Crítica
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Sinopse
Depois de uma traquinagem que deu errado, três amigos de infância acabam criando o imaginário Ricky Stanicky. Anos depois, eles ainda utilizam essa entidade como álibi para justificar imaturidade. Questionados sobre Ricky, eles contratam um ator para o interpretar.
Crítica
Chega a ser triste perceber que na mesma temporada em que Zac Efron aparece como protagonista de Garra de Ferro (2003) – um filme que pode não ter funcionado de acordo com o esperado, mas que ao menos tentava algo mais profundo – ele se contente em voltar várias casas ao estrelar este Ricky Stanicky, algo tão bobo e previsível que remete o espectador a alguns dos besteiróis que costumava participar no início de sua carreira, como Namoro ou Liberdade (2014) – pela estrutura de um trio de amigos imaturos que não conseguem lidar com as consequências de suas inseguranças – ou Tirando o Atraso (2016) – pela presença de um personagem imprevisível no centro dos principais acontecimentos. Só que ao invés de Robert De Niro, o que se tem agora é John Cena, que até aparenta ser um cara divertido, mas está longe de ser um exemplo de versatilidade. Mas, enfim, ao menos no que diz respeito a Efron, nada é tão ruim que não possa piorar – seu próximo projeto é mais um remake de 3 Homens e um Bebê (1985)!
Mas a culpa maior do desastre que é Ricky Stanicky não é tanto do astro, mas, sim, do seu diretor. Vencedor de dois Oscars por um dos mais embaraçosos campeões da Academia na última décadas – Green Book: O Guia (2018), um longa que envelheceu muito mal e muito rápido – Peter Farrelly é um caso a ser estudado a respeito de como alguém pode ter desperdiçado com tamanha agilidade esse reconhecimento conferido por seus pares. Ainda que não tenha levado a estatueta de Melhor Direção (nem indicado foi) – suas vitórias foram em Filme e Roteiro Original – o responsável por sucessos duvidosos como Debi e Lóide: Dois Idiotas em Apuros (1994) e O Amor é Cego (2001) desperdiçou esse momento de ápice em sua carreira se ocupando com séries e projetos para o streaming (ou seja, segue devendo um retorno à tela grande). Mas se Operação Cerveja (2002) – feito para AppleTV+ – ao menos tinha um ponto de partida inusitado, nem isso se manteve agora. A constância, pelo jeito, está apenas no nome de Efron, mais contido e endurecido do que na parceria anterior dos dois (o que não ajuda em nada no resultado apresentado).
Assumindo um personagem criado com James Franco em mente e que, entre idas e vindas, passou pelas mãos de figuras tão distintas quanto Joaquin Phoenix, Jim Carrey e Nicolas Cage, Cena surge em cena como o tal Ricky Stanicky do título. Mas essa não é uma participação completa, e mais um processo em formação. Pois Stanicky é um nome inventado, uma figura imaginária desenvolvida por três amigos que recorrem a ela quando se metem em apuros. Se não há quem culpar, a resposta é sempre uma: foi Ricky Stanicky! Como uma brincadeira de crianças, por mais forçada que possa parecer, até poderia convencer um ou outro com maior boa vontade. No entanto, tentar empurrar essa mesma ideia entre três marmanjos que optam por abandonar suas esposas e namoradas em compromissos familiares e profissionais para seguir zoando como adolescentes inconsequentes é no mínimo implausível. Não que se exija verossimilhança de um conjunto como esse, mas um pouco de bom senso nunca fez mal a ninguém.
Farrelly é incapaz de dotar a ação que deveria coordenar de ritmo. Os três patetas centrais – interpretados por Efron preguiçoso, um deslocado Jermaine Fowler (Um Príncipe em Nova York 2, 2021) e um insuportável Andrew Santino (o típico comediante de stand up que se acha mais engraçado que qualquer outro, mas tudo que consegue oferecer é uma expressão de mau-humor) não possuem sinergia entre si, tornando árdua a tarefa de fazer do trio uma união consolidada na infância. Desse jeito, Cena não precisaria de metade do esforço que exibe – fantasias de Britney Spears e Billy Idol poderiam ter ficado de fora do cardápio – para roubar o filme para si. Como um ator desempregado e em apuros, é chamado para incorporar um Ricky Stanicky de verdade quando os mentirosos precisam apresentá-lo à família e amigos após anos de desculpas esfarrapadas e histórias exageradas (como conseguiram levar essa ilusão adiante por tanto tempo deveria ser o tecido do qual a magia do cinema é feita, mas não chega a ser o caso). O problema é que Rod Rimestead (nome real do farsante contratado) gosta do que encontra, e decide que ser Ricky Stanicky é melhor do que seu eu verdadeiro – e acaba permanecendo como tal, assumindo a identidade daquele dia em diante.
Entre piadas que simplesmente não funcionam e invariavelmente dotadas de duplo sentido (ou nem isso, assumindo um viés explícito e obsceno logo no começo), Ricky Stanicky não justifica também o envolvimento de tipos geralmente competentes, como William H. Macy (sua feição de tédio e descontentamento só pode ser explicada por dívida de jogo) ou Lex Scott Davis (Um Homem da Flórida, 2023), que no papel da namorada de Efron deixa a impressão de estar em um projeto completamente diferente, deslocada de todo o resto do elenco. Ou seja, eis aqui um erro confesso, pois não se assume como deboche (algo que Carrey teria feito com um pé nas costas) e nem demonstra coragem de ir em uma direção oposta e ainda mais absurda (o que Cage certamente faria com um sorriso no rosto). Farrelly perdeu a mão, o garoto de High School Musical não sabe mais a quem recorrer e o ex-campeão de luta livre faz mais nos dez segundos que aparece em Barbie (2023) do que aqui do início ao fim. Sem graça, sem vontade e sem novidade alguma, deveria ter ficado no limbo hollywoodiano por onde permaneceu por mais de uma década, afinal lá era, de fato, o seu lugar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Leonardo Ribeiro | 5 |
MÉDIA | 3.5 |
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