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Sinopse

Recém-casada com um nobre inglês, uma jovem de origem humilde se vê atormentada pelas marcas da falecida esposa do sujeito. Ao percorrer os cômodos de sua nova casa, ela acaba descobrindo segredos.

Crítica

É estranho constatar que Rebecca: A Mulher Inesquecível, por melhor que seja, não é uma das obras mais populares de Alfred Hitchcock, mesmo tendo ganho o Oscar de Melhor Filme. Este foi o primeiro longa do cineasta feito nos Estados Unidos, com produção de David O. Selznick, recém saído do mega oscarizado …E O Vento Levou (1939), e o mesmo acabou interferindo muito no resultado final do projeto. Porém, apesar dos relatos de bastidores sobre brigas e discussões intensas, escolhas de atores que fugiram da alçada do mestre do suspense e, principalmente, de cortes no andamento da trama, este título deve figurar (ainda mais para os que não o conhecem) como um dos mais interessantes da cinematografia do cineasta.

A história começa como um romance que logo vai se tornando um thriller psicológico. Uma dama de companhia (Joan Fontaine, indicada ao Oscar por seu papel) de uma senhora da alta sociedade, conhece e se apaixona por Maxim De Winter (Laurence Olivier), um homem rico perturbado pela morte da esposa, Rebecca, que ocorreu há quase um ano. Apesar de alternar entre a doce gentileza e a truculência desvairada, o ricaço pede a mão da jovem em casamento e a leva para morar em Manderlay, a mansão da família e também ponto turístico da região. Tímida, de classe baixa e sem parentes e amigos, a garota acaba virando alvo fácil das maldades da governanta Miss Danvers (Judith Anderson), amiga (beirando ao amor platônico) da falecida esposa do dono do local.

Todo o filme gira em torno de Rebecca e, perdão se isto é um spoiler (mesmo mais de 70 anos depois), mas a grande sacada de Hitchcock aqui é atormentar não apenas a protagonista como também o público, que a todo momento é assombrado pela presença da personagem-título, mas nunca a vê na tela. A nova senhora De Winter nunca tem seu nome revelado, o que acaba sendo mais um subterfúgio do roteiro para criar uma atmosfera de fragilidade da personagem. Afinal, a todo momento ela é comparada à “tal” Rebecca. Mas afinal, quem ela foi de verdade e qual o mistério em torno da morte dela? À medida que a personagem de Joan Fontaine vai descobrindo o quanto a presença da falecida rival é profunda e constante, suas brigas com o marido, cada vez mais instável, tornam-se quase motivo de separação. O interessante é que, muito mais que a vilania da governanta, que repudia sempre que pode a nova patroa, a própria casa acaba se tornando uma personagem. Fato que é realçado pelos planos de Hitchcock nos quartos, nas salas, nas janelas que contemplam a todo instante o mar onde Rebecca morreu. Não à toa o filme foi premiado também com o Oscar de Melhor Fotografia.

Mais uma vez Hitchcock mostra sua maestria na condução de atores. Fontaine, em um dos seus primeiros papéis de destaque, brilha na insegurança e fragilidade da sua Sra. De Winter. Por sinal, a atriz trabalharia novamente com o mestre do suspense em seu filme seguinte, Suspeita (1941), pelo qual receberia o Oscar de Melhor Atriz, negado no ano anterior. Laurence Olivier se despe de sua aura shakespeariana e entrega um personagem complexo que gera dúvidas para o público: afinal, ele gosta mesmo da nova esposa? Se sim, por que a trata deste jeito? E mais ainda: será que ele matou Rebecca? Por fim, Judith Anderson parece possuída por um espírito maligno, mesclando doses de loucura com um ar de sobriedade em sua carranca, o que nos faz entender porque a personagem principal se apavora tanto em sua presença.

Muito mais do que uma pretensa trama fantasmagórica ou um suspense familiar, Hitchcock nos brinda com um jogo de investigação sobre as aparências e o que está escondido nas entranhas de um núcleo familiar. Além disso, como era de seu costume, o diretor brinca com os clichês da futilidade do high society, a ineficiência da polícia (mesmo que de forma branda) e o charme e inteligência de seus vilões. Rebecca: A Mulher Inesquecível pode não ser inesquecível para alguns, mas é um trabalho muito acima da média e que serviu para consagrar o nome de Alfred Hitchcock em Hollywood. Mais do que merecidamente.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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