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Sinopse

Entre o condado de Nottingham e as florestas de Sherwood não há apenas lutas e disputas por poder. É neste ambiente que se passa a história do hábil arqueiro do exército do Rei Ricardo Coração de Leão, que luta contra a invasão dos franceses e se torna o legendário herói conhecido como Robin Hood. Famoso por roubar dos ricos para dar aos pobres, Robin ainda se apaixona pela bela Marian mas tem de rivalizar com o xerife de Nottingham.

Crítica

Assim como Sherlock Holmes e Jack, O Estripador, Robin Hood é um dos personagens criados pela ficção inglesa que mais vezes foram adaptados para o cinema. E após versões consagradas por Errol Flynn, Kevin Costner e até mesmo numa animação Disney, é a vez de Robin Hood chegar até nós através da visão de Ridley Scott e Russell Crowe. Só que dessa vez a mesma dupla por trás dos intensos Rede de Mentiras (2008) e O Gângster (2007) - além do leve Um Bom Ano (2006) - resolveu retomar o espírito do filme que os colocou lado a lado pela primeira vez, o oscarizado Gladiador (2000). Assim, o que temos é um Robin muito mais viril e realista, sempre envolvido em grandes cenas de ação e em feitos históricos, porém longe da lenda que nos acostumamos a ouvir. Ele ainda ‘rouba dos ricos para dar aos pobres’, mas agora isso é muito mais uma consequência do que uma meta.

Talvez o maior mérito dessa ‘reinvenção’ do mito se deva ao roteirista Brian Helgeland (vencedor do Oscar por Los Angeles: Cidade Proibida, 1997), que investe num thriller calcado em fatos verídicos, porém conduzido por um ser fictício. Hood nunca existiu, mas nessa versão ele bem que poderia ser um dos mais importantes heróis da história da Inglaterra! O enredo é construído de forma a colocá-lo em momentos relevantes na formação do povo inglês, provocando um sentimento de dúvida quando percebemos que tudo não se passa de uma fantasia. Mais ou menos como Quentin Tarantino fez em Bastardos Inglórios (2009), recriando o passado a seu modo. Mas se esse combinava ironia com sarcasmo, Scott abusa da adrenalina, deixando num segundo plano a reflexão e a discussão destas novas e possíveis repercussões.

Ridley Scott é um mestre do cinema de aventura, e isso ninguém discute. Porém seus filmes sempre ficam a um passo de se tornarem inesquecíveis. Tudo bem que ele já nos entregou o primeiro Alien: O Oitavo Passageiro (1979), Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982) e Thelma & Louise (1991), mas seu currículo apresenta também os dispensáveis Tormenta (1996), Até o Limite da Honra (1997) e Hannibal (2001), entre tantos outros. Este novo Robin Hood, no entanto, está no meio do caminho entre estes dois extremos. É um ótimo filme, tecnicamente perfeito, com excelentes intérpretes e uma direção precisa. Porém carece do mais importante: emoção. Os dois protagonistas – os fantásticos Crowe (perfeito no papel, apesar da idade) e Cate Blanchett (sempre acima da média) – mesmo com todos os méritos que apresentam, não possuem a menor química juntos. E sem acreditar no romance entre Robin e Lady Marian, o que nos resta? A luta do bom bandido em nome dos fracos, certo? Bem, aqui ele passa a maior parte do tempo lutando ao lado do Rei da Inglaterra (primeiro Ricardo, depois João), e só no final de tudo é que se torna fora-da-lei (ops! Mas isso todo mundo já sabe que, cedo ou tarde, aconteceria, não é mesmo?). Ou seja, as mudanças foram tão grandes e evidentes que tudo o que se sabe sobre Robin Hood está quase irreconhecível. É, na verdade, não uma releitura da trama que nos habituamos a conhecer, e sim um prequel, um ‘antes’.

Mas, a despeito de qualquer surpresa decepcionante, Robin Hood se firma como um dos grandes filmes desse início de ano, ao lado de obras como A Ilha do Medo (2010), de Martin Scorsese, e Alice no País das Maravilhas (2010), de Tim Burton, trabalhos que também frustram em alguns aspectos, mesmo sem deixarem de serem reconhecidos como autorais e diferenciados. São produtos cinematográficos que visam um mercado em constante atualização, que pede por novidades ao mesmo tempo em que exige visitar lugares seguros. Então, se a embalagem não surpreende, ao menos o recheio busca por um novo conteúdo. Cabe ao espectador decidir se o que encontrou está de acordo com o esperado. Talvez um pouco pra mais, ou um pouco pra menos. Mas ainda assim, é inegável o fato de que estamos tratando de um passatempo de qualidade.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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