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Sinopse

Extremamente talentoso, mas muito tímido, o pianista prodígio Reginald Dwight muda seu nome para Elton John e torna-se uma estrela da música de renome internacional durante os anos 1970, consolidando uma fama que perdura até hoje.

Crítica

Durante as filmagens de Bohemian Rhapsody (2018), o diretor Bryan Singer foi demitido da produção – faltando menos de um mês para o término dos trabalhos – e Dexter Fletcher foi chamado às pressas para que o longa fosse finalizado. Desde então, a cinebiografia de Freddie Mercury e da banda Queen ganhou 4 Oscars, 2 Globos de Ouro (inclusive o de Melhor Filme), 2 Baftas e mais de duas dezenas de condecorações ao redor do mundo, além de ter faturado mais de US$ 900 milhões nas bilheterias de todo o planeta (é o recordista no gênero). Muito se falou que todo esse sucesso se deve à intervenção de última hora de Fletcher, sem que houvesse um único agradecimento público à contribuição de Singer – que, afinal, não se trata de nenhum novato. Por regras sindicais, no entanto, apenas esse aparece creditado, enquanto que o outro surgiu como um ‘salvador anônimo’. Pois bem, meio ano se passou, e com a estreia de Rocketman teria chegado, enfim, o momento de Dexter Fletcher obter o reconhecimento merecido. No entanto, ao assistir ao filme sobre a trajetória de Elton John, é quase inevitável perceber que será esse projeto a, finalmente, fazer jus à competência de Bryan Singer, pois que falta ele faz!

É difícil não estabelecer comparações entre os dois filmes. Afinal, ambos falam de grandes astros do rock que passaram por provações bastante similares – rejeição, preconceito, popularidade absurda e os mais diversos tipos de abusos. O que diferencia Elton John de Freddie Mercury, portanto? Um fato muito simples, porém, fundamental: um sobreviveu, e o outro, não. A tragédia que determinou o fim do líder do Queen não está presente na trajetória do cantor vencedor do Oscar, do Globo de Ouro e de 5 Grammys, e muito menos o seu efeito catalisador. Qual o grande atrativo de sua história, portanto, uma vez que se assemelha a de tantos outros que saíram de condições humildes e acabaram se tornando icônicos graças a um talento nato? Muito mimimi e chororô, ao menos é o que se percebe de acordo com o roteiro de Lee Hall (Billy Elliot, 2000). A figura que oferecem aos fãs e curiosos é dada aos mais diversos ataques de estrelismo, além de ser absurdamente ingênua – a ponto de se aproximar da inverossimilhança em alguns dos seus feitos e contatos.

Elton – ou Reginald, seu nome de batismo – nunca foi uma criança pobre, nem enfrentou condições adversas na infância. Seus pais não eram os mais amorosos – o pai, ex-militar, tinha por ele pouco afeto, e deixou a família na primeira traição da esposa, enquanto que essa, se não muito carinhosa, ao menos era atenta, tanto que o encorajou a iniciar seus estudos musicais – e a juventude pode não ter sido brilhante, mas sempre houve em seu caminho oportunidades para revelar o que tinha a oferecer ao mundo. Talvez seu drama fosse a homossexualidade reprimida, mas nem essa parece ter sido um grande problema: a mãe, quando confrontada verbalmente com uma confissão, afirma já saber há anos, e os amigos deixam claro pouco se importar com sua orientação. O que lhe falta é amor? Um garoto carente, que se atirou na primeira paixão – John Reid, que viria a ser seu empresário, e pintado com ares vilanescos, quando tudo o que fez foi parte de um negócio, e um particularmente bem sucedido, pois garantiu o estrelato mundial do seu artista.

Como não poderia deixar de ser, Rocketman é composto como um grande espetáculo. Basta um mínimo de conhecimento sobre a obra e a carreira de Elton John para saber que isso seria o mínimo a se esperar de qualquer abordagem sobre sua vida. Dos figurinos espalhafatosos – recriados à precisão – a uma competente ambientação de época, este é um filme que não faz feio em transportar sua audiência aos ambientes propostos, ao mesmo tempo em que pouco oferece no sentido de ir além do esperado. São poucos os momentos que, de fato, transbordam de criatividade – como a levitação do público e do cantor, ou o balé submarino – e mesmos estes são fugazes, servindo apenas para pontuar o sentimento almejado, e não visando um efeito mais prolongado. Outros, como quando o protagonista mergulha nos seus mais recorrentes vícios, a imagem adquire tons avermelhados, sob olhares julgadores dos seus fantasmas, deixando claro o viés condenatório que é reforçado no desfecho moralista que afirma que Eltonestá sóbrio há anos” e “finalmente encontrou o amor”.

Liderada por uma atuação decente de Taron Egerton (um ator que até então havia explorado mais seu talento físico do que seu potencial dramático), a narrativa de Rocketman ganha pontos ao se focar na relação dele com o melhor amigo e parceiro artístico, o compositor Bernie Taupin (Jamie Bell, o verdadeiro destaque do elenco) e menos no envolvimento amoroso com Reid (Richard Madden, mais caricato do que nunca). Aliás, afirmar que este é um filme honesto no que diz respeito aos excessos de sexo e drogas é não mais do que uma falácia, uma vez que estes são vistos ocasionalmente, e ainda assim, sempre de modo raso – não há nudez, o casal tem apenas uma cena na cama (na qual são exibidas apenas suas silhuetas), e a cocaína e as bebidas adquirem funções meramente de decoração. Entre tantas distrações, que servem mais para um enredo expositivo e superficial – o casamento heterossexual do protagonista é abordado de modo tão leviano que chega a ser constrangedor – o que se perde é justamente a música (de onde ela vem? Quais as origens das canções mais famosas? Como lidou com os altos e baixos de sua carreira?), que serve mais a um apelo compilatório – a trilha sonora é um verdadeiro greatest hits – do que a uma real função na trama. Bonito, atraente e escandaloso na medida certa para não ofender – ou chocar - ninguém, pois tão comportado como o astro que hoje é bem casado e pai de duas lindas crianças.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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