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Crítica


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Sinopse

Sonhando em dirigir seu primeiro filme de terror, o pacato cinegrafista Jason encontra um possível financiador para o seu debute. No entanto, o dinheiro sairá com uma condição: Jason tem 48 horas para garimpar o melhor grito da história do cinema.

Crítica

Reality desafia toda e qualquer lógica. É um filme dentro de um sonho, dentro de um filme, dentro de um programa de tevê, dentro de uma fita VHS, dentro de um javali morto. É surreal, hilário e totalmente imprevisível. Dirigido e escrito por Quentin Dupieux, foi um dos destaques da mostra competitiva da quarta edição do Festival paranaense Olhar de Cinema.

Com vários personagens, que se unem das formas mais improváveis, Reality nos apresenta a Jason (Alain Chabat), um cinegrafista que sonha em dirigir seu próprio filme. Ao apresentar sua ideia ao produtor Bob Marshall (Jonathan Lambert), ele tem a boa notícia de que seu roteiro pode ser realizado – desde que ele consiga encontrar um gemido de dor especial para colocar no seu filme, algo digno de Oscar. Marshall produz também o filme do diretor Zog (John Glover), sobre uma garotinha, Reality (Kyla Kennedy, ótima), que encontra dentro das entranhas do javali recém-abatido pelo seu pai uma misteriosa fita VHS. Ela tenta de todas as formas assistir a fita, inclusive entrando em rota de colisão com o supervisor de seu colégio, o confuso e paranoico Henri (Eric Wareheim). Ele está passando por problemas com seus sonhos, e busca na figura da terapeuta Alice Tantra (Élodie Bouchez) uma forma de ser ajudado. Alice que é casada com Jason, o cinegrafista que sonha em... Opa. Mas isso é possível?

Quentin Dupieux nos diverte com as ligações bizarras entre personagens que são reais dentro do filme e outros que são ficção dentro da realidade da história. Ou ao contrário. Parece confuso, e por vezes é. Mas nada que exploda os miolos de alguém que assista a Reality – diferente do filme dentro do filme, o longa de terror Ondas, que tem em seu plot televisores assassinos que exterminam a raça humana através das ondas de tevê. Sim, é sério. Mais interessante do que tentar encontrar sentido em tantas ligações estranhas é se divertir com um elenco pinçado a dedo, com destaque para Alain Chabat, o talentoso ator de comédia francês que se sobressai ao viver um sujeito que chegará às últimas consequências para realizar seus desejos. Impagável é a cena em que ele descobre que este sonho pode ter virado um pesadelo ao se deparar com seu filme em cartaz nos cinemas – antes mesmo de ele tê-lo realizado. Como é possível?

Esta pergunta, aliás, deve ser feita muitas vezes pelo espectador. Mas não se incomode tanto. Relaxe e curta a história, que conta com trilha sonora macabra de Phillip Glass, que dá um toque especial ao longa-metragem. As voltas são várias e lá pelo final do segundo ato, é notável que algumas situações acabam se repetindo ou não acrescentando muito ao todo. Nada mais do que uma pequena barriga desnecessária na trama. Mas logo depois, tudo entra nos eixos e os minutos finais são de puro nonsense.

Dupieux não é estranho a estas tramas mais surreais, tendo dirigido no passado Wrong (2012) e Rubber (2010), ambos desafiando o lugar comum, trazendo uma saudável inventividade aos nossos cinemas.  Para quem curte alguns nós na nossa tão surrada realidade, um prato cheio e divertidíssimo.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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