Crítica
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Sinopse
O primatologista Davis Okoye é um homem fechado que compartilha um vínculo inabalável com George, gorila muito inteligente que está sob seus cuidados desde o nascimento. Porém, quando um experimento genético desonesto é feito em um grupo de predadores que inclui o primata, os animais se transformam em monstros que destroem tudo em seu caminho. Agora Okoye tenta conseguir um antídoto e impedir que seu amigo provoque uma catástrofe global.
Crítica
Pegue a tríade “tiro, porrada e bomba”, acrescente animais gigantescos e enfurecidos atacando São Francisco, reduzindo tudo a poeira, escombros e cadáveres (estes devidamente ocultados, afinal estamos falando, cinematograficamente, de uma tragédia para toda a família), e adicione um humor bem inofensivo e deslocado. Nesse molho tão insosso quanto barulhento que é Rampage: Destruição Total, nem o carisma de Dwayne Johnson salva o resultado de uma retumbante falha, isso em praticamente todos os departamentos. Senão vejamos. Após o prólogo que se reporta tortuosamente a Alien: O Oitavo Passageiro (1979), ocorre a instauração de algo ainda mais improvável, com os insumos de uma pesquisa científica ultra perigosa sendo arremessados na Terra como meteoritos incandescentes. O produto, um coquetel de edição molecular que provoca crescimento acelerado e induz à agressividade, cai convenientemente perto do gorila, do lobo e do jacaré que, então, viram monstros.
Entre a queda da substância e a deflagração do problema de enormes proporções dela decorrente, há uma delineação simplória da personalidade do protagonista, Davis (Johnson), homem de bom coração, mas com dificuldades de interação social – condição “justificada” pela exposição de uma sofreguidão nos tempos pretéritos de exército –, que se comunica por meio de sinais com um gorila albino de quem salvou a vida anteriormente. Todo esse desenho do modus operandi do homenzarrão boa praça dá em praticamente nada quando a ação passa a prevalecer. O objetivo maior é que, ordinariamente, sempre tenhamos em mente o caráter bondoso de sua conduta. Ainda no que diz respeito à construção das figuras, chega a ser embaraçoso, mesmo num longa-metragem como este, em que a verossimilhança é prescindível, o comportamento cartunesco dos irmãos que encabeçam a empresa de engenharia genética, os vilões. Caire (Malin Akerman) e Bett (Jake Lacy) estão tão exagerados em cena, no mal sentido, que podem provocar risos e/ou desgosto.
Rampage: Destruição Total vai se esvaindo enquanto os animais progridem rumo à metrópole. Davis se envolve com a Dra. Kate (Naomie Harris), que logo se torna parceria. O roteiro instrumentaliza sua presença como facilitadora do entendimento, tanto das pessoas envolvidas quanto dos espectadores, com relação aos planos do antigo empregador. A cada movimento, dos bichos ou dos antagonistas imbecilizados, ela sabe exatamente o que está acontecendo, servindo como bula das manipulações científicas e das mentes doentias dos irmãos, eles que só faltam soltar aquelas gargalhadas exorbitantes, características dos vilões de histórias para crianças. O único que consegue extrair um bom fruto da estruturação abertamente arquetípica de seu personagem é Jeffrey Dean Morgan, com a arma na cintura, sotaque e expressões dignas dos vaqueiros do Velho Oeste. Além de facilitar a solução de problemas tétricos, o longa cansa por sua banalidade.
O cineasta Brad Peyton comanda um espetáculo dramaticamente insosso, e não muito menos soporífero e esquecível no que tange às cenas de ação. O mínimo que se espera quando temos monstros digladiando, destruindo uma cidade inteira ao batalhar, é que a movimentação seja empolgante, que as soluções técnico-artísticas valorizem essa delineação imagético-sonora. Não é exatamente o que acontece em Rampage: Destruição Total, cujo clímax sem graça e previsível apenas confirma o que podemos facilmente antecipar, vide a forma como as relações humanas convergem. Dwayne Johnson é o grande astro de ação do cinema hollywoodiano do momento, a bola da vez, valorizado por sua capacidade de dar retorno comercial, principalmente. Ele possui talento, consegue construir um tipo extremamente simpático, mas que não extrapola certos limites, sempre disposto a fazer a coisa certa, e, se preciso, a encarar feras colossais apenas para salvar o dia e os amigos, de maneira artificial e melosa, com direito a piadinhas e toda sorte de equívocos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 2 |
Robledo Milani | 7 |
Francisco Carbone | 6 |
MÉDIA | 5 |
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