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Sinopse

Um ex-combatente é perseguido pelas montanhas por um impiedoso xerife e seus delegados de uma pequena cidadezinha. Na mata, ele vai ter de fugir e sobreviver usando suas habilidades como soldado.

Crítica

Os dois personagens mais marcantes da carreira de Sylvester Stallone são, sem dúvida, Rocky Balboa e John Rambo. Porém, enquanto o primeiro, com sua simplicidade - e até ingenuidade - simboliza o cidadão comum enfrentando o brutal sistema capitalista (que surge na figura de um lutador já estabelecido e bem afortunado), o último não poderia representar algo mais diferente. Rambo é o resultado de uma nação que, tendo retornado orgulhosa da Segunda Guerra, se via então vítima de duras críticas do seu próprio povo, fragilizada pela derrota vergonhosa no Vietnã. Ele é o que sai do outro lado quando um Rocky se deixa ser devorado e digerido pelo sistema. Quando uma pessoa boa e perseverante como Balboa perde a luta e é engolida por esse maquinário, Rambo é o excremento, o resultado, a vítima inutilizada. E que Stallone consiga viver os dois personagens – ambos tipos físicos – sem deixar rastro de um em outro, é uma prova de seu tão injustamente questionado talento como ator.

A trama se baseia no livro de David Morell, que dá o título original do projeto, First Blood, (Primeiro Sangue, expressão sobre quem atira primeiro), e apresenta John Rambo, um veterano do Vietnã que está numa pequena e fria cidadezinha no meio das montanhas em busca de um ex-companheiro de guerra. Entretanto, um policial implicante o leva para a cadeia, onde o tratamento lhe remete às torturas sofridas nas mãos dos inimigos de guerra. Ensandecido, ele foge para as montanhas que cercam o lugar, atraindo um grupo de policiais e, posteriormente, o exército, em uma verdadeira força tarefa para poder lidar com apenas um homem especialmente bem treinado.

Então, de cara, diferentemente de Rocky, o Rambo de Stallone é um sujeito quieto, de postura e movimentos retos, longe do gingado do boxeador. Cada ação parece ser calculada e recalculada antes que ele execute até mesmo movimentos simples, como continuar andado, entrar em um carro ou responder a uma pergunta. Além disso, mesmo ao falar profusamente ele se distancia das divagações do outro personagem, utilizando pequenos discursos passados e revisados diversas vezes, talvez para soar mais empático. E quando o vemos no auge da ebulição emocional, notamos que seus métodos de ataque e defesa implicam em raciocínio rápido e certeiro. Tudo isso é abandonado em um desabafo, ocasião em que até o timbre de sua voz muda. Não é menos admirável a atenção dada pelo ator aos ferimentos do seu personagem. Mesmo sendo o típico durão másculo, ele urra por conta de um corte no braço ou por cair de mau jeito. Sylvester consegue desenvolver Rambo de maneira completa e tridimensional, humanizando um ser que poderia facilmente se afogar em estereótipos.

Não por acaso, o próprio Stallone ajudou a escrever o roteiro, instância que apresenta novamente sua inegável aptidão para aprofundar personas brutas. Além do mais, o texto usa de maneira interessante a força coercitiva dos policias na caça ao “herói” – e as aspas estão aí para não deixar cair a principal discussão do filme, afinal Rambo é um herói de guerra ou a própria guerra impede que possamos considerá-lo herói? – pois, dentro do território, os oficiais deveriam ser os soldados da lei, e não o braço de um sistema que usa a própria população como combustível e espera que essa mão abane a fumaça resultante. Porque, independentemente de ser herói ou não, de ser voluntário ou não, John é uma vítima, ao menos em algum grau, senão por completo, como ex-combatente que ainda é atormentado pelo passado, ao menos como um transeunte abusado pelos mesmos policias que deveriam garantir sua segurança, agora que está de volta ao seu país. Por levantar análises como essa e ainda ser um thriller tenso e progressivamente mais intenso é que Rambo: Programado para Matar se torna também uma obra memorável, que supera facilmente os clichês do gênero de ação e, de fato, até mesmo põe em pauta a validade deles.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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