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Sinopse

Sam Childers é um ex-motoqueiro e traficante que se tornou um grande lutador em defesa das crianças do Sudão, obrigadas a virar soldados muito antes de se tornarem homens.

Crítica

Uma das máximas mais verdadeiras do mundo do cinema diz que se a realidade não precisa ser verossímil, a ficção tem obrigação. Ou seja, na vida real até podem acontecer coisas absurdas e aparentemente inexplicáveis, mas ao transpor estes fatos para o universo ficcional, seja numa adaptação literária ou audiovisual, certos cuidados precisam ser tomados para que aquilo “faça sentido”, ou seja, que se aproxime do espectador de forma crível e compreensível. Um bom exemplo disso é o filme Redenção, que parte de uma história real completamente única e impressionante, que de tão extraordinária chega agora aos cinemas de um modo quase inacreditável. E é justamente por falta desse elemento mais “palpável” que o longa termina por não se aproximar do espectador, resultando numa obra distante e fria.

Estrelado e produzido por Gerard Butler (300), Redenção é um título bastante convencional para uma história originalmente intitulada Machine Gun Preacher, ou seja, algo como Padre Metralhadora. É a história real de Sam Childers, um ex-presidiário e traficantes de drogas que acaba sendo convertido à palavra de Cristo e, uma vez religioso fervoroso, decide ir para a África e lutar em nome das crianças afetadas pela guerra civil do Sudão. Ele abandona esposa (Michelle Monaghan), mãe (Kathy Baker, de Edward Mãos de Tesoura, 1990) e amigo (Michael Shannon) e parte para o meio do continente africano, do outro lado do Atlântico, para lutar por uma causa que não era dele, mas que assumiu como sua. De início começa a trabalhar em missões, para logo investir tudo o que tem em uma igreja e num abrigo que irá reunir e alimentar centenas de crianças, vítimas da violência, abandono e desamparo.

Tomar conhecimento de tamanho desprendimento e da diferença que esse homem fez na vida de tantas pessoas que até então não possuíam a menor ligação com ele é realmente comovente. No entanto, o roteiro, tal qual se apresenta, é, para dizer o mínimo, pouco convincente. Os personagens agem como se o que o protagonista está fazendo fosse a coisa mais natural do mundo, e suas idas e vindas até a África são tão banais e corriqueiras que perdem todo o impacto. Não há sutileza nem desenvolvimento das ações. Os esforços que empenha contra as gangues que exploram e oprimem numa terra sem lei são heróicos, mas todo o suspense se esvai a partir do determinado momento em que nos damos conta de que os realizadores assumem a versão de que se trata de um abençoado divino e que tudo o que ele faz dará certo, independente dos perigos enfrentados. E sem suspense ou dúvida, o envolvimento se esvai.

Redenção é um projeto atípico também para o diretor Marc Forster, responsável pelos oscarizados A Última Ceia (2001) e Em Busca da Terra do Nunca (2004) e pela aventura 007: Quantum of Solace (2008). Filmes tão diversos entre si quanto o longa que agora apresenta. Mas, apesar dos deslizes, este não é um trabalho medíocre, e os destaques são consideráveis, desde a ótima atuação de Butler até a comovente trilha sonora, que contém a canção The Keeper, de Chris Cornell, indicada ao Globo de Ouro. Em resumo: é um filme difícil, mas que não deve ser menosprezado.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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