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Sinopse

Teto é filho de um empresário na cidade fluminense de Paty dos Alferes, e pensa apenas em se divertir. O pai insiste para que ele trabalhe, mas o rapaz está mais interessado em ir ao Rio de Janeiro e reencontrar uma médica que conheceu em sua festa de aniversário. Como ela nada sabe sobre seu histórico, elabora uma farsa para convencê-la que, na verdade, é pobre.

Crítica

Por mais que tenha em seu catálogo um considerável acervo de séries brasileiras, a Netflix não costuma investir tanto assim na seara dos filmes locais. Em 2020, recorde absoluto, já são dois os lançamentos: Modo Avião e Ricos de Amor. Ambos possuem uma certa semelhança, não só devido ao gênero comédia romântica mas especialmente por terem sido produzidos visando um público-alvo muito específico. No caso deste filme, os que acreditam nas benesses que o dinheiro pode trazer, especialmente em um país tão fraturado socialmente quanto o Brasil.

Assim como o recente Divórcio (2017), o foco aqui está no interior rico que gerou empresários esbanjadores, não só em dinheiro mas também em petulância - a mudança sutil está no deslocamento de São Paulo para o Rio de Janeiro, o que se traduz mais na diferença de sotaques mesmo. Entretanto, se Divórcio explorava tal retrato de forma a também criticá-lo, por vezes de forma até caricata, não é o que acontece em Ricos de Amor. Pelo contrário, há no roteiro de Bruno Garotti e Sylvio Gonçalves uma enorme condescendência acerca do "príncipe do tomate", um rapaz mimado acostumado a ter toda mulher que deseja e algum serviçal a sempre satisfazer suas vontades. Quando surge algum empecilho, ele logo saca o poder do dinheiro e compra sua vontade, tudo atenuado a partir de apostas ingênuas. "Coisa de jovem que não dá valor ao que tem, ainda mais quando tem demais", deve ter passado pela mente dos roteiristas, sem considerar a conjuntura social ao redor.

Em filmes do tipo, é natural que haja uma jornada de aprendizado em busca de uma maior conscientização acerca de sua posição na sociedade. Aqui isto até acontece, mas sempre em doses muito suavizadas de forma a jamais vilanizar o protagonista Danilo Mesquita, intérprete de Teto. Afinal de contas, ele é jovem, branco, carismático, tem pinta de galã... Seus conflitos são típicos problemas de menino rico, cuja vontade precisa ser realizada de alguma forma, mesmo que, para tanto, compre seus aliados sem a menor desfaçatez. Os apuros que se mete sempre tendem à trapalhada, buscam o cômico para fugir do confronto social, de forma a manter uma frágil pose bem intencionada que não resiste a questionamentos básicos acerca do modo como trata quem está à sua volta. Tudo extremamente superficial e benevolente.

Em parte, também devido ao esquematismo dos personagens principais. Se Mesquita interpreta o novo-rico mimado, cabe a Giovanna Lancelotti emprestar seu carisma a uma jovem médica determinada e empoderada, de forma a instaurar o contraste social e ideológico entre o casal. De longe a melhor do elenco, mesmo ela vê sua personagem sucumbir na metade final, ao aceitar tacitamente os cambalachos de Teto. Outro personagem relevante é o ingênuo e submisso Igor (Jaffar Bambirra), que aceita tacitamente todos os caprichos de seu "melhor amigo". Tudo muito simples e muito conveniente, construído de forma a valorizar um personagem torto em sua essência, como o é Teto. Mas isso, Ricos de Amor não se importa nem um pouco.

Não se importa porque este é um filme voltado para esta gente endinheirada que acredita que o mundo está sempre a lhe servir, sem questionar a ética em dopar um médico e deixá-lo ocupando o leito de um hospital ou mesmo em não denunciar de imediato uma tentativa de assédio. Tudo se ajeita, desde que lhe seja favorável. Assim caminha a humanidade.

Tecnicamente, Ricos de Amor conta com um apuro típico de novela das nove, com fotografia publicitária que, sempre que pode, explora as belezas naturais do Rio de Janeiro. Há ainda um cuidado na direção de arte e uma trilha sonora sem muita inspiração, selecionada pelo DJ Alok. Se há aqui e ali músicas eletrônicas e mais pop de forma a atrair o público jovem, o filme também não deixa de lado o sertanejo nem o funk carioca - suavizado e coreografado -, assim como a batida escolha pela bossa nova nas sequências mais românticas. Trata-se de um trabalho até correto de Alok, mas sem brilho. Perto do que o filme tem a oferecer, acaba sendo um de seus principais destaques.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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