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Sinopse

Durante a final de um grande evento esportivo, um grupo de bandidos sequestra um estádio lotado e mantém as pessoas oprimidas por meio da violência. É quando um homem, que durante anos esteve a serviço militar, usará seus recursos com a ajuda de alguns voluntários para salvar a todos.

Crítica

Tudo de Refém do Jogo já foi visto em outros filmes bem melhores. O protagonista, Michael Knox (Dave Bautista), é um ex-militar norte-americano torturado intermitentemente pela culpa. Durante uma missão sob sua supervisão no Afeganistão, vários comandados morreram, inclusive o melhor amigo, cuja perda é a que mais lhe dói. De passagem pela Inglaterra para visitar a viúva e a menina que lhe chama de tio, ele se torna o único herói possível numa situação que conta com a vilania estereotipada de antigos chefes de uma revolução na Rússia. Os bandidos pretendem resgatar uma figura incógnita, até então dada como morta, senão explodirão o estádio de futebol no qual West Ham e Dynamo de Kiev disputam a semifinal de uma copa europeia. A começar pela enésima recorrência aos russos como bandidos de sangue frio, a serem obliterados em favor da justiça ocidental, o gosto é de comida requentada, com tentativas frustradas de oferecer temperos singulares, vide o desenho simplista de uma tensão racial.

Portanto, a um estadunidense é confiada a missão de poupar milhares das garras inescrupulosas do Leste Europeu. Esse tipo de antagonismo, marcante nos anos 70 e 80 por conta da representação de hostilidades oriundas da Guerra Fria, aqui soa anacrônico. O diretor Scott Mann cria, ao mesmo tempo, um percurso ordinário de redenção a Knox – pois a possibilidade de resguardar a “sobrinha”, de alguma forma, pode aliviar o peso de sua consciência –, e incorre numa observação social completamente rasa e até irresponsável. Embora tente fazer um mea culpa na cena em que Faisal (Amit Shah), o sidekick, sofre preconceito da inglesa, bem como na brincadeira que esse personagem de ascendência árabe faz para preservar a integridade física dos torcedores, o longa-metragem promove um desenho tipificado dos russos, não apenas dos sujeitos armados que tomam de assalto o estádio, mas até os torcedores do Dynamo, vistos como meros bárbaros.

Refém do Jogo, a reboque dessa concepção restrita e torpe, apresenta um percurso dramaticamente tolo, com questões como a necessidade de salvaguardar a pele de entes queridos sobrepujando discussões brevemente levantadas sobre os sacrifícios ocasionais de uns para a preservação da vida de tantos. Pierce Brosnan, intérprete de um exilado com consciência da importância de sua “morte” para a manutenção do povo russo em paz, se restringe a meia dúzia de palavras, não tendo considerável espaço a fim de desenvolver Dimitri para além do símbolo. Já Dave Bautista é o “gigante sensível” da vez, com disposição para proezas físicas impressionantes, como saltos, brigas intermináveis com asseclas incansáveis, perseguições de motocicleta nos corredores estreitos do estádio, igualmente encarregado de oferecer alguma espessura ao protagonista decalcado de tantos. Seu trabalho é correto, não comprometendo, mas tampouco se destacando positivamente.

Para uma melhor fruição de Refém do Jogo recomenda-se condescendência com determinadas inconsistências da trama, bem como vistas grossas às incongruências da lógica interna. Estamos diante de um exemplar genérico de ação, que utiliza o pano de fundo político como uma desculpa esfarrapada para gerar instantes supostamente eletrizantes. Scott Mann não consegue criar sequências de tensão genuína e muito menos substanciar o drama do protagonista. Ele chega a ensaiar um paralelo entre a correria dos bastidores e a emoção do jogo disputado nas quatro linhas, obviamente relacionando Knox e West Ham, bandidos e Dynamo. Todavia, nem isso decola como um procedimento de valor, permanecendo no incômodo terreno das obviedades que, então, se avolumam até tornar a produção um mero espetáculo tedioso, repleto de convenções e com pouco estofo para impactar de forma duradora. É um filme que simplesmente transcorre sem deixar rastros efetivos, no qual nem a pancadaria é empolgante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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