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Crítica


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Sinopse

Em 1973, na Jamaica, um jovem que testemunha o assassinato do próprio irmão acaba encontrando abrigo nos domínios de um poderoso magnata. Dez anos depois, enviado a Londres, ele decide por em prática sua vingança.

Crítica

Ator consagrado, vencedor de um Globo de Ouro, de um Independent Spirit e de dois SAGs, indicado duas vezes ao Bafta e quatro ao Emmy, Idris Elba foi ao Festival de Berlim apresentar seu primeiro longa como realizador, o drama Raízes de Sangue. Exibido na mostra Panorama de 2018, recebeu críticas mistas, entre os que apontaram a imersão no conflito familiar como um dos méritos da produção, e os que se incomodaram com o esquematismo das situações e a falta de profundidade da maioria dos personagens. Ainda que novato nessa função, o cineasta se mostra preocupado em entregar um filme que é, acima de tudo, competente tecnicamente, mesmo que esse mesmo cuidado não encontre ressonância com o desenvolvimento da trama. Curioso, na maioria das vezes, mas não muito mais do que isso.

Em Kingstown, Jamaica, um jovem está incomodado em ver sua cidade refém das constantes brigas entre duas gangues de marginais. Decidido a fazer algo para acabar com essa situação, resolve levar suas caixas de som até uma praça central e promover uma grande festa, o baile da paz, como prefere chamar. Porém, no exato momento em que tudo parecia correr conforme previsto, com os líderes das duas facções inimigas finalmente se dando as mãos em um aperto de baixar armas e agressões, é justamente o oposto que acontece. Do meio da multidão, um rapaz levanta um revólver e dá um tiro. Os presentes fogem todos, desesperados. Porém, ao invés da bala acertar um bandido ou outro, será justamente o DJ, aquele que estava no meio deles, a vítima fatal. E o único a perceber tudo de imediato, tanto o atingido como quem foi responsável por apertar o gatilho, será o irmão menor do baleado, D (a criança Antwayne Eccleston, vista também em Luke Cage, 2018).

Nesse momento, a história dá um pulo de uma década, e D (agora com o rosto de Aml Ameen, de Sense 8, 2015) é um homem feito. Apadrinhado por um dos mafiosos, King Fox (Sheldon Shepherd), acabou ficando no lado de quem se saiu melhor no conflito. Afinal, dez anos depois, a Jamaica não está mais no centro do tráfico de drogas internacional. Continua como fonte, mas as disputas territoriais estão concentradas nos Estados Unidos e na Europa. E é para lá que D é enviado após se meter em mais uma confusão. O rapaz cresceu obcecado em se vingar pela morte do irmão. Nem mesmo o reencontro com a garota que sempre amou (Shantol Jackson) e a descoberta que possui uma filha com ela parece lhe demover da ideia fixa de eliminar aquele que lhe provocou o maior dos traumas. Raízes de Sangue, portanto, se mostra emperrado em apenas um objetivo, e todas as possibilidades que vão se abrindo ao protagonista seguem sendo cerradas, uma após a outra, descartadas sem nem ao menos um olhar mais interessado nas suas direções.

Em certa passagem, D está sozinho com a filha e, num momento de distração, a garota desaparece. É de se imaginar que a menina tenha sido sequestrada pelos novos desafetos que o recém-chegado fez em Londres. Porém, não há mistério algum quanto a isso, e de fato ela reaparece em seguida, sendo levada pelos capangas até a mãe. “Dessa vez foi só um aviso, a próxima será para valer”, anunciam. Esta sequência é pertinente para destacar como o roteiro acaba sabotando as próprias intenções do filme. Qualquer tensão possível de ser explorada é esvaziada quase que imediatamente. Da identidade do mandante do assassinato até o destino do traficante viciado nas drogas que deveria estar comercializando, tudo é bastante previsível e revelado sem as devidas circunstâncias, às pressas e sem maiores preparos.

Esse descuido está presente também na construção do personagem principal, visto como coitado, quando, na verdade, é responsável pelo eterno caos que vai gerando ao seu redor. É fácil – e até confortável – imaginar que um desfecho ou outro possa ser evitado apenas num jogo de decisões, entre um ‘sim’ ou ‘não’, mas é sabido que as coisas são mais complicadas do que isso. Calcado em diversos projetos similares, de Cidade de Deus (2002) – como na apresentação esquemática dos envolvidos – aos thrillers dirigido por Guy Ritchie no início da carreira, Raízes de Sangue deixa em evidência suas boas intenções a todo instante, mas ao insistir em soluções fáceis e no trabalho com figuras monocromáticas, acaba desperdiçando um bom potencial que, de outra forma, poderia ter rendido algo mais poderoso e provocador.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
5
Bruno Carmelo
3
MÉDIA
4

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