float(38) float(8) float(4.8)

Crítica


3

Leitores


8 votos 9.6

Onde Assistir

Sinopse

Até mesmo para John Rambo o tempo passou. Ele atualmente vive de modo pacato numa fazenda no Arizona, na fronteira entre os Estados Unidos e o México, mas precisará voltar à ativa quando uma pessoa querida é sequestrada. Para restabelecer a ordem e salvar a conhecida, ele se disporá a enfrentar um cartel sozinho.

Crítica

Rambo: Até o Fim não sustenta por mais de dez minutos a construção da fragilidade, então vital, de John Rambo (Sylvester Stallone). O homem isolado na propriedade que lhe viu nascer, profundamente ligado à jovem tida como filha, dependente de remédios, é, no fim das contas, tudo o que se espera do personagem que estabeleceu as bases para os filmes do tipo “exército de um homem só”. O veterano do Vietnã continua beirando a onipotência, a despeito das pequenas mostras de fissuras numa imagem consolidada no imaginário cinéfilo, especialmente no dos alfabetizados cinematograficamente com os exemplares estadunidenses de ação dos anos 70/80. Rambo é dono da razão, algo confirmado pelo destino de Gabrielle (Yvette Monreal), aquela que diverge da “prudência” do protetor por vontade de revolver o passado; ele também é o guardião da força e da virtude, encarregado de restaurar uma ordem definitivamente atrelada à dicotomia entre bem e mal.

Além de tudo isso, Rambo também é o senhor da vingança, o "autorizado" pela dor lancinante que rasga o seu peito a equilibrar a injusta balança por ser essencialmente justo. Não há em Rambo: Até o Fim uma vontade de compreender profundamente essa figura com óbvias inclinações trágicas. Um sujeito submetido à violência da guerra que, uma vez ungido com pólvora e sangue, não consegue se desvencilhar da dinâmica de reprodução de brutalidades. O cineasta Adrian Grunberg, passando por cima de toda possível complexidade psicológica do protagonista, faz uma ode ao poder de certa masculinidade apenas mantida pelo uso excessivo, ultrajante e desproporcional da força. Após a delineação de uma ambiência mexicana altamente estereotipada, o realizador, não contente em mostrar o além-muro como uma fatia territorial absolutamente perigosa, imediatamente oposta à calmaria do rancho isolado e fronteiriço, cria uma espiral de ação torpe e desenfreada.

Lidando com uma lógica conservadora, a de que os fins justificam os meios, Rambo: Até o Fim deixa de lado as impotências de Rambo, dando de ombros para o descarte dos remédios e aos sinais que a maturidade deixa no seu corpo a fim de demarcar um terreno emocional que, de toda forma, "permite" a Rambo fazer uso de toda sorte de subterfúgios reprováveis. Reduzindo os mexicanos a bandidos desalmados que chegam a verbalizar sua baixeza, Adrian Grunberg opõe canhestramente a bondade do norte-americano que sonhava desde jovem em ser soldado a serviço da pátria e a maldade incontornável de homens que agem como animais sanguinários sem qualquer nuance. Portanto, o filme se equilibra sobre a linha tênue entre a vendeta como catarse de difícil racionalização e a demonstração desbragada de um poderio que reafirma a dominação ianque no conturbado cenário geopolítico. Ora sentimentalista, ora de agressividade exibicionista, o todo é anacrônico e tolo.

Essa obsolescência tem a ver, especialmente, com o modo de encarar, na atualidade, um personagem a partir de lógicas há muito ultrapassadas, social e cinematograficamente falando. Reduzindo Rambo a um anjo da morte que tudo pode, extraindo dos coadjuvantes a importância para além da posição de adereço da jornada principal, o cineasta blinda o conjunto das gravidades que dele poderiam se desprender de forma praticamente natural. Obviamente decalcado de Taxi Driver (1976), especialmente porque no filme de Martin Scorsese um veterano do Vietnã também é instado a salvaguardar a integridade física (e sexual) de uma donzela em perigo – algo que já era retirado do clássico Rastros de Ódio (1956) –, Rambo: Até o Fim passa a léguas do retrato ambíguo e duro do filme protagonizado por Robert De Niro. Levianamente, tudo converge a uma sequência à lá Esqueceram de Mim (1991), sem a pegada cartunesca, mas com violência obtusa, pois gratuitamente orquestrada. Moralista e simplório, ele tem uma narrativa sem tonalidades que reafirma chavões perigosos.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
3
Rodrigo de Oliveira
4
MÉDIA
3.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *