes até o desempenho certeiro do elenco, todos muito bem direcionados e no domínio das suas presenças. E se a técnica se apresenta de modo deslumbrante, o texto, baseado no livro de Vikas Swarup, é muito bem articulado e exposto de um modo irresistível. Baseia-se mais em um conceito do que numa trama complexa, mas esta proposta é tão bem articulada que ignoramos qualquer obviedade em nome de um feito maior.

Jamal (Dev Patel, indicado ao Bafta, ao SAG e premiado no National Board of Review) e Salim são dois irmãos que, de uma hora para outra, se veem sozinhos no mundo. Sem terem para onde ir e nem quem olhe por eles, aprendem a se virar sozinhos nas ruas de Bombaim, a maior cidade da Índia. Logo encontram uma menina, Latika (Freida Pinto, indicada ao Bafta), que se junta a eles. Mas o trio não permanecerá junto para sempre. E serão as aventuras, os perigos e os sufocos que enfrentam nessa jornada que oferecerá a Jamal a experiência necessária para se tornar o primeiro vencedor do programa de televisão Quem quer ser um milionário?, uma espécie de "Show do Milhão” local. O filme, aliás, começa exatamente na noite anterior à grande final, quando nosso herói se encontra numa delegacia. Ele está sendo interrogado porque não conseguem acreditar que um menino de rua consiga se sair melhor numa prova de conhecimentos gerais do que tantas outras pessoas mais estudadas. Mas a vida dele até chegar aquele momento foi tão rica que não há livro ou sala de aula que pudesse lhe passar mais ensinamentos.

Quem quer ser um milionário? ganhou ainda o Globo de Ouro (Filme, Diretor, Trilha e Roteiro), Bafta (Filme, Diretor, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora, Som, Edição e Fotografia), National Board of Review (Filme, Roteiro e Revelação Masculina) e Satellite (Filme, Diretor e Trilha Sonora), além de vários prêmios de Melhor Filme do ano segundo a crítica (Boston, Florida, Kansas, Phoenix) e vários dos sindicatos (Atores, Roteiristas, Produtores). Foi também um grande sucesso de público, tendo arrecadado mais de 25 vezes (!) o valor do seu orçamento nas bilheterias de todo o mundo. E ainda há muito a ser dito a seu respeito. Mas o melhor é experimentá-lo. Comovente na medida certa, inteligente e acima de tudo muito bem realizado, é um longa que talvez não seja tão relevante num conceito mais austero ou político, com significados superiores e maiores aspirações. Não vai mudar a vida de ninguém. Mas é uma aula de entretenimento bem feito, competente e extremamente rico. Aos olhos, ao coração e à mente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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