Crítica
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Sinopse
Crítica
Um dos grandes clássicos da literatura de todos os tempos, A Odisseia, de Homero, narra a volta do herói Ulisses até a ilha de Ítaca, na Grécia, onde sua esposa o espera a mais de uma década. O texto fala de uma jornada longa, porém repleta de aventuras, plena de conhecimento, e que suas riquezas não estão nela, e sim na bela viagem empreendida até ela. “Sem Ítaca, você jamais teria partido. Ela já lhe deu tudo, e nada mais pode lhe dar”, afirma em certo ponto. Quem é familiarizado com essa narrativa, não deve estranhar por completo o enredo de Retorno a Ítaca, longa dirigido pelo francês Laurent Cantet, porém totalmente ambientado em Cuba, a última das ilhas nos tempos modernos a insistir em um ideal que, como os anos mostraram, era apenas utópico.
Assim como no seu trabalho mais premiado, o excepcional Entre os Muros da Escola (2008) – vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado ao Oscar – Cantet nos conta muito em Retorno a Ítaca dispondo de recursos limitados. São apenas cinco atores, um único ambiente, e muita conversa na maior parte do tempo. Há uma ou outra participação especial, mudanças rápidas de cenário, porém logo se volta ao foco principal: o terraço de um edifício em Havana, onde quatro amigos se reuniram para rever Amadeo (Néstor Jiménez), que voltou de Madri após dezesseis anos no exílio. O motivo é de alegria, felicidade no reencontro. As saudades, porém, logo são substituídas por recordações amargas, tristezas há muito abafadas e decepções que precisam ser compartilhadas para, enfim, serem exorcizadas. E somente os membros deste grupo podem fazer o necessário, uns pelos outros.
Tanía (Isabel Santos) é uma oftalmologista que sobrevive do que recebe de seus pacientes em troca pelas consultas, como um pedaço de queijo ou uma galinha. Sozinha, foi abandonada pelos filhos, que preferiram partir com o pai para Miami. Rafa (Fernando Hechavarria) é um pintor frustrado, que já teve suas obras expostas em Paris e Nova York, mas abafou tanto suas ambições que hoje afirma ser capaz apenas de “sujar telas em branco por alguns trocados”. Aldo (Pedro Julio Díaz Ferran) é um engenheiro que precisa viver com a mãe, após ter sido deixado pela esposa, e hoje mal se mantém em uma oficina. E Eddy (Jorge Perugorría, de 7 Dias em Havana, 2012) aparenta ser o que deu certo, mas de fato é um escritor que esqueceu seu sonho e hoje comanda uma empresa de fachada, pois corre o risco de ir à bancarrota após uma auditoria federal. Os quatro, bem ou mal, ficaram e se ressentem, lá no fundo, da partida do amigo, que fugiu para a Europa em busca de uma vida melhor. Mas seriam mesmo esses os fatos?
É interessante perceber como o diretor Cantet arma sua câmera. A Cuba que vemos está longe, vista apenas do alto do prédio, e mesmo que os cortiços estejam ao redor e os gritos e discussões dos passantes e vizinhos sejam audíveis, soam quase como intocáveis. Sobre o que fala, portanto, Retorno a Ítaca? De uma luta perdida, de um mundo que ficou para trás ou de jovens que envelheceram e, no processo, perderam a ternura de como viam a vida? O roteiro, inteligente e muito bem construído, cai em sua própria armadilha apenas no final, quando é vencido por uma necessidade dispensável de explicar todas as dúvidas em seus mais irrelevantes pormenores. Os cinco, de cima de tudo, viram a falência de suas ambições e o recomeço de uma realidade que talvez julguem não lhes pertencer, mas a qual inexoravelmente fazer parte. É a hora de levantar a cabeça, sacodir a poeira e seguirem em frente. Queiram ou não, agora este é o único caminho possível.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Alysson Oliveira | 8 |
Chico Fireman | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
Suas críticas são boas, mas escreve tão mal.....errinhos primários.