Crítica
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Sinopse
Uma pequena comunidade pesqueira nos Açores está em dificuldades diante da concorrência com os agentes da pesca industrial. Pedro, um jovem pescador que mantém a tradição, enfrenta de peito aberto esses desafios.
Crítica
Rabo de Peixe é uma obra de memória. É um recorte de tempo na vida de pescadores de uma comunidade diminuta dos Açores e também um pedaço importante da trajetória dos diretores portugueses Joaquim Pinto e Nuno Leonel. Vivendo junto daqueles homens que tiram seu sustento de uma pesca muito artesanal em um período significativo, entre 1999 e 2001, Joaquim e Nuno traçam um panorama da situação daquelas pessoas, se incluem como personagens e narradores desta obra, e fazem tudo isso de forma quase lírica. Digamos assim, se o roteiro de Rabo de Peixe fosse uma obra literária, estaria muito mais para a poesia do que para a prosa.
Originalmente um documentário realizado para a televisão portuguesa, lançado em 2003, Rabo de Peixe foi retrabalhado para lançamento em 2015, em uma espécie de “versão de diretor”. Na história, acompanhamos a vida dos pescadores da comunidade Rabo de Peixe, nos Açores, desde seu trabalho propriamente dito nos barcos, em alto mar, até o cotidiano junto dos amigos em terra. O pescador mais proeminente da narrativa é Pedro – filho de pescador, com irmãos seguindo a mesma profissão (incluindo um gêmeo), ele tenta escrever seu próprio destino saindo da asa do pai e comandando seu próprio barco. Ainda que não seja fácil, Pedro não tem medo do porvir e arrisca inclusive a compra de uma embarcação maior, o que o faz ter de voltar para a escola para terminar estudos a fim de tirar uma nova licença. O doc faz questão de mostrar a burocracia e o controle rígido das autoridades em cima dos pescadores.
Um ponto muito importante em Rabo de Peixe é a questão da liberdade. O filme deixa claro que a pesca é um trabalho árduo, perigoso e muito desgastante. No entanto, existe uma sensação de liberdade muito grande no momento em que se está em alto mar, buscando pelo seu sustento. Pode ser mais trabalhoso que ir ao escritório todo dia, mas ser livre é algo imprescindível para aqueles homens. Por se tratar de imagens de arquivo, é notável que em alguns momentos faltam cenas que cubram a narração de Joaquim Pinto e Nuno Leonel. No terceiro ato, quando Pedro tenta tirar sua licença, isso fica bastante claro. Isso em um documentário mais didático seria um erro crasso. Aqui, como vemos um misto de documentação e poesia, é até compreensível. Talvez por se tratar de pescadores, talvez pelo uso de dialetos locais, Rabo de Peixe pareça possuir em seu DNA algo do neorrealismo italiano. O paralelismo mais óbvio é com A Terra Treme (1948), de Luchino Visconti, no qual pescadores não-atores interpretam a si mesmos em uma história não tão diferente da de Pedro, mostrada pelos cineastas portugueses.
Para quem gosta de documentários didáticos, com narrativa amarrada, ágil e coesa, Rabo de Peixe não é um filme recomendável. É cheio de tempos mortos, com andamento bem lento. Tem narração abundante, mas nem sempre informativa. Em outras palavras, não é um filme fácil de assistir. É possível que o espectador demore em se envolver com a história tanto dos pescadores quanto dos diretores. Mas assim que se percebe a paixão dos cineastas acerca da história e daquela região, fica mais fácil compreender a temática e se deixar levar pelo filme.. Longa-metragem de abertura do 4º Festival Olhar de Cinema de Curitiba, Joaquim Pinto retorna ao local que, em 2014, deu ao seu filme E agora? Lembra-me (2013) o grande prêmio daquela edição. São duas obras bastante distintas, mas com o coração no devido lugar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Rodrigo de Oliveira | 5 |
Chico Fireman | 7 |
MÉDIA | 6 |
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