Crítica
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Sinopse
Desde que a política brasileira foi considerada oficialmente reaberta em 1988, uma nova vertente do humor nacional começou a surgir. Utilizando-se de artifícios que por muitos anos foram proibidos, os humoristas da década de 1980 foram inspirados por ídolos que precisaram enfrentar a censura e cumpriram o difícil desafio de realizar humor em um país cuja criatividade era cerceada.
Crítica
Sequência direta de Tá Rindo de Quê? (2019), Rindo à Toa continua a análise do cenário humorístico do Brasil, partindo dos últimos momentos dos militares no poder, concentrando-se basicamente na geração que propôs novas linguagens e acompanhou as mudanças sociais e tecnológicas posteriores ao ocaso dos anos 70. Mais coeso que o filme anterior, por se permitir uma progressão retilínea que articula com qualidades diversos assuntos relacionados ao mote principal, como se uma eficiente linha do tempo, o novo longa-metragem dirigido por Claudio Manoel, Álvaro Campos e Alê Braga é, contudo, análogo ao anterior na subserviência à dinâmica das “cabeças falantes”. Ainda que haja vasto material de arquivo, que a recorrência a suportes distintos substancie o conjunto, o mais relevante advém dos testemunhos capturados numa encenação padronizada, com comediantes, atores e cantores falando apenas num cenário cada, sem quaisquer variações.
Embora do ponto de vista da linguagem Rindo à Toa seja convencional, o modo como ele articula assuntos em prol de um painel relativamente amplo é a sua grande sacada. A televisão, antes imprescindível no que tange à disseminação da comédia ao grande público, passa, nos anos 80, a ter um protagonismo ainda maior, absorvendo novidades, tais como a velocidade imposta pela chamada geração MTV, postulante da celeridade que o autor Claudio Paiva atribui às influências do surrealismo e do cinema mudo. Ainda que os realizadores não fiquem ancorados nessa potencialidade, outros segmentos apontam à relevância da experimentação de formatos arriscados em redes abertas, geralmente encabeçada pela turma que pegou o bastão daqueles fortemente emparedados pela Ditadura Civil-Militar. Incômoda é a centralização da Rede Globo como único lugar em que era possível inovar. Apenas próximo ao fim há exemplos de outra emissora importante.
Rindo à Toa, a despeito de suas fragilidades conceituais, é bem executado e conta com um bom panorama desse momento específico em que o humor se desvencilhou das amarras da censura e alçou voos ousados. Alguns dos entrevistados mencionam, inclusive, que determinados exageros acabavam sendo relevados porque, uma vez decorridos os anos de chumbo, ninguém, mesmo os que se sentiam ofendidos, queriam passar um atestado público de repressão. Certas colocações, como o vanguardismo do Armação Ilimitada (1985-1988), no qual uma mulher namorava dois surfistas, servem para estabelecer uma ponte não verbalizada com a atualidade recrudescida, em que muitos desejam cercear algo que não corresponda necessariamente aos valores da “família cristã, fundamentada na moral e nos bons costumes”. Andréa Beltrão coloca essa perspectiva em jogo ao citar como era viver na telinha essa personagem adorada pelo público que, então, não problematizava (ainda bem) o cotidiano amoroso a três, pelo contrário, porque torcia por ele.
Detendo-se bastante nos bastidores da junção dos jornais Casseta Popular e Planeta Diário, e, por conseguinte, na trupe Casseta & Planeta – compreensível, pois Claudio Manoel, um dos diretores do filme, é membro desse time que marcou época na televisão brasileira –, Rindo à Toa lança luz sobre artistas independentes que se tornaram referência em grandes empresas de mídia. Marcelo Tas, jornalista e atualmente apresentador na TV Cultura, de passagens por Bandeirantes e demais canais, comenta a originalidade de Ernesto Varela, seu repórter ficcional que filtrava a sordidez da política nacional com seu jeito inocente, tudo isso viabilizado, em parte, pela portabilidade das câmeras de vídeo. O documentário traça bons paralelos, abordando insuficientemente fenômenos como o Hermes e Renato, mas logrando êxito ao alinhavar trajetórias heterogêneas condicionadas pelas idiossincrasias de um Brasil em plenas transformações.
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