Crítica
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Sinopse
Em Robô Selvagem, após um naufrágio, um robô inteligente chamado Roz (voz de Lupita Nyong'o) fica preso em uma ilha desabitada. Para sobreviver ao ambiente hostil, Roz se une aos animais da ilha e cuida de um ganso bebê órfão.
Crítica
Se há algo a se apontar em relação a esse filme talvez seja o título, que apesar de fazer pleno sentido – e se tratar de uma tradução literal do batismo – ao mesmo tempo é capaz de gerar uma reação adversa no seu público de maior interesse. Isso porque o termo “selvagem” pode levar a uma percepção de violência, não-civilizatório, longe dos padrões convencionais e de difícil acesso. Exatamente tudo que não se encontra em Robô Selvagem, uma animação que comove tanto pela temática percorrida, como por um traço impressionante, belo como poucas vezes visto antes. Afinal, e eis algo que merece ser ressaltado, na direção se encontra Chris Sanders, veterano do gênero, dono de três indicações ao Oscar e responsável por sucessos como Lilo & Stitch (2002) e Como Treinar o seu Dragão (2010). Aqui ele assume o mérito de investir em uma aposta inédita – trata-se da adaptação de um livro, sim, mas não de uma investida que já tenha dado certo no audiovisual, como remakes, continuações ou spin-offs – ao mesmo tempo em que parte de uma abordagem corajosa e bastante autoral, diferenciais que respondem por grande parte do mérito verificado.
Em tempos em que a robótica e a tecnologia se mostram cada vez mais presentes – há robôs substituindo até aspiradores de pó! – a protagonista de Robô Selvagem não se mostra uma figura tão improvável. Roz (voz de Lupita Nyong’o) é uma robô humanoide feita tanto para servir de companhia, como também para atender a qualquer desejo funcional do seu proprietário humano (cozinhar, limpar, pequenas tarefas domésticas etc). Só que, a despeito de seu provável destino, logo no começo da trama ela se descobre em um lugar distante daquele onde deveria ser acionada: no meio de uma floresta, onde acabou sendo colocada em funcionamento ao acaso após um acidente aéreo. Da mesma forma, outras máquinas similares caíram ao léu. A maioria terminou destruída pelo impacto da queda. Menos Roz. E sem se dar conta de onde está, tenta seguir suas orientações básicas. Ainda que tudo ao seu redor se mostre contrário a essa diretriz.
Nesse processo, uma família às avessas acaba por se formar. Em meio às suas andanças pela mata, Roz se vê diante de um ovo prestes a eclodir. De dentro dele sai um filhote de ganso, que acaba por ver nela uma presença materna. Quem a incentiva nessa percepção, e – ainda que de uma forma enviesada – decide colaborar na responsabilidade, é Astuto (Pedro Pascal), uma raposa ardilosa, mas de coração mole. Se faz necessário observar o cenário onde a trama se passa: em uma ilha, afastada de outros espaços mais movimentados. Estes três, portanto, se mostram ‘rejeitados’ pelos demais. A robô causa estranheza, o canídeo é visto com desconfiança, e a pequena ave, por não ter sido criada pelos seus, se apresenta desajeitada e insegura. A união deles, porém, irá proporcionar o que falta aos demais, como numa colcha de retalhos emocional.
Se os personagens respondem pela maior fonte de conexão com a audiência, pelo sensível – e inesperadamente profundo – desenho psicológico pelo qual são elaborados, atendendo por suas motivações e anseios, Robô Selvagem revela um ou outro tropeço na consolidação dos eventos que percorre, por meio de um roteiro não muito equilibrado. O texto de Sanders começa de forma lenta, revelando um cuidado interessante no início, dando espaço para que os personagens tanto se apresentem, como também exibam seus receios e necessidades. Uma vez consolidada a primeira reviravolta – de excluídos, os três se descobrem essenciais ao balanço daquele ecossistema – esse recurso passa a ser usado com um tanto de excesso. O terço final da história, por exemplo, apresenta tantos clímaxes que a força do primeiro é rapidamente superada pelo segundo, que antes mesmo de ser assimilado é substituído pelo próximo. Com isso, o impacto é dissipado. E o que deveria ser visto como um ponto de virada se confirma apenas como um outro gancho, seja para manter o conjunto vivo, como visando proporcionar futuros desdobramentos.
Enquanto focado na vida em natureza – praticamente não há humanos em cena – Robô Selvagem se mostra tão surpreendente, quanto deslumbrante. Lá pelas tantas – mais no terço final – a necessidade de criar uma dinâmica maniqueísta (heróis versus vilões) se instala, e com isso há um desgaste na fórmula até então perseguida. Deixando de lado esse desfecho, que parece atender mais a uma demanda corporativa e comercial e menos o desenho de uma fábula de companheirismo e confiança, o todo se eleva a um grau promissor, não apenas enquanto representante de um gênero que já experimentou dias melhores – mas que há alguns anos vem se mostrando claudicante e refém de antigas estruturas – como também em sua proposta de seduzir pela simplicidade e encantar por meio de sentimentos nobres e desejos pelos quais se é possível gerar identificação. Afinal, por muito o termo ‘humanidade’ tem sido usado para descrever gestos de bondade, compaixão e benevolência. Bonito pensar, portanto, que essa é uma percepção abrangente, indo além do homem.
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