Crítica

Ridley Scott é um cineasta inquieto. Indicado três vezes ao Oscar, entre seus filmes estão épicos grandiosos, dramas humanos, aventuras de guerra, manifestos feministas e ficções científicas futuristas. Mas ele nunca havia feito um thriller de espiões, e é isso que ele entrega agora em Rede de Mentiras, longa marcado pela sua habitual competência e por um enredo engenhoso, que combina um tema que grande relevância política, em perfeita sintonia com a temática atual, com efeitos técnicos impressionantes e uma edição ágil e envolvente. Créditos suficientes para atrair dois dos maiores astros do momento: Leonardo DiCaprio e Russell Crowe. Este uma presença freqüente nos trabalhos do diretor, sendo esta a quarta parceria entre os dois (após o oscarizado Gladiador, 2000, o discreto Um Bom Ano, 2006, e o elogiado O Gângster, 2007).

Rede de Mentiras tem como protagonista Roger Ferris (DiCaprio), um agente secreto norte-americano infiltrado no oriente médio. Seu principal contato com a CIA é o veterano Ed Hoffman (Crowe), um daqueles burocratas que comanda o destino de vidas do outro lado do planeta enquanto faz tarefas banais, como tomar café da manhã e deixar os filhos na escola. Os dois entram em conflito quando, durante o planejamento de uma estratégia na Jordânia, com o apoio da polícia local, Hoffman intervém nos planos de Ferris e acaba comprometendo-o. O que todos buscam é descobrir o paradeiro de um terrorista nitidamente inspirado em Osama Bin Laden, alguém que está na contramão do progresso mundial – enquanto os Estados Unidos têm a sua disposição os recursos mais modernos e toda a tecnologia do mundo, estes bandidos fazem uso de táticas extremamente convencionais, como mensagens de homem a homem e muito pouco alarde. E sem ter como rastreá-los, só mentes engenhosas poderão descobrir meios para localizá-los.

Baseado no livro-reportagem de David Ignatius e com roteiro de William Monahan, vencedor do Oscar por Os Infiltrados (2006), em seu segundo trabalho com Scott, após o frustrado Cruzada (2005), Rede de Mentiras, assim como outras produções recentes, peca pela tentativa de ser atual, quando tudo que poderia ser era entretenimento. Da mesma forma que O Reino (2007) ou Leões e Cordeiros (2007), filmes que abordam o conflito bélico atual desta região do mundo, este novo longa fracassou nas bilheterias e só conseguiu superar os US$ 70 milhões do seu orçamento graças ao mercado internacional, que respondeu à altura devido a popularidade das duas estrelas à frente do elenco. O curioso, no entanto, foi perceber como Scott e os astros DiCaprio e Crowe tentaram, nas entrevistas de divulgação, dissociar a imagem do filme com o cenário onde ele se passa, transformando-o em um thriller corriqueiro – o que obviamente ele não é. Felizmente.

De qualquer forma, e mesmo diante os méritos evidentes, Rede de Mentiras dividiu a opinião da crítica, entre os que elogiaram a atuação dos atores e os que apontaram o roteiro confuso e pouco original. Agora, aqueles que simplesmente conseguirem se desprender deste contexto global e se fixarem na trama de espionagem muito provavelmente sairão da sessão bastante satisfeitos. Bons atores, um diretor no domínio do seu exercício e um enredo envolvente – que mais é preciso? Nem sempre é possível entrar para a História, por mais que se queira, afinal. E se o objetivo for proporcionar entretenimento de forma adulta e consistente, aqui estamos com um bom exemplo de sucesso nesta missão.

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