Crítica
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Crítica
Uma das integrantes da Suprema Corte dos Estados Unidos, espaço tradicionalmente masculino, Ruth Bader Ginsburg é a razão de ser de A Juíza, documentário dirigido por Julie Cohen e Betsy West. Para dar conta de sua trajetória tão rica quanto cheia de minúcias, as realizadoras optam por um percurso no meio do caminho entre o sisudo e o despojado, fazendo, assim, jus à magistrada que impulsionou avanços imprescindíveis na forma como a lei estadunidense percebe as demandas femininas. Tendo como espinha dorsal alguns casos sintomáticos da brilhante ação jurídica que começou a ganhar notoriedade e importância nos anos 70, o longa-metragem se vale de depoimentos de colegas, familiares e admiradores, além das falas proferidas pela voz sempre comedida, porém afiada, da advogada que viu seu nome se tornar febre ultimamente, sobretudo em virtude da atuação opositora numa casa legislativa majoritariamente formada por homens brancos e conservadores. Há informações em boas medidas no desenho dessa personalidade singular.
A Juíza se desenvolve, basicamente, em linha reta, porém nutrindo a construção dessa consistente linha do tempo, ferramenta que ajuda a contextualizar atos históricos, com observações atuais dos partícipes e/ou observadores de momentos-chave, como a entrada de Ruth na faculdade de direito de Harvard. Ela era uma das nove mulheres em meio a mais de 500 homens. Martin Ginsburg é figura disposta como vital para o sucesso dessa vanguardista. O espirituoso marido, graduado antes e logo estabelecido como advogado tributarista dos mais reconhecidos de Nova Iorque, soube entender a franca ascensão da esposa, permanecendo, então, atrelado à conjuntura doméstica, inclusive à criação dos filhos, a fim de velar pelo trabalho valoroso que ela fazia em função do combate à discriminação por gênero. Ruth fala constantemente do falecido marido com emoção, o que confere ao documentário um dado afetuoso, sem para isso desviar-se do profissional, pelo contrário, incorporando esse bonito relacionamento nas discussões suscitadas.
Recorrendo a uma vasta pesquisa de arquivo, Julie Cohen e Betsy West resgatam contendas jurídicas sintomáticas do legado de Ruth Bader Ginsburg, e, sobretudo, da relevância do mesmo ao cenário atual, senão exatamente ideal, distante do equivalente do século passado. A retórica firme, o timbre de voz inalterado, a capacidade de negociar com grupos opositores, todas essas características são habilmente reforçadas ao longo do filme, o que faz dele um retrato abrangente de alguém que ajudou o mundo a andar para frente. A Juíza recorre aos filhos e à neta para que haja franco acesso ao aspecto familiar, não propriamente diferente do conhecido âmbito público. Inevitavelmente, a esfera política é acessada, mas a juíza, que encanta até os colegas absolutamente contrários aos seus posicionamentos, não faz questão de bradar, porque acredita nas mudanças gradativas, talvez sintoma da experiência nas entranhas de um sistema que não se transmuta de forma célere.
O recurso das “cabeças falantes” é mascarado/diluído engenhosamente, não incomodando enquanto convenção por conta do dinamismo narrativo, da maneira como Julie Cohen e Betsy West articulam passado e presente, centralizando Ruth como tenaz representante de um pensamento ecumênico, dotada de inteligência e meios suficientes para batalhar por alterações estruturais, não em função da geração de privilégios, mas exatamente para que estes sucumbam aos clamores dos novos tempos. A protagonista é delineada como uma advogada aguerrida, que encontrava seu porto-seguro na alegria e na leveza no marido ciente de sua atuação revolucionária no direito, primeiro nas audiências e chegando a ser uma exceção bem-vinda na Suprema Corte. De Bill Clinton aos jovens interessados nas pautas progressistas, passando por adversários profissionais encantados pelo charme da juíza, todos parecem admirados ao falar de alguém notável como Ruth, a Notória.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 8 |
Francisco Carbone | 6 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 6.7 |
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