Crítica


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Sinopse

Jovem de 16 anos, Lina mora numa região duramente atacada por Stalin, então aliado à Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. As tropas do mandatário ocuparam sua região e milhares de famílias foram declaradas inimigas, condenadas a campos de concentração na Sibéria.

Crítica

Maior bilheteria de todos os tempos na Lituânia, Retratos de uma Guerra é o tipo de filme que só encontra ressonância entre os muito ligados ao episódio que se propõe a retratar. Para todos os demais, o longa dirigido por Marius A. Markevicius acaba por soar tão genérico quanto qualquer outra adaptação de um drama de guerra, que em meio a tantos horrores se esforça para encontrar alguma beleza através de detalhes mais sutis, como o apreço da protagonista pela arte de desenhar – daí os tais ‘retratos’ do título em português. Assim como essa ligação se revela óbvia e nada sutil, assim também são os desdobramentos de uma história trágica na sua singularidade, mas incapaz de se diferenciar diante tantas outras similares que o cinema já se ocupou em destacar ao longo do último século. Enfim, é uma produção apenas correta, que não ousa ir além do proposto, da mesma forma como se contenta em somente executar o que dela se poderia esperar.

Produtor de filmes de razoável eficiência, como o ambicioso Caminhos da Liberdade (2010) e o romântico Loucamente Apaixonados (2011), Markevicius estreia como realizador com um drama bastante protocolar, que busca ilustrar do modo mais didático possível os eventos que se passaram com a jovem Lina (Bel Powley, vista na série The Morning Show, 2019) no início dos anos 1940. Ao contrário do que foi divulgado pela sinopse oficial, não se trata de mais um caso de uma população europeia obrigada a lidar com o avanço dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Ainda que o que se vê em cena seja consequência das ações do governo alemão, as violências e agressões aqui perpetradas não são executadas diretamente por eles, mas, sim, por aqueles influenciados pela ascensão do Eixo. E quando os grandes se estranham, sabe-se bem que são os pequenos os primeiros a sofrer.

Pois bem, enquanto a Alemanha tomava conta da Europa, aqueles no leste do continente se viram sem ter para onde correr, pois se de um lado estavam os inimigos declarados, do outro vieram aqueles que, ao se aproveitarem da situação, também se propuseram a tirar a vantagem que acreditavam lhes ser devida. São os russos, portanto, os responsáveis pelos infortúnios vividos pela família de Lina e seus vizinhos, que terminam por ser capturados e enviados à Sibéria para trabalhos forçados durante a guerra. Lá, é evidente que muitos não irão sobreviver, seja pelas condições adversas da natureza, em meio a um inverno constante de uma das regiões mais gélidas do planeta, como também pelo modo como são tratados pelos oficiais no comando. E enquanto a maioria vai sofrendo, a protagonista encontra um meio de escapar das agruras que enfrenta diariamente nos poucos momentos em que se ocupa desenhando as tantas imagens que povoam sua mente.

Pois bem, será esse talento insuspeito que irá lhe garantir não apenas uma melhor situação no meio dentre tantos outros menos afortunados, como também acabará por proporcionar o registro no qual o filme se baseia. Lina cai nas graças de um dos generais, que ambiciona se ver retratado pelo traço da artista amadora. É a vaidade que o move, assim como o desejo de eternizar sua presença pelo retrato no qual sonha se reconhecer. Nesse momento, a narrativa deixa de lado qualquer sutileza – é difícil imaginar que alguém consiga manter tamanha ousadia e convicção num contexto no qual muitos eram mortos por muito menos, como roubar uma beterraba na hora da colheita – e deixa claro para qual lado está jogando: a busca é pela emoção imediata da audiência, e não para um reflexo mais acurado do que pode ter se passado neste episódio.

Interpretada de forma hesitante por Powley, que parece não se decidir entre a determinação de superar as adversidades ou o temor de perder o pouco que consegue manter consigo, Lina é uma figura que na maior parte do tempo não permite uma maior conexão com o espectador, justamente pela inconstância de suas decisões. Assim, Retratos de uma Guerra perde a oportunidade de se diferenciar dentre tantas produções similares, contentando-se em percorrer caminhos já muito trilhados, como se um mérito em particular fosse suficiente para garantir uma atenção que não consegue recompensar tamanha dedicação – o que de fato, como é possível verificar, está longe de ser verdade. E quando mesmo o viés assumido se demonstra incapaz de alcançar um olhar mais pertinente, pouco irá sobrar no conjunto para validar os demais esforços reunidos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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