Sinopse
Crítica
Uma das maiores surpresas entre as indicações ao Oscar 2004 foi a presença de Ray entre os nominados nas categorias principais, como Filme e Direção, ocupando a presença de obras mais cotadas – e de fato, melhores – como Closer: Perto Demais, Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Diários de Motocicleta. Entretanto, sua colocação entre os “5 Melhores do Ano” não foi um disparate total – mesmo estando muito atrás dos demais indicados (Menina de Ouro, Sideways: Entre Umas e Outras, O Aviador e Em Busca da Terra do Nunca), é um trabalho sincero e emocionante, muito bem realizado e merecedor dos créditos recebidos.
Nascido no dia 23 de setembro de 1930, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos, Ray Charles Robinson teve uma infância trágica. Filho de mãe solteira, viu seu irmão menor morrer afogado numa tina d’água num estúpido acidente. Com apenas 5 anos de idade, começou a demonstrar sinais de glaucoma, que em menos de dois anos lhe tirou a visão por completo. Cego, pobre e sem pai, descobriu logo que a determinação poderia lhe levar longe, desde que encarasse a sério seu maior dom: a música. Sozinho, foi atrás deste sonho, e em pouco tempo já era um nome respeitado nacionalmente. Seus discos vendiam quantias obscenas, suas apresentações lotavam ginásios e seus fãs eram cada vez mais numerosos. Esses excessos, entretanto, começaram a se revelar em outros aspectos de sua vida: as mulheres e as drogas. Estas últimas quase lhe conduziram ao fundo do poço (uma de suas amantes morreu de overdose, e numa outra ocasião ele chegou a ser preso por tráfico e porte). O susto ao menos serviu como lição. Pouco depois, o mesmo empenho o conduziu novamente ao topo, e na ocasião de sua morte, aos 73 anos, em 2004, Ray Charles era considerado um dos maiores nomes da música norte-americana – seu último álbum, Genius Loves Company, foi o grande vencedor dos Grammys daquele ano, por exemplo.
Esta trajetória de altos e baixos é contada com muita competência em Ray, de Taylor Hackford, diretor de filmes curiosos, como O Advogado do Diabo (1997) e Eclipse Total (1995), e de bombas como Prova de Vida (2000) – além de ser o sr. Helen Mirren, o que já é um feito e tanto! Hackford, também autor do roteiro, não se preocupou muito em elaborar uma estrutura original para narrar sua história, apelando para um formato bastante convencional, sem grandes inovações. Ele limita-se a deixar o espaço livre para a história que estava contando, por si só dotada de interesse próprio, e para o desempenho magistral de Jamie Foxx, que, no papel principal, apresenta uma performance arrebatadora, conseguindo escapar dos maneirismos mais fáceis, fazendo uso de trejeitos evidentes, mas ao mesmo tempo equilibrando-os com uma sensibilidade e um carisma muito particular. Foxx, por este trabalho, foi o ator mais premiado do ano, tendo recebido mais de 20 reconhecimentos como Melhor Ator em premiações da Indústria e da Crítica, desde o Oscar até o National Board of Review, passando pelo Globo de Ouro e o Sindicato dos Atores. Os dois Oscars recebidos pelo filme, aliás – este e o de Melhor Som – foram justos e suficientes.
Ray é uma obra que vale a atenção despertada – mais, até, pelos méritos que dizem respeito ao artista que aqui é resgatado do que por sua relevância fílmica. Dona de uma narrativa de fácil compreensão e fluida, o que a torna acessível aos mais distintos públicos, consegue ser abrangente e transmitir seu significado até mesmo a quem nunca havia ouvido falar de Ray Charles ou mesmo da sua música. Se há algum pesar a ser notado, entretanto, é que esta cinebiografia, por mais competente que seja, não consegue se aproximar da genialidade e do talento do personagem retratado. Mas isso, também, talvez fosse querer demais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Ailton Monteiro | 6 |
Daniel Oliveira | 6 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 5.8 |
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