Crítica
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Sinopse
Irmãs de pais distintos, April, May e June são chamadas às pressas para encontrar a mãe, que deseja lhes dizer algo importante: está com câncer terminal e quer deixar tudo organizado para realizar eutanásia no dia de seu próximo aniversário. Para tanto, elas precisam definir quem será a responsável por cuidar de Jan, seu irmão com dificuldades no convívio social.
Crítica
É bem provável que você já tenha visto esta história antes, mas em outra língua. Típica novela com sotaque holandês, Questões de Família recauchuta propostas de dezenas de outros dramalhões lançados ao longo das décadas, a começar pelo icônico Laços de Família (1983). Não exatamente por como acontece, mas pelo que acontece.
Aqui, a trama gira em torno da reunião de três irmãs para um importante comunicado da mãe: está com câncer terminal e deseja praticar eutanásia, em seu próximo aniversário. Para tanto, precisa decidir qual das três será a responsável por cuidar do irmão, que possui dificuldades no convívio coletivo e pouquíssimo contato com todas. As irmãs, cada uma de um pai diferente, têm características completamente distintas: uma é atriz e se mudou para os Estados Unidos, outra se casou, teve três filhos e vive atolada de afazeres e preocupações domésticas e a terceira, mais jovem, não sabe bem o quer da vida e tem uma queda por relacionamentos proibidos. Ou seja, três estereótipos a serem trabalhados pela narrativa.
Por mais que seja este um tema pesado, é curioso como o longa busca uma certa leveza, se baseando muito mais nas irmãs do que propriamente na mãe - ela, feito o anúncio oficial, torna-se quase irrelevante. Os esforços feitos para se aproximar de Jan, o irmão, apontam neste sentido, buscando algum humor a partir de sua inadequação social - sem jamais ser ofensivo, é bom ressaltar. Mais que propriamente a morte iminente da mãe, o foco está nos problemas pessoais que cada uma das três precisará resolver, além da união do trio para a grande missão que lhes é entregue: encontrar o pai de Jan, alguém com quem sua mãe teve um caso fortuito e nunca mais soube. Simples, não?
Por mais que seja absolutamente formulaico e sem muita sutileza em vários momentos, Questões de Família possui como ponto positivo o fato de abordar certos tabus sem medo - ecos da própria sociedade holandesa, das mais abertas na atualidade. Temas como eutanásia e o fato de ter quatro filhos com quatro homens diferentes, um deles que ressurge travestido, são tratados com a maior normalidade e sem a menor surpresa, ressaltando o quanto são comuns em tal realidade. Neste aspecto, ponto positivo para o diretor Will Koopman e o roteirista Frank Houtappels.
Previsível até dizer chega, o que se torna um baita problema para um longa de 117 minutos, Questões de Família é simplório em sua estética nesta busca constante em resolver problemas e aspirações de seus personagens. Mesmo a piada do título original decorrente dos nomes dos irmãos, cada um deles nomeado de acordo com o mês de nascimento, é mal aproveitada pelo roteiro. Em relação ao elenco, vale ressaltar um brilhareco em relação a Elise Schaap, a May, muito mais por sua personagem ser a única irmã com algum sopro de vida, o que lhe dá algum destaque natural em relação às demais. No mais, trata-se de um filme burocrático que se arrasta pela metade final, seja pela conveniência do roteiro em resolver a questão do pai de Jan ou mesmo pela absoluta falta de novas ideias, ou mesmo vertentes interessantes a propostas já conhecidas, a serem trabalhadas.
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