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Onde Assistir

Sinopse

A equipe de Resgate Júnior vai ter de enfrentar uma missão para lá de insólita: representar os Estados Unidos no campeonato mundial da modalidade. No entanto, eles têm apenas quatro dias para se preparar e encarar times tarimbados. Serão eles capazes de salvar o dia, mais uma vez?

Crítica

Sequência direta de Resgate em Malibu (2019) e da série homônima igualmente lançada pela Netflix no mesmo ano, Resgate em Malibu: A Próxima Onda é uma aventura infanto-juvenil que pode ser definida como uma improvável mistura entre S.O.S Malibu (1989) e ICarly (2007-2012), com predominância do DNA narrativo dos produtos televisivos/cinematográficos que mesclam inocência abobalhada e humor esganiçado. A receita soa estranha? Pois de fato ela é. A trama se passa na praia de Malibu, onde acontece uma espécie de campeonato mundial de equipes infanto-juvenis de salva-vidas (?). Os Estados Unidos estão na iminência de garantir a sua quinta vitória consecutiva, mas temem pela qualidade do forte grupo vindo da Austrália. Os protagonistas não fariam parte da competição sem o envenenamento pseudo-acidental de seus compatriotas, mas são obrigados a defender o título. A cena dos atletas comendo a salada de repolho estragada, como se enfeitiçados ou apalermados por uma substância irresistível, bem como a dos cinco marmanjos se contorcendo nos banheiros químicos ao som de flatulências estridentes e com caras de sofrimento, dá o tom da fatura.

Obviamente é preciso levar em conta que Resgate em Malibu: A Próxima Onda é feito para uma plateia jovem, quiçá menos afeita a complexidades e afins. Problemático é que o longa dirigido (ou melhor seria dizer “cometido”?) por Savage Steve Holland está longe de entender seu público-alvo como capaz de lidar com sutilezas e algo que não seja um festival de caras e bocas e reafirmações para evitar dúvidas. Se um personagem está se afogando, imediatamente alguém diz: “olhem, fulano está se afogando”, como se algum problema cognitivo impedisse a leitura da imagem que obviamente mostra o afogamento. Os interlocutores, assim como o espectador, são tratados como incapazes de juntar Lé com Cré. Também é preciso fazer uma vista grossa de proporções gigantescas para dar de ombros frente a certas incongruências, como a célere repercussão no jornal do feito que aconteceu há menos de 20 minutos. Das duas uma: ou a cadeia da reportagem impressa dos Estados Unidos é a mais ágil do mundo ou realmente a coerência foi para o brejo.

É preciso suspender a descrença para assistir sem sobressaltos intermitentes a Resgate em Malibu: A Próxima Onda. Na história, se a nova equipe norte-americana de Resgate Júnior (?) não vencer outra vez a disputa, toda a atividade vai ser definitivamente encerrada. Mas, Savage Steve Holland sublinha essa necessidade de sobressair sempre, o que em outras obras pode ser visto com contornos críticos? Claro que não. O cineasta está mais preocupado em delinear o cenário propício à lição de moral superficial, em meio à qual até os antagonistas, que pareciam saídos de um desenho animado ruim, se redimem e aplaudem a vitória dos que demonstram bom coração (que fofos). O filme é demasiadamente refém dessa mensagem que precisa ser burilada frequentemente e de modo grosseiro. Simultaneamente, há o romance mequetrefe entre os aspirantes a bonitinho e bonitinha da vez e a dinâmica sem graça que mostra ao já constituído casal de pré-adolescentes que o zelo em excesso pode ser problemático. É óbvio que tudo vai acabar bem. Nos resta somente saber como.

Na coleção de figuras descartáveis de Resgate em Malibu: A Próxima Onda, a principal é o treinador que terceiriza a capacitação em tempo recorde dos pré-adolescentes. Estes precisam municiar-se de suas mais escancaradas qualidades para salvar o dia novamente. Há ainda uma daquelas trilhas sonoras irritantes, típicas das produções congêneres, com a predominância de acordes estridentes de uma guitarrinha safada que visa apontar ao dado “radical” da aventura. Savage Steve Holland empilha circunstâncias simplórias, sequer conseguindo extrair humor da situação protagonizada pelo boneco que substitui o aluno de artes, a única boa ideia que o filme apresenta. No que diz respeito à estrutura narrativa, o longa se assemelha a um episódio estendido da série, vide a lógica da missão a ser cumprida e as subtramas para estofar o conjunto a fim dele extrapolar uma hora de duração. Além disso tudo, a patriotada barata sustentando o óbvio resultado dos novatos. Então quer dizer que, de todas as 20 nações competidoras, apenas uma seria capaz de encarar o time cuja preparação se resumiu a quatro dias de mais desencontros do que condicionamento? Haja complacência.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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