Crítica
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Sinopse
Heloísa é uma médica que sofre de infelicidade crônica, tendo problemas com o marido e a própria mãe, a quem constantemente acusa de tê-la preterido pela irmã, Beth. Após se separar do marido, Heloísa conhece no hospital em que trabalha a pintora Leda, que sofreu um acidente de carro. Grata pelo atendimento prestado, Leda deseja pintar um quadro da médica. Inicialmente reticente, ela aceita a proposta e, ao visitar o ateliê, acaba se envolvendo com a pintora. Entretanto, por mais que o novo relacionamento deixe Heloísa bem mais feliz, ela precisa lidar com o preconceito tanto de sua mãe quanto da própria filha.
Crítica
Sem dirigir para o cinema há quase uma década, o veterano Jeremias Moreira Filho decidiu apostar em uma trama contemporânea nessa sua volta às telas. Após comandar as duas versões de O Menino da Porteira – a original, de 1976, e também o remake, lançado em 2009 – ele agora se inspira em um texto de Maria Adelaide Amaral para realizar Querida Mamãe, drama familiar estrelado por Letícia Sabatella e Selma Egrei. E se o longa não nega suas origens teatrais – estreou em 1994, com direção de José Wilker e com Eliane Giardini e Eva Wilma nos papéis centrais – também encontra dificuldade em modernizar não o seu discurso, mas a forma como ele é levado até o público. A urgência do debate segue sendo válida, apenas não encontra contraponto na tela com a mesma sintonia que antes se percebia nos palcos.
Selma é Ruth, uma senhora bem apessoada que vive sozinha, tendo como única companhia a empregada e cozinheira, Cleusa (Graça Andrade, de Mundo Cão, 2016). Parece muito independente, sai e volta para casa a hora que bem entende, sem dar satisfações à ninguém. Mas o que logo descobrimos é que, por trás do anúncio de ir visitar a filha caçula que mora nos Estados Unidos, está uma doença aparentemente irreversível – suas ausências, na verdade, eram idas secretas ao médico (Genésio de Barros, de Ação Entre Amigos, 1998). No entanto, ainda mais lidando com algo tão sério, uma dúvida se levanta: por que não preferiu recorrer à sua filha mais velha, Helô (Sabatella), que também é médica? É nessa resposta em que reside o mote da história: a complicada relação entre as duas.
Só que o que deveria ser um duelo travado entre duas partes, um somatório de palavras não ditas e outras exploradas no calor dos acontecimentos, resume-se na tela a uma mãe desinteressada e uma filha rabugenta. Ruth está tão preocupada com os seus próprios problemas – o que é perfeitamente natural – que pouca importância acaba dando aos conflitos vividos por Helô, que não só decide se separar do marido (Marat Descartes, em uma composição exagerada que não lhe favorece) como acaba engatando um romance com uma ex-paciente, a artista plástica Leda (Cláudia Missura, de De Onde Eu Te Vejo, 2016). E se o surgimento de um relacionamento lésbico já não fosse motivo de discussões suficientes, há ainda um desdobramento na não aceitação por parte da filha adolescente, Priscila (a estreante Bruna Carvalho).
Montado esse cenário, não precisa ser um adivinho para descobrir o que irá acontecer. Mãe e filha não se bicam nem de um lado, muito menos do outro. O personagem masculino, que ameaça ser fonte de mais embate, logo sai de cena. E a menina, supostamente a inconsequente, se revela uma daquelas garotas avançadas, que saca tudo antes mesmo que alguém lhe conte a verdade dos fatos, aceitando tudo numa boa – menos o que interessa, que é a nova aposta de felicidade da mãe, uma mulher desenhada com traços fortes que dificultam uma empatia com o espectador. Some a isso outras escolhas equivocadas, como casos de violência familiar – marido bate em esposa, mãe estapeia filha – que não geram consequências maiores e personagens desprovidos de qualquer relevância – não seria melhor se a irmã que mora no exterior fosse somente uma ideia, ao invés de uma presença que surge aos 45 do segundo tempo e em nada é aproveitada? – e temos uma narrativa turbulenta, mais pelo despreparo de quem a conta do que pelo que se percebe na trama.
E se Querida Mamãe se revela uma viagem tortuosa, pouco se deve creditar aos méritos de seu elenco principal, visivelmente entregue ao que lhes é proposto. Selma (principalmente) e Letícia funcionam como dois lados de uma mesma moeda, e coadjuvantes como Missura, Andrade ou mesmo Marat, caso fossem melhor aproveitados, é possível que entregassem algo mais convincente. A responsabilidade, porém, está sob as escolhas feitas pelo diretor, que revela forte inaptidão para lidar no trato com atores, conduzindo sem sensibilidade uma história que sobrevive e morre nessa questão. Era preciso um olhar atento, delicado e carinhoso sobre estes personagens, para que o espectador embarcasse junto na dura realidade que estão todos vivenciando. No entanto, o que acontece é o oposto, gerando um afastamento que em nada beneficia as intenções iniciais. Assim, de modo indiferente, vemos essas vidas irem e se desfazerem, acrescentando mais irrelevância a um tema que merece um cuidado que aqui não existe.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 4.5 |
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